DÊIXIS E REFERÊNCIA

DÊIXIS E REFERÊNCIA

A função referencial da linguagem permite que os falantes que possam designar objetos os quais constituem a realidade extralinguística. Deve-se lembrar que essa definição de referência nem sempre foi possível, por exemplo, na concepção reflexiva da linguagem o homem não tinha função de atuante sobre a língua, pelo contrário, a língua era vista como algo que atuava sobre o homem. Por isso, pode ser entendida como suficiente em si mesma porque já trazia os significados prontos.

O fato de Saussure ter transformado a língua em ciência foi muito importante, porém, o homem continuou fora da linguagem, porque ele priorizou o estudo da langue (língua), com o intuito de construir uma língua perfeita, e desprezou a parole (fala) porque, segundo o genebrino, não era possível sistematizá-la devido às variações que ocorrem no uso. Com isso, a língua tornou-se abstrata ao homem e fora de sua possibilidade.

Para Saussure, a língua é formada a partir de uma unidade: o signo. Este tem duas faces: o significado e o significante. O significado constitui o conceito ou a parte inteligente do signo e o significante é a parte material ou acústica. Dessa forma, quando alguém diz a palavra cavalo, esse signo é imediatamente reconhecido pelo ouvinte ao escutá-lo e forma imediatamente uma imagem mental que evoca, por exemplo, os significados ou a ideia de: animal de quatro patas usado para montarias. Porém, como essa ideia é virtual e não real, não contempla toda a categoria de cavalos. Nesse sentido, sabe-se que isso não corresponde à realidade, porque não existe só uma espécie de cavalos. A relação entre significado e significante pode ser vista no Curso de Linguística Geral.

Por causa de sua teoria do signo, Saussure sofreu pesadas críticas, especialmente de Ogden e Richardes (1956). Eles dizem que o genebrino apresentou o significado e o significante, porém faltou para que o triângulo fosse ligado o “referente ou a coisa” que permitiria uma estreita ligação da língua com a realidade extralinguística.

A ligação significante, significado e o referente ou a coisa possibilita agora poder visualizar o objeto no mundo. Mas será que existe uma maneira estanque de se pensar um objeto? Outro estudioso pioneiro no estudo da referência apresentado por Lahud (1979) foi Frege, que ajudou a esclarecer essa incógnita. Em seus estudos, o Lógico separou sentido e referência, mostrando que um objeto disposto no mundo pode ter mais de um referente. Isso pode ser observado claramente em seu célebre exemplo da estrela da manhã e da estrela da tarde. Pela manhã, os gregos visualizavam no céu a estrela da manhã, e ao entardecer a estrela da tarde, porém, não sabiam que se tratava do planeta Vênus. Mais tarde foi feita uma descoberta astronômica e isso pode ser constatado. Pode-se ver com isso, que o planeta era um referente visualizado por eles de perspectivas diferentes. Assim, tão logo foi feita a descoberta a estrela passou a ser vista com outra perspectiva. Com a observação dessas particularidades, o lógico concluiu que um referente pode ter diversos sentidos, dependendo das circunstâncias de como é visto. Segundo Oliveira (2003) a descoberta de Frege é importante porque com a divisão sentido/referente, pode- se encontrar dois caminhos que permitirão expressar o mesmo objeto, e quando isso acontece algo novo é aprendido sobre o mundo.

Algo que não foi dito ainda é a relação existente entre dêixis e referência. A dêixis é uma das formas que os falantes têm de referenciar algo, assim como os nomes próprios e as descrições definidas . Nota-se que, para Saussure, o referente não era algo da realidade, mas virtual e se dava pela oposição “positivo/negativo” como cachorro é pejorativo a cão, (cf. Ducrot e Todorov, 2001). Dessa forma, os dêiticos ficavam com a mera função de substituir pessoa ou coisa. Porém, se o referente está no mundo, isso possibilita o falante apontá-lo na realidade concreta de fala, visualizando-o nas diversas perspectivas que ele apresenta. Nesse sentido, os dêiticos ganham grande importância, porque já que Frege com seu estudo inaugurou um mundo cujos objetos ganham diversos sentidos, o sentido dos dêiticos se opõe a essa pluralidade de significados, uma vez que eles têm o sentido constante mudando apenas de referente quando são usados. Com essa particularidade que os difere em relação a outras palavras, os dêiticos ganham grande precisão no processo de referencia.

Referências

DUCROT E TODOROV. Dicionário enciclopédico das ciências da linguagem. São Paulo: Perspectiva, 2001.

LAHUD, Michel. A propósito da noção de dêixis. São Paulo: Ática, 1979.

OLIVEIRA, R. P. Semântica. In.: MUSSALIM, F.; BENTES, A. C. (org’s) Introdução à linguística II. São Paulo: Ed Cortez, 2003, p. 17-46.

SAUSSURE, F. Curso de Linguística Geral. São Paulo: Cultrix, 1975.