AMOR, SEXO E CONSTRUÇÃO

A ordem dos substantivos do meu título não é aleatória, pelo contrário, tem uma lógica clara e planejada dentro do pensamento que aqui quero defender.

Existe em mim uma percepção pessoal de algumas dinâmicas da vida que são deveras repetitivas aos seres humanos e muito características dum determinado tempo, espaço e cultura aos quais todos nós estamos inseridos.

É preciso certo percurso de vida, de conhecimento de gente e de observação para nos darmos conta da existência de alguns movimentos psicossociais, que geram padrões comportamentais bem definidos, às vezes um tanto doentios, com seus inícios, seus meios e seus desdobramentos bem demarcados, tanto do ponto de vista individual como do coletivo.

Desde que somos crianças a vida em sociedade nos cobra certos fluxos cronológicos de vida considerados como "normais" e que são prontamente aceitos e elaborados pelo nosso inconsciente, algo passado de gerações a gerações como o "certo" e o "errado", embora nenhum deles esteja realmente dentro da nossa total capacidade de "administração" futurista. Antes estivessem!

Crescemos e nos construimos determinados a cumprir certas tarefas cronologicamente planejadas... pelos outros.

Encontrar alguém "legal", se apaixonar, namorar, amar, estudar, se formar, trabalhar, se profissionalizar, adquirir independência financeira, sucesso profissional, matrimônio, e filhos, e netos, e por aí vai... por incrível que possa nos parecer, ainda que nesse mundo tão moderna e explicitamente transformado, esse é o fluxo natural mais desejado pela maioria das pessoas.

Nada poderá sair do prumo, é a ordem inconsciente que carregamos.

Havemos de ser felizes dentro do que é preconizado.

Ocorre que, conforme o tempo vai passando e as coisas não vão acontecendo na sequência e no tempo socialmente planejados, as pessoas se desesperam, começam a se sentirem infelizes, desanimadas, diferentes das outras, das que, então, agora as rotulam como pessoas "de sucesso", e assim se sentem mais cobradas, desmotivadas, amarguradas, fracassadas para todo o sempre.

Outro dia ouvi dum apressado garoto de trinta e dois anos, assim: "Ah, estou "quase" com quarenta e planejei algo muito diferente do que consegui até hoje, nem alguém legal eu tenho! ", me dizia ele, num tom um tanto melancólico, como se a vida acabasse dali até aos seus quarenta anos. Nada disso! Ledo engano.

Ocorre que por conta dessa ansiedade social, num mundo em que atualmente tudo é muito rápido, lindo e descartável, muitos se atropelam na vida, quando não atropelam a vida dos outros...é fato.

Eu explico: se há um caminho realmente mais embasado para as relações amorosas acontecerem e se solidificarem é aquele em que os passos são dados na logística correta dos sentimentos, do real envolvimento, daqueles em que há tempo para o amor acontecer, para o sexo fluir naturalmente, e para a construção da vida ser uma consequência estrutural.

Não há felicidade sem estrutura definida.

Muitas pessoas, perdidas nesse mundo complexo e despersonalizado de hoje, na ânsia de se conectarem com a cobrança cronológica da sociedade para se sentirem no mínimo realizadas, atropelam o seu tempo numa movimentação ansiosa e só aparentemente demonstram que estão realizadas e na verdade, estão infelizes.

Nas tais operações apressadas que invertem a ordem natural das ocorrências mais íntimas, quase sempre ocorridas nos auges das suas vidas socialmente vazias, as pessoas equivocadamente se utilizam do sexo para simularem o amor e para se inserirem nas construções de vida já realizadas pelos seus errôneos escolhidos a futuros parceiros de caminhada.

E de parceiros realizados que poderiam ser... passam a ser parasitas do outro e da história do outro.

Um caminho arriscado...para o teatro de "felicidade social".

Esquecem-se, por exemplo, que uma construção de vida demanda por tempo para que haja uma história solidificada.

Inverter a ordem dos sentimentos e se valer do sexo vazio pode significar uma história muito frustrante de vida, porque tempo não volta e construção não ocorre nas esquinas dos relacionamentos sem amor, baseados apenas nos ditames e nas conveniências sociais, que não enganam nem a si muito menos aos olhos e aos corações mais vividos.

Triste de se ver tantos movimentos equivocados de vida, de muitas histórias que seriam bonitas, perdidas antes de começarem, na ânsia de não se perceber que a sociedade dita padrões de "relacionamentos afetivos" que quase sempre nos levam à infelicidade solitária, ou seja, atualmente ao mais gritante:

"Sexo, sexo, sexo e progressiva desconstrução de si mesmo".

Lanço neste meu texto a reflexão a todos , principalmente aos mais jovens.

Àqueles que ainda têm todo o tempo do mundo para encontrar o amor com intensidade, desfrutar do sexo com qualidade, de se construir e de construir com o outro, embasados no autoconhecimento e no conhecimento mútuo, e principalmente, no respeito por si mesmo.

Construção a dois é focar o mundo de maneira congruente, no nosso melhor tempo. Que é único, só nosso.

Afinal, não é o vizinho quem paga as nossas contas, tampouco resolve as nossas frustrações individuais mais íntimas plantadas pelo meio, aquelas que muitas vezes não demonstramos para ninguém, sequer a nós mesmos.

Sejamos felizes!

Este é o nosso melhor destino e a nossa maior obrigação.

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" Não ame pela beleza, pois um dia ela acaba.

Não ame por admiração, pois um dia você se decepciona...

Ame apenas, pois o tempo nunca pode acabar com um amor sem explicação."

Madre Teresa de Calcutá