Profundo e inevitável sono (Texto chato! Não leia!)

Os ombros, já não os aguento.

As pálpebras então...

Os sentidos já me querem fugirrr...

Os móveis, os objetos perdem a sobriedade;

Desmancham-se em pastosas nuvens.

Os sons se abafam e viram apenas longínquos murmúrios,

Justificando o giramundo perdido.

O susto me recompõe!

Não foi nada: apenas um tossido ao lado.

Tenho que continuar... o trabalho não pode parar.

Recordo minha infância...

- Esses cheques foram lançados?

-Talvez apenas dois.

Os dois outros são apenas velhos pneus.

O maior é o meu e é o que abre as estradas sobre o sapé

Meu irmão me segue com o outro...

Todo cuidado é pouco para não machucarmos nossos pés descalços

nas lanças pontiagudas do capim sapé...

Os sapos e grilos fogem ao perigo.

É hora do almoço! Nossa mãe nos chama.

- Crianças!... Venham... ...aaquiiii. Aqui estão os cheques com erro de Lançamento! Vamos reenviá-los para a regravação?

Mas essa não é a voz de minha mãe...

É claro que não é o Gilson aqui do meu lado...

-Sim! Pode incluir os bichinhos aí.

Um era meu outro do meu irmão;

Foram feitos de galhos de goiabeira e pareciam pistolas de verdade. Claro que isso apenas para nós, que nunca tínhamos visto alguma.

Mas cuidado com as abelhas. Esse enxame que meu pai salvou da Queimada ainda está muito nervoso... Cuidado...

- Pois se não for gravado hoje...

- Maeee! cadê minha colher?... Não mãe! não jogue.

Não consigo pegar;

Ufa que susto; que barulho aterrorizante !

- O que foi isso! - Grito.

- Calma ai! foi apenas o extrator de grampos!

- Eu pedi uma colher, mãe...

- Chagoso, vai um cafezinho aí, pra curar esse sono brabo?

Um boa xícara e retomo o trabalho.

Mas ainda assim as letras voltam a fugir

O teclado está quase pastoso

Sem teclas e sem medo

Medo?

Cadêee elee

Nossa que sono braboooooooo

Lembro do velho Jeep abandonado com uma

Web cam no caput. Aff. Que Web caput nada.

Ela tá aqui no meu micro... misturei tudo... areia

Com farofa...

- Comprei um pé de pato. Farofa-fa.

- O quê?

- Dois quilos de arroz, farofa-fa.

Vou acabar dorbindo.

Ninguém quer me ouvir, então vou digitar aqui;;;

Se me acorbaremmm eu brometooooooo...

zz...

Promissado.

Não consigo mais escrevett.

Minhasa moãs etsão muito pesaaaaaadas

Não vejo nadaaaaaa...

zzzzzzzz

Onte anda minha olivetti

a medida que perco a solidez das coisas e a sordidez das palavras

uma outra dimensão vai se abrindo...

as coisas aqui não são tão sólidas. Mais parecem projeções, muito mais abstratas que reais. Não sei se têm cores. Não dou conta dessa percepção. Não me pergunto sobre isso e parece que, não é que eu não queira saber, mas é que não tenho estrutura para concebê-las. Meu entendimento está muito aquém dessa complexibilidade.

Mas a abstração me distancia da solidez física das coisas trocando-a por maciças doses de

simplicidade...

ao tempo em que me aproxima da e me encaminha para a

As coisas estão clareando, a cada momento mais expressivas...

pessoas começam a surgir, como se brotassem magicamente...

Mas não percebo suas aparições, apenas contabilizo suas presenças, apenas, ignorando totalmente o fato de não estarem presentes no momento anterior.

todos conversam muito e alguns conversam comigo

mas não interajo totalmente com eles

as coisas também não são muito claras...

Eu provoco os acontecimentos...

Agora por exemplo, eu vou ouvir falar do Natal; quer dizer:

eu quero ouvir falar do Natal...

As pessoas falam de tudo, menos do Natal... Será que não tenho domínio sobre os acontecimentos. Mas como não tenho?

Aquele ali da direita falou finalmente do Natal..

Mas não entendi exatamente o que falou...

Acho que também está testando seu domínio sobre o sonho...

Ah! è claro! Eu estou sonhando... como não percebi antes...

Que bom. Eu Posso simplesmente acordar e voltar a dominar tudo...

Ah! agora acordei. Agora posso dominar... quer dizer posso saber que não domino nada. Mas pelo menos estou acordado... Melhor assim!

Ou seria melhor sonhando?

De que lado está a realidade? Agora ou antes, dormindo ou acordado...?

Acho que ela nem existe.. TUDO É VIRTUAL...

Chagoso

1987