DA TRISTEZA

DA TRISTEZA – distância! Tristeza é o sentimento que se nos apossa num crescendo que acompanha a distância entre o que queremos, o que presumimos, o que nos é comprometido e o que temos, o que constatamos, o que percebemos! A tristeza é a medida da frustração, do decepcionar-se e do não alcançar! Tristeza é, portanto, tempo e espaço

Tristeza é o tempo a maior dos nossos planos e dos feitos dos nossos esforços. É não ter no tempo que expectamos o que nos esforçamos para construir ou adquirir neste tempo. É o bem que não chega quando já devia estar aqui. É o carinho que não veio com a mão que namoramos. É a carta expressa que ficou retida por endereçamento incorreto ou por desvio nos tropeços e trajetos até nós! Tristeza é o filho que se distanciou dos nossos projetos de perpetuidade, de continuidade do nós, ainda que realizado o seu eu! É o procriar que não aconteceu no momento do cume do nosso projeto biológico ou é a cria que não mostrou o desenho que conhecíamos como dos nossos gens! É a alma que, dispersa no seu etéreo, não está no nosso, no nosso tempo!

Tristeza é o espaço entre o onde estamos e o onde queríamos estar ou o aonde pensávamos estar indo! É a distância infinita do que ou de quem, estando ao nosso lado e junto a nós, não está conosco! É o astronômico que nossa luz percorre em séculos ou milênios transcorridos em dias ou anos! Tristeza é o longo caminho que meus passos palmilham buscando a mim em mim mesmo, sem me encontrar!

Tristeza é a espera do sinal. É a contagem de cada instante em que ele não se anuncia, em que não o vejo ou, vendo-o, não o identifico como o imaginei, planejei, concertei! Tristeza é também a ausência de algo, alguém que aqui, lá ou acolá deveria estar. É pior! É saber que o lugar buscado é o vazio que não consenti, não admiti!

Mas, tristeza também é oportunidade! De rever minhas escalas e projeções. De reestudar a geometria, a métrica e a temporalidade dos meus desejos. De repensar lugares, construções de sentimentos, modulação de sentires, posições do meu eu e do outro ou do quê! Tristeza é oportunidade de priorizar encontros, vetores de busca e percepções de tempo e espaço! É a chance de se apreender a força e o peso do possível ...e do impossível. Até do impensável!

Tristeza é o achado e convite da reflexão! É o meu momento que me posso dar e partilhar ...com a minha solidão! Tornando-as criadoras de um novo eu, de um novo quero, de um novo alvo!

De um novo tempo para novos tempos! De um novo espaço para novos espaços!

[Quinta feira, 04/05/2006 – 21:31h]