AS TRAGÉDIAS E OS VALORES DESVALORIZADOS

Quase sempre que intenciono escrever sobre algo uma outra notícia bombástica me desfoca do meu assunto, embora hoje pretendia mesmo escrever algo sobre sociologia, sobre a atual dinâmica dos nossos "valores sociais" , desta nossa sociedade moderna "vazia" desprovida de sentido real e de objetivo maior.

Hoje em dia seria necessário que desligássemos os nossos mais íntimos sensores vitais ( já nem digo humanos!) para que conseguíssemos banalizar os tantos acontecimentos surreais, já muito mais banalizados do que nos possam parecer à nossa insensatez.

Contam as manchetes que um garoto de dez anos, talvez vítima de bullying por deficiência física, praticou tentativa de homicídio contra sua professora, aqui próximo , no ABC, no município de São Caetano do Sul.

Dentre tantas notícias de violência crescente e gratuita por todos os lados deste Mundo, seria mais uma notícia para compor as estatísticas silenciosas, aquelas que já não têm poder de indignação social, não fosse o fato mais dramático ainda , o de que o garoto de DEZ ANOS cometeu, em seguida, suicídio.

A gente fica sem fala!

Totalmente dispensável se analisar o fato pontualmente, porque, na realidade, a tragédia espelha todo o nosso óbvio, revela a nossa própria tragédia coletiva e sedimentada, a de que há muito tempo vivemos como fiéis representantes duma sociedade psicótica, que perambula por aí a esmo, sem se dar conta que perdeu seus humanos e humanitários valores pétreos.

Uma sociedade "terra de ninguém" na qual a família agoniza.

Eis o resumo da nossa dramática ópera social.

Aonde haveria espaço para se resgatar os valores que plantam o bem estar coletivo?

Por aqui ainda não encontramos sequer o caminho para a aceitação das mínimas diferenças.

Aliás, a força da mídia tem duas linguagens antagônicas: planta o caos e depois joga o bote salva vidas com campanhas que seriam socialmente inócuas, não fosse pelo evidente fato de que mais incitam do que atenuam todas as diferenças biológicas, materiais e sociais!

Por aqui, inclusive entre as crianças bem pequenas, não se admite sequer a diferença entre um aparelhinho de celular mais "obsoleto", ou seja, o penúltimo modelo da moda, e um outro da última geração das futilidades que coroam todos os ridículos "status".

As escolas mais parecem campos de competição de tudo, menos daquilo que nos agrega valor real!

Então, o que dizer ou esperar da tolerância humana com a diversidade da qual todos nós fazemos parte?

O Bullying, este fenômeno social que virou moda nesta sociedade futilmente moderna, é mais antigo que andar...para onde mesmo?

Afinal, andamos para frente ou para trás?

Já nem sei...

O que eu sei e sinto é que vivemos numa selva moderna muito cruel, transbordante de sinalizações e comunicações perdidas que não nos levam a lugar algum.

Os culpados? Somos todos nós e talvez Deus esteja lavando as Suas Mãos...até que um dia despertemos para nos salvarmos de nós mesmos, desta nossa tamanha arrogância animalesca e tão cegamente assassina.

Holisticamente assassina, inclusive.