O "JOGO" DO AMOR

Para início de conversa o amor não é um jogo. E se fosse, seria um jogo diferente, no qual os dois lados ganham. Mas acontece que num jogo sempre tem um lado que ganha e outro que perde. Quando empata, ambos perdem.

Mas voltemos à questão dos dois lados ganharem. Imaginem dois times jogando. E ambos não empatam e ambos saem vitoriosos. É possível isso? Existe esse tipo de jogo? Então, se não existe tal situação, o amor não pode ser considerado um jogo.

Mas, infelizmente, na maioria dos relacionamentos as pessoas agem como se o amor fosse um jogo. É mais ou menos assim: alguém diz algo que magoa e o outro revida. Uma mágoa e um desaforo: um a um. Ambos ficam empatados. Aí o outro, para não ficar por baixo, diz algo que fere. E o outro diz duas coisas que machucam. Estava um a um. Ficou dois a um, passou a ser três a dois. Ou seja, ninguém quer dar o braço a torcer, ninguém quer ceder. Ambos querem ganhar a discussão, vencer, mostrar que é melhor que o outro. Como dois times disputando um campeonato.

É por isso que eu digo: quem ama não joga. Quem ama não quer se mostrar maior que o outro. Não precisa mostrar que sabe magoar mais e nem tampouco que ama mais que o outro. Amor é equidade de sentimentos. Igualdade de afeição, ternura e cuidados. Isso não significa que nunca haverá discussão ou qualquer tipo de desentendimento. Claro que poderá existir. Mas acontece que as pessoas que estão num relacionamento e querem conservá-lo, aqueles que se amam não revidam. Procuram compreender, perdoar, entender as razões que levaram à discórdia. Principalmente devem fazer uma autoanálise, olhar para dentro de si. Ao primeiro sinal de desentendimento, no lugar de apontar o dedo para o outro, de tirar o corpo fora e acusar o outro de culpado, olhe para si mesmo. Reflita. Quem sabe a culpa não está em você mesmo? Mas, se a culpa for do outro, a melhor coisa que se deve fazer não é acusar: é conversar, dialogar. O amor vence tudo. Quem é maduro sabe entender e perdoar. Amor passa por muita renúncia. Quem ama verdadeiramente sabe disso. Mas não é uma forma de renúncia que deixa mágoa ou ressentimento. Quem renuncia faz isso de bom coração, por uma boa causa. E não se arrepende, porque irá ganhar algo muito melhor em troca. A renúncia vale a pena quando você percebe que, cedendo um pouquinho em algum setor, com certeza ganhará em outro. Aí você vai dizer: nesse caso não foi renúncia, foi apenas uma troca. Não importa o nome que você der a isso. Significa que você está abrindo mão de algo para receber coisa muito melhor.

Por isso eu digo: mesmo quando você renuncia a alguma coisa você está ganhando. E o outro também. Você tirou o peso daquela cobrança que vinha fazendo. O outro ficou mais leve. E passa a te olhar com mais respeito. Quem ama pensa assim: “Nossa, ele – ou ela - deixou de fazer isso por mim!!! Que gesto de amor... Realmente ele – ou ela – me ama!!!” E aí a pessoa também passa a agir da mesma forma.

Ou seja, quando um casal percebe que o amor não é uma disputa, não é um cabo de força para ver quem é o mais forte, quem tem mais amor, ou para descobrir quem tem mais capacidade de ferir, de dar o troco, de magoar, tudo flui de uma maneira diferente e amadurecida.

Eu já ouvi dizer: quem ama maltrata. Não é verdade. Esse procedimento está na contramão do amor. O amor é compreensão, é tolerância, é querer o bem do outro e, ao mesmo tempo, de si mesmo. Repito: no amor não poder ter um lado que ganha e outro que perde. Ambos têm que ser vitoriosos. Sempre. Se apenas um lado ganhar, com certeza o relacionamento irá se exaurir. Porque o amor é rua de mão dupla: ambos têm que querer o bem do outro, reciprocamente. Se apenas um dos lados ama, a balança se desequilibra. Se um considera que ama mais que o outro também a coisa complica. E muitas vezes acontece esse tipo de acusação: “eu gosto muito mais dele – ou dela – do que ele – ou ela- gosta de mim.” Geralmente isso acontece por uma falta de percepção de que as pessoas diferem no jeito de manifestarem o seu amor. Alguns são mais explícitos, outros são mais econômicos ou mais tímidos, outros são mais ardorosos. Existem muitas formas de se demonstrar amor. E tem mais: nem sempre aquela pessoa que costuma dizer “eu te amo” ama verdadeiramente. Muitas vezes é apenas “um jogo” para ficar confortável dentro de uma situação. Porque a pessoa pode dizer “eu te amo” e ter atitudes que vão numa direção diametralmente oposta a isso. Ou seja, são os que fazem do amor um teatro, um mero jogo de palavras vazias, que querem viver de aparência e de conveniência. São os que mentem pela falta de coragem de revelar o seu desamor. E não querem sair de uma zona de conforto, muitas vezes porque estão vivendo de aparência, jogando para a sociedade, porque precisam mostrar – para os outros – que têm uma esposa ou um marido e que são felizes.

Então: quem ama verdadeiramente ancora o seu amor numa verdade sólida: o amor não é um jogo. Amor não é uma disputa, não é um torneio, não é ostentação e nem exibicionismo. Amor é transparência, é simplicidade, é verdade, é confiança mútua, é respeito. Inclusive respeito às diferenças.

Quem ama sabe cuidar. Quem ama dá carinho, atenção, ternura. Quem ama sabe fazer algum tipo de sacrifício. Mas sem cobrança. Quem ama não é arrogante. Quem ama reconhece que o amor pode vencer tudo. E que o amor é o único bem valioso que, quanto mais doamos, mais recebemos. Quanto mais amor você der, mais irá receber de volta. É por isso que eu digo: não tenha medo de amar. E se o seu amor é muito grande, daquele tamanho que não cabe dentro do seu coração, então você está pronto para amar, pronto para irradiar um amor tão forte que fará de você um ser diferente, alguém muito especial.

Mas, porém, todavia, contudo, se você quiser considerar o amor como um jogo, faça assim: você e a sua parceira – ou parceiro – pelo menos, joguem no mesmo time. Fiquem juntos e se aliem contra os vários times adversários que existem: o ciúme, a possessividade, o egoísmo, a presunção, a arrogância, a incompreensão, a intolerância, a inveja, a traição, a mentira, dentre outros. Juntos, com amor no coração, ambos serão sempre vitoriosos. E o amor florescerá como árvore frondosa, altaneira, de muitas flores e de muitos frutos. E você poderá dizer – de alma e coração - do mais fundo do teu ser: Eu te amo e sei que também me amas...

“E na sombra da árvore do amor adormecerei nos teus braços. Junto a ti embalarei os meus sonhos. E no calor dos teus beijos terei a certeza de que ambos somos seres privilegiados, ungidos pelo doce sabor da vitória. O nosso amor é sublime, como um rio que flui, como o vento que sopra sem cessar, como uma flor que desabrocha e que tem o dom sagrado de perfumar."

(para Tânia Maria, com amor)

José de Castro
Enviado por José de Castro em 29/08/2011
Reeditado em 01/11/2011
Código do texto: T3189689
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