Amante da Tristeza

Tolstói escreveu logo nas primeiras linhas da sua magnífica Ana Karenina, que as famílias são parecidas em sua alegria e singulares em sua tristeza.

Gostaria de estender isso aos indivíduos, pensar que agrada-me mais sentir essa tristeza alheia, me apegando a ela, amando a mulher que deixa escorrer as lágrimas de desolação. Porque a alegria parece sempre ocorrer em maior quantidade, algo mais banal, onde as pessoas compartilham.

Chamo atenção para o fato de que a tristeza costuma ser menos aparente, muitas vezes velada, não tornada espetáculo, mas não aqueles tristes momentos públicos, que seria a alegria-triste-compartilhada, como as grandes comoções populares.

A tristeza aqui evocada seria aquele mais íntima, que nem desejamos afrontar diante do espelho, naquele olhar perdido que se encontra no reflexo. Essa forma de entristecer tende um dia a transbordar e contemplar isso, é como se pudéssemos ter acesso a algo muito íntimo de alguém.

É belo um sorriso de satisfação de uma pessoa amada, mas não se compara as lágrimas que caem sem pudor, que borram a maquiagem, que tornam frágil quem oferta e quem recebe, pois existe aí uma forma de compartilhar.

A alegria, por mais que seja esbelta, é sempre restrita ao seu alegre, já a tristeza, parece inundar o outro pelo sentimentalismo que é transmitido, não podendo deixar de se compadecer e sofrer junto, mas não por simulação, como no caso da alegria, mas pela compaixão despertada diante do outro ferido.

Vejam como outros mamíferos, lutam pela alegria de sua presa, disputam até o fim, mas que não deixam de tentar auxiliar quando se deparam com um outro fragilizado. Pois se na alegria se distanciam, na tristeza se unem, pelo fato de somente somando conseguir resgatar esse ser diminuído, pois na equação menos com menos é igual a mais, os dois se subtraem no sofrer para ressurgirem.

Talvez os gregos tenham reconhecido esse valor na sua tragédia, os românticos chegaram a enaltecer esse sofrer, embora de uma forma que tentava ser mais egoísta.