Vida por vidas

Às vezes fico pensando sobre a interdependência entre os seres na natureza. Fazemos parte da natureza também. Portanto essa relação continua entre os homens. Somos sociais por excelência; muito dependentes uns dos outros, embora não o percebamos. Afinal de contas, mais de seis mil anos de pecado acabaram por nos cegar moral, intelectual e espiritualmente. Chegamos a dizer não precisarmos mais de ninguém tamanha nossa arrogância e pretensão. Uma lástima!

Como somos tolos... Deus não leva em consideração nossa sandice e frivolidade, pois é sabedor das nossas limitações. Ainda bem! Sabe tanto e completamente de nossa falibilidade a ponto de se por a disposição a qualquer momento como Criador, Pai, Amigo... E é da dimensão de amigo que gostaria de falar.

Um amigo é alguém simpático, bem humorado, educado, sempre disposto a dizer palavras agradáveis e alentadoras. Certamente é fácil gostar de alguém com essas características e querê-lo por perto o máximo de tempo possível. Todavia não somos sempre assim. Todos nós temos defeitos e limitações. A simpatia, o bom humor e os bons modos ficam comprometidos muitas vezes pelo temperamento e pelo sofrimento de cada um. Estou falando dos indivíduos em falta não intencional. Há aqueles a simularem simpatia e bom humor a qualquer custo e com domínio impecável das regras de convívio social. Seriam pessoas falsas? Nem sempre. Mas talvez não fossem pessoas amigas no sentido mais estrito da palavra. Pode lhes faltar as dimensões afinidade e intimidade. Num momento de tensão, sofrimento ou privação, não há boas maneiras, simpatia e bom humor bem vindos se não forem os do amigo de sempre ou daquele futuro amigo a achegar-se naquele instante. Quem tem um amigo tem um tesouro! Tesouro dos bons. O ladrão não rouba porque não pode carregar. A traça e o rato não roem porque não se desgasta. Não enferruja porque é de ouro. Não envelhece porque se renova a cada dia. Deus é esse nosso amigo. O melhor dos melhores. Sua atitude ninguém faria por nenhum de nós mesmo desejando muitíssimo. Só Ele foi capaz de entregar seu único filho para morrer em nosso lugar num gesto de total altruísmo e abnegação. Cristo por sua parte aceitou a tarefa de morrer de uma das piores maneiras possíveis a espécie humana sem ter feito nada de errado. Totalmente isento de culpa ou falha. Arrisco-me a dizer algo talvez exagerado ou estranho. Não sei. Para mim a crucificação de Cristo foi o maior ato de amor já registrado na história deste mundo, ou melhor, do Universo. O sangue derramado lavou-nos e nos purificou. Sua vida em troca da nossa. Sua força vital contida no sangue verteu para nós. Esse sangue santo corre em nossas veias e nos sustém.

Alguns de nós, de tão gratos a Deus, a Jesus e ao Espírito Santo, passa a servir e servir. A amar e amar incondicionalmente. Benditos sejam todos os caminhantes nessa seara do Senhor. Embora vivamos num mundo decaído e decadente, vale a pena viver. Vale a pena amar, vale a pena ser gentil e prestativo. Fico pensando na história de vida de homens e mulheres na carreira de fé e de serviço cristão. Muitos deixaram sua própria vida para vivenciar com os mais desvalidos em suas privações e levaram consigo provisões tanto materiais quanto espirituais. Doaram-se, esvaziaram-se de si em prol do próximo. Viveram como imitadores de Cristo mesmo não precisando morrer numa rude cruz no alto de uma colina. Cristo deixou o Céu e toda a sua majestade para viver entre mortais pecadores. Há quem tenha deixado suas mansões para servir em meio de indigentes. Outros abriram mão de uma carreira promissora nas artes, na ciência ou nos esportes para servir gratuitamente a outros. Há ainda os quem se arrisquem tanto a ponto de perder sua vida em prol de assegurar a existência de alguém.

Uma vida vale muito. Não há como calcular seu preço. Nossa saúde também. Mas o amor ao próximo e a abnegação são capazes de por em risco uma existência terrena em favor de alguém. Seria o gesto máximo de um humano morrer para que outro viva. É o mais próximo de Cristo possível a humanidade. Mas Deus não nos pede a morte em favor do semelhante. Ele nos pede serviço abnegado em favor dos carentes de todo o tipo. Ele nos pede doação. De tempo, de experiência, de bens, de um pouco de nossa vida, cujo valor é inestimável, mas ainda assim muito pequeno se comparável ao preço da existência de Jesus, a pessoa de cuja falha poria fim a Trindade. Sejamos generosos no servir e no doar. Muitos precisam de nós como nós precisamos de muitos. A vida depende de vidas. Vida por vidas. Vidas por vida.

Amém!

Oswaldo Eurico Rodrigues
Enviado por Oswaldo Eurico Rodrigues em 18/06/2011
Código do texto: T3042778
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