O Tempo Que Escapa

Falar sobre o tema tempo parece algo enfadonho, tanto já se escreveu a respeito. Mas não se pode esquecer, que o tema é tão abrangente que parece inesgotável sua exposição, assim como tantos outros conceitos que sofrem o efeito de uma hermenêutica.

Para começar a tratar do assunto, aqui poderia ser exposta uma das diversas formas de captação de uma temporalidade, o que constituiria uma tentativa de apreensão do objeto tempo. Passaríamos desde os escritos de filósofos gregos da pré, per, e pró socratismo. Chegaríamos inclusive ao Einstein e todos os estudo de relatividade acerca desse mesmo fenômeno.

Mesmo quando falamos a respeito do não captável, nomes de peso como Martin Heidegger, tratam do tema em seu "Ser e Tempo", apresentando o fator fugidio à nossa compreensão acerca de uma possível apreensão temporal. No máximo relagados a resquícios de temporalidades manifestas por "pistas" deixadas dentro de uma determinada circunstância.

Mas quando paramos para pensar na quantificação temporalizada, nos nossos relógios demarcando o objeto-temporal, nos deparamos com uma dúvida patente. Pois, ao fracionarmos o tempo, começamos estabelcendo horas, minutos, segundos, milésimos de segundo e dedutivamente chegaríamos ao infinito em quantificações decrescentes.

Quando nos deparamos um exercício de traçar uma reta e enumerar, ao atingirmos determinado ponto, os números não deixam de existir, apenas são atribuídos a eles um fator negativo que demarca a transição entre o antes e depois do zero. Reduzir o tempo matemáticamente faria entrarmos no âmbito negativo dessa quantificação, o que remeteria a uma outra temporalidade, ou mesmo uma temporalização em contraposição à vigente.

O que significaria mencionar que o tempo possui em igual medida, um não-tempo, fator que sobrepõe um outro plano ao nosso temporalizado, sobreposição de duas dimensões que agem em confluência. Se ocorre-se uma dobra, uma curvatura dessa reta ficional citada acima, teríamos duas camadas alinhadas, uma em ordem positiva e outra negativa, uma espécie de zoroastrismo-temporal.

A relativização poderia ser até certo imaginada como entrecruzamento entre essas duas dimensões, onde o sentido de que algo passou rápido equivaleria à passagem ao pólo negativo, criando o abrupto sentido de perda, já o aumento sentido estaria relacionado a um hiper-positivo. Como isso se dá?

Conforme a lógica descrita até aqui, existe uma igual proporção quantificada do tempo, que se desdobra em planos sobrepostos de negativo e positivo. Quando ocorre o entrecruzamento, exemplificando da forma mais simples, as temporalidades percebidas se embaralham, um cede ao outro naquele instante conforme a disposição que os laços se embolaram. Logo, o sujeito com hiper-positivo, recebeu uma carga extra de algum outro positivo que havia se desdobrado por conta de um negativo, pois não existe a união dos pólos. O sujeito que sente o negativo exclui uma parte de seu positivo para isso, mas essa exclusão remete a parte excedente a um outro que sofre também o processo de dobra.

Tais temporalidades são manifestadas num movimento que compõe o zero temporal, que seria o marco imutável e intransponível em meio aos lados opostos, seria o verdadeiro equilíbrio, ou seja, o máximo de tensão entre opostos, conforme palavras de Artur da Távola. Ao mesmo tempo atende o sentido heraclitiano de forças em atrito que provocam a transformação, mas que não ocorre dispersão total pelo centro magnético denominado Tempo-Zero.

Muitas perguntas surgem a respeito de como se dá tal função, sobre de que modo se dá essa dobra, positivo e negativo ocupam cada um qual espaço em específico? São muitos questionamentos como tantos outros a serem elucidados, resta saber o grau de interação mundana, pensando em mundo como uma relação macro entre tudo que há no plano denominado matéria. Por outro lado os fatores que agem em relação ao material existente, a negação do príncipio positivo ou anti-matéria.

Fechando com as percepções de David Hume, todo fator afirmado tem na mesma medida de constatação sua negação, ainda citando um exemplo dentro do exposto até aqui, para cada movimento existe na mesma proporoção um não-movimento equivalente, somente a junção de ambos possibilita a concretização do que compreendemos existir. Isso, que parece algo aparentemente simples, possui no âmago do argumento algo muito mais melindroso. Pode-se dizer que se existe a constatação de um deus, existe a mesma proporção em constatar a não-existência do mesmo. Um deus só existe em conformidade com seu anti-deus, nas palavras dos antigos Vedas, o Tudo e o Nada.