Vida – nossa bagagem

Tenho brincado de dar sumiço em algumas pessoas que não entendo mais. Talvez como uma maneira de diminuir o peso que, muitas vezes, carregamos de ter se aproximado de alguém. Isso é um erro, sim, mas quem não erra? Quando viajamos colocamos na bagagem dezenas de coisas que, com certeza, vamos usar muito. Opa, mas espera aí. Será que usamos tudo? Ou será que a nossa mala ou mochila não fica pesada demais para carregar, até que a gente perceba, o tanto de coisas desnecessárias. Assim são as pessoas. As da família já estão na nossa bagagem sem que a gente escolha. É bom, não é? Ou seria melhor delinear os limites que cada um ocupa na nossa bagagem?

Quando falo de bagagem, comparo a nossa vida, não somente a bagagem de conhecimentos, mas às pessoas que temos para carregar. E lógico, que estamos nós, ali quietinhos, ocupando também, a bagagem de alguém. Ou seja, há duas dinâmicas: na primeira somos bagagem e, na segunda, carregamos, colocamos pessoas na nossa vida. Mas sabe qual a grande diferença disso tudo com aqueles objetos empacotados ou postos em mala e baús? As pessoas não são objetos que pomos e tiramos da nossa bagagem facilmente. Puxa, não sei o que é mais difícil: colocar alguém que não quer; ou tirar alguém dali, daquele cantinho bem aconchegante, mas que não sai nem que a “vaca tussa”.

Bem, chegando a uma conclusão aprendida ou apreendida com o tempo, descobri que chega um momento da vida em que a gente sabe direitinho ou, pelo menos, tem mais astúcia para entender o porquê daquele sujeito ou daquela mocinha está no meio da nossa “bagagem vida”. Esse é um processo de análise, ou seja, tem suas vantagens pensar nisso, mas às vezes, é extremamente doloroso descobrir essas razões e isso vai colocar sua vida de cabeça para baixo. Você agora é um ser astucioso, estratégico, político, como dizem os estadistas. Não importa! Você agora é um cara exigente, crítico, que oscila entre o romantismo de uma amizade impensada e a habilidade de escolher, bem antes, quem vai compor sua bagagem.

Entre todos os motivos que nos fazem olhar para o lado no meio social, temos como principal a necessidade de interação. Dela, advêm desejos sonsos, inteiros, “desejos metades”, preguiças, dificuldades mal resolvidas, amor, paixão, admiração, espelhamento, interesse sexual picante, interesse sexual de desespero, conveniência de conforto, lucro financeiro, vantagens cotidianas, afinidades atrativas, simpatia, raiva reprimida de alguém parecido, vantagem política, atração física, vontade de levar para casa, vontade de aprender. Enfim, esses são apenas alguns dos motivos que nos fazem abrir nossa vida para colocar alguém dentro dela.

Então, agora gosto de brincar de descobertas e incito todos a participarem. Cada pessoa está na nossa vida por algum motivo. Que tal qualificar, quantificar, deflagrar, impactar? Que tal saber, que diabos você está fazendo, insistindo em ficar criando peso na bagagem de alguém que cansou de carregá-lo? Que tal você saber, que infelizmente, carregamos pesos que não queremos mais há muito e que não temos coragem de se livrar? Como disse, tenho brincado de dar sumiço nessas pessoas. O mundo está cheinho delas. De pessoas que sempre nos ligam pelos mesmos motivos, ou apenas quando precisam de nós. Nunca para perguntarem o que estamos precisando. Geralmente não darão tempo para isso.

Descubra também, o que você está fazendo na bagagem de algumas pessoas. Está ali por quê? Não estou querendo criar um arrebatamento de violentas decisões que vão eliminar pessoas da vida de ninguém. Mas, com o passar do tempo, quando vamos ficamos mais adultos, sabemos separar bem o compartimento da nossa bagagem. Essa poderia ser sua bagagem. Veja um exemplo:

Pessoas que servem para baladas

Pessoas que admiro e são como espelho para mim

Pessoas que tem interesses impróprios

Pessoas cansativas e que insistem em está aqui na minha bagagem

Pessoas que se lembram de mim quando estão sozinhas

Pessoas que gosto de ficar junto sempre

Pessoas que eu carrego, mas estão quase saindo daqui

Pessoas que não sei por que estão aqui

Pessoas que só pedem favor

Pessoas que amo de verdade

Parentes

Pessoas que me ajudam emocionalmente

Pessoas que me fazem favor

Pessoas que querem transar comigo

Pessoas que me fazem crescer na vida

Pessoas que me ajudam

Pessoas que não gosto, mas que não tenho coragem de tirar da bagagem

Pessoas que me ensinam com as suas experiências

Pessoas perdidas que acharam um canto aqui por enquanto

Pessoas que quero transar

Pessoas de ocupação provisória

Pessoas que gosto de ajudar

Pessoas que eu retirei de forma estratégica e consciente

Pessoas que construí um relacionamento forte e maduro.

E então, como está sua brincadeira de “bagagem vida”? Acho muito importante que possamos desenvolver quando adultos a capacidade de ter o compartimento “pessoas que eu retirei de forma estratégica e consciente”. Muitas vezes, essas pessoas, nos fazem submergir. Adentram no nosso mundo e de repente, estão ali, tirando nosso sono, insistindo em ficar ou nos carregar para dentro de suas neuroses.

De todas as formas, são pessoas que querem uma coisa que não podemos oferecer, ou que mesmo que podemos, não queremos por algum motivo ou não conseguimos. É importante que tenhamos coragem de retirá-las de nossa bagagem sem sentimentos de culpa e remorso. É mais importante, ainda, que elas não saibam nunca que foram retiradas, pois o estrategista não é informante de sua habilidade de manejo sobre a própria a vida. Por isso seja discreto e se preciso disfarce seu objetivo.

Parece egoísta isso? Não é. Pois estão ali nos diversos compartimentos, as pessoas que você tem que conviver. Temos espaço para todos e alguns espaços podem mudar, algumas outras dezenas de razões podem existir, pois é apenas um exemplo. Cada pessoa sabe que tipo de bagagem carrega, mas muitas vezes não sabem por que estão ali, repetindo no erro de estar com alguém, de carregar tanto peso quando não deveriam. Cada pessoa sabe quem deve e quem aguenta carregar na bagagem. Existem pessoas que ocupam mais de um compartimento e isso e muito bom, desde que não sejam apenas compartimentos inadequados.

É preciso, ainda, tomar muito cuidado para não tirar as pessoas certas que, momentaneamente, ocupam espaços demais ou um espaço destituído de mérito. Pense se aquele não é apenas um momento e não confunda “estar” com “ser”, pois as pessoas mudam e podem bagunçar nossa bagagem apenas porque estão em crise. Nesse, caso é bom esperar e até, talvez, dar mais uma chance, enquanto a tempestade dela não passa.

Enfim, as pessoas estão em todos os lugares, mas não são apenas pessoas eternas que nos fazem felizes. Nossa bagagem é dinâmica. Ninguém é eterno e todos vão passar. Caso você fique nesse mundo mais tempo, lembre-se também da natureza, dos animais, do vento, da beleza do céu, das águas e dádivas do universo que complementam nossa auto-realização. Assistam ao filme “Na natureza selvagem” e entenderão o que estou dizendo.

Lembre-se também de escrever poesias, ouvir músicas, leia mais de 30 livros todo ano, pinte quadros, veja filmes que acrescentam alguma coisa, respeite muito as pessoas que você não conhece, os mais pobres que você, os idosos, os doentes. Faça relaxamento, brinque com crianças, respeite toda forma de vida, coma menos carne, pois, em último caso, só terá o direito de fazer mal a você mesmo, como encher a cara quando se sentir vazio.

Lembre-se, por fim, da finitude, de buscar questões complexas para as explicações da vida. Essas questões existenciais sempre deixam lacunas. Questione tudo, questione as religiões, questione as pessoas, mas antes, ouça muito todas elas. Saiba que em todos os lugares as pessoas e seus desejos são muito parecidos. Abrace bastante, beije e dance sozinho. Brinque, cante, não se prenda a ninguém com exclusividade e nunca fale que nenhuma pessoa é a sua Vida, pois a vida é intensa demais e o seu mistério é o que supera e cura qualquer solidão.

“Solidão é a carência de si mesmo”

(Fábio Soares Alvino – 2010)

Fábio Alvino
Enviado por Fábio Alvino em 12/05/2011
Reeditado em 12/05/2011
Código do texto: T2966210
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