AMAR PARA DESARMAR

Uma das nossas recentes questões sociais que volta à tona das discussões políticas e jurídicas a partir de, infelizmente, mais uma recente tragédia social, a do Realengo, é a questão do desarmamento da sociedade civil.

Nos últimos dias voltamos à história do nosso referendo de dois mil e cinco aonde a população optou pelo não desarmamento, e há quem ainda acredite que a solução para a nossa violência desenfreada está na convocação dum novo referendo.

É inacreditável, a meu ver, como as questões por aqui são conduzidas de modo a desviar a nossa atenção para o cerne dos nossos graves problemas sociais...de toda sorte.

Somos uma sociedade predestinada a tampar o sol com a peneira das soluções políticas improvisadas, bem como a construir imensos castelos de areia nas tão fugazes praias dos sonhos.

Obviamente que a tragédia do realengo, um acontecimento pontual no "modus operandis" da criminologia não tem sua gênese simplista apenas na possibilidade do armamento ou não do cidadão civil.

A bem da verdade o criminoso "geneticamente determinado" sempre está inserido num meio social que não deveria negligenciar seu desenvolvimento periculoso para a sociedade que o rodeia.

Fato é que estamos numa sociedade armada , não apenas com armas físicas, mas armada com o triste desarmamento das nobres armas de contenção social, como por exemplo, a educação.

Nosso circo e nosso paternalismo político já não são suficientes para amortecer nossas potenciais tragédias desencadeadas por tantas mazelas sociais de cronicidade endêmica.

Grande parte da nossa infância está abandonada, qualificada apenas por números de acessos aos instrumentos sociais que sequer traduzem claramente a qualidade tão precária da nossa socialização.

Há que se desarmar o poder paralelo seja ele qual for, ao mesmo tempo que se fazem necessáriaa "armas" potentes de acolhimento social, ato que passa pela séria vontade política.

A violência que vivemos atualmente é um fenômeno social em nítido crescimento acelerado, fora de controle a olhos vistos DO POVO, de alta complexidade sociológica e não será resolvida apenas com o olhar focado pelos cabestros políticos de única direção.

Se entedermos que a definição de ÉTICA, em suma, passa primordialmente pela definição de Amor "sensu lato", poderemos deduzir que nossa violência tem um alicerce desnudo de Ética Política para a solução dos TANTOS conflitos que nos afligem, bem com para a boa formação do contingente social.

"Amar o povo!" , e não riam de mim!

Seria uma maneira poética, mas efetiva e afetiva, de começarmos a solucionar nosso caos como se vislumbrássemos uma pequena luz do fim dum túnel histórico.

Acorda Brasil. Que haja mais compromisso!

A arma mais mortífera é a da negligência social omissa, para ser bem redundante, tanto quanto a violência que nos assola a cada esquina, nem sempre empunhando armas visíveis aos nossos tão curtos e ingênuos olhos de cidadão.

Ainda que acreditemos que nossa cidadania não é fantasia.