Triste fim do Policarpo Quaresma

O romance Triste fim do Policarpo Quaresma , explora com detalhes e avidez as camadas do Nacionalismo , e cava com os mais profundos argumentos e reflexões O QUE É A PÁTRIA , e o quanto ela caminha na selva de lobos e cobras.

Li pela 1ª vez esse livro em meados de 2004 , época do colegial – onde consumia como forma de viajar o mundo e alimentar o deserto humano, nomes da literatura nacional , portuguesa e inglesa . E quando passava uma página é como se tivesse vivido décadas e séculos passados e ainda por vir , era uma sensação de liberdade instantânea.

Com inúmeras críticas á sociedade e seus pilares podres, impregnados de mentiras e farsas só na segunda leitura puder entender as duras criticas feitas ao positivismo , as densas magoas e o desespero mórbido.

Policarpo passa sua vida buscando saídas políticas, econômicas e culturais para o Brasil, sim arquiteta a igualdade e o crescimento do país , mas sem censuras , no sistema que promove a guerra , não há crescimento com igualdade, ao contrário , a igualdade divide os bens os luxos reservado aos “ abençoados”.

Apresenta , três projetos para o País :

1º Lingüístico, em que ele tenta mudar a língua falada no país para o tupi; Lima Barreto, rompeu conscientemente com a linguagem anacrônica.

Policarpo Quaresma, (...) certo de que a língua portuguesa é emprestada ao Brasil; certo também de que, por esse fato, o falar e o escrever em geral, (...) se vêem na humilhante contingência de sofrer continuamente censuras ásperas dos proprietários da língua; sabendo, além, que, dentro do nosso país, os autores e escritores, com especialidade os gramáticos, não se entendem no tocante à correção gramatical, (...) usando do direito que lhe confere a Constituição, vem pedir que o Congresso Nacional decrete o tupi-guarani, como língua oficial e nacional do povo brasileiro.

(BARRETO, 2000, p. 52)

O 2º foi agrícola, acredita que as terras brasileiras são as mais férteis – E NÃO SÃO?!

Sérgio Buarque de Holanda (1959) em Visão do Paraíso registra: o clima ameno e temperado favorece o cultivo dos deliciosos frutos tropicais.

Não foram forçosamente não foram!!!

"Terra não é nossa... E "frumiga"?... Nós não "tem" ferramenta... isso é bom para italiano ou "alemão", que governo dá tudo... Governo não gosta de nós..." (BARRETO, 2000, p. 103)

O POLÍTICO – seu 3º e último plano, participa da guerra – e nesse momento GRITA aos nossos olhos – O QUE É A GUERRA – ELA É POSITIVO PARA QUEM ? ordem e progresso !!! Ordem aos dominados e progresso aos dominadores !!!

Patriotismo, sentimento natural, é pelo estado convertido em elemento psicológico de obediência para fins egoístas, para manutenção da ordem, para repressão violenta e brutal dos famintos e desafortunados. (1963, p.197)

Diante dessa epifania , envia uma carta a Floriano Peixoto e ironicamente é acusado de traição á pátria , isso mesmo – um cidadão que só pensa o bem comum em nome da pátria , é vencido por ela , e em troca recebe a condenação de morte. Seu fuzilamento é inevitável

A pátria que quisera ter era um mito; era um fantasma criado por ele no silêncio do seu gabinete. Nem a física, nem a moral, nem a intelectualidade, nem a política que julgava existir, havia. A que existia de fato era a do tenente Antonino, a do doutor Campos, a do homem do Itamarati. (BARRETO, 2000, p.175)

Não há exagero nessas águas ferozes que encharcam o pensamento do autor e deságuam na falta de sonhos e dolorosa realidade do sistema , basta depois ou antes não importa a ordem – ler – Chatô o Rei do Brasil - de Fernando Morais, Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo jornalista, professor de direito empresário, mecenas e político. Para consolidar essa viagem sem volta, MINHA RAZÃO DE VIVER – de Samuel Wainer , jornalista e fundador do jornal ÚLTIMA HORA . sim esses livros nos apresenta os dois maiores nomes do Jornalismo brasileiro . A narração dos fatos atestam as estratégias e manobras injustas e egoísta da política, a ordem é a sombra torpe para manter os interesses pessoas , DE POUCOS... pouquíssimos...

Desde dezoito anos que o tal patriotismo o absorvia e por ele fizera a tolice de estudar inutilidades. Que lhe importavam os rios? Eram grandes? Pois se fossem... Em que lhe contribuiria para a felicidade saber o nome dos heróis do Brasil? Em nada... O importante é que ele tivesse sido feliz. Foi? Não. Lembrou-se das suas coisas de tupi, folklore, das suas tentativas agrícolas... Restava disso tudo em sua alma uma satisfação? Nenhuma! Nenhuma! (BARRETO, 2000, p. 175)

“O importante é que ele tivesse sido feliz. Foi? Não” - BARRETO, 2000, p. 175 )

citações : Triste fim de Policarpo Quaresma. – Lima Barreto Chatô o Rei do Brasil - de Fernando Morais – Minha Razão de Viver – de Samuel Wainer - Visão do Paraíso - Sérgio Buarque de Holanda

SÃO PAULO - MÊS DE JULHO. ANO 2011

JANE KRIST