História do Tempo Presente?

Este ensaio tem como objetivo, refutar um conceito difundindo dentro das escolas historiográficas contemporâneas, a chamada “história do tempo presente”.

Não quero aqui, em hipótese alguma, refutar os trabalhos realizados na criação dessa corrente historiográfica, nem mesmo a argumentação magnífica de seus autores, ainda menos questionar a insurgência de tal campo de pesquisa, aliada a memória e oralidade, imprescindíveis em novas perspectivas dentro da História.

A crítica aqui se refere exclusivamente ao enunciado, até pela nomenclatura que varia em textos escritos por determinados literatos, chamo a atenção para uma necessidade de transformação do título, pelas próprias consequências que o mesmo tende a acarretar.

O uso de conceitos se faz imprescindível, prova disso é a própria História ter a necessidade de se adequar a uma tendência metodológica que se faz preponderante no século xix, criando posteriormente o que foi denominado Historiografia.

Tendo em vista a relevância de um campo semântico dentro da argumentação científica, destaco o equívoco de uma história do tempo presente.

Primeiramente pela noção de tempo, conforma a variabilidade conceitual acerca do tema, explorando desde a chamada Grécia antiga até os dias coetâneos, prendo-me ao Dasein desenvolvido por Heidegger, em sua mutação inapreensível.

Mesmo buscando historiadores que resolveram aventurar-se numa busca por essa noção temporal, levando em consideração a mescla com o objeto de estudo histórico, se depararam com a violência não possível de captação do rebelde Chronos.

Utilizando Koselleck, por exemplo, na possibilidade de um “tempo inventado” que venha suprir essa não captação temporal do homem, ainda estaremos longe de desfrutar desse objeto-tempo num sentido stricto,

Existe a analogia, aqui se faz uma convergência entre Koselleck e Heidegger, onde ao “observar o passado”, ou seja, deduzir o que se passou a partir daquilo que objetivamos como findo, teremos a noção temporal a partir da extinção de algo, demonstrando a possibilidade cíclica dentro de uma logicidade. Se chega a um fim é por dedução presumível, ter havido um começo, consequentemente um meio desenrolou-se no processo, é a tríade temporal que estamos habituados.

Ainda sobre o fator tempo, podemos dispor de uma percepção sartreana, onde cada sujeito concebe uma perspectiva, por serem realidades distintas, mesmo que relacionáveis, dispondo de uma relatividade sem dúvida einsteineana.

Em meio a essa diversidade ótica, não podemos falar de tempo, mas de temporalidades, o que descartaria o enunciado “História do Tempo”, sendo mais apropriado uma História de Temporalidades.

Quando se fala sobre uma temporalidade próxima, contemporânea, devemos nos ater a conceitos de uma abrangência um pouco mais recatada, o que me sugere a ideia de “recente”.

Quando dizemos que algo é recente, nos referimos a um fenômeno próximo, que é possível algum grau de compreensão por deixar “rastro”, algo que possamos averiguar, que de certa forma consiga em nosso cotidiano emergir..

Por fim, tenho como proposta um outro enunciado, “História de Temporalidades Recentes”, talvez um nome mais estendido e menos atrativo. Entretanto, mais coerente dentro da proposta que a Historiografia postula, além da coerência conceitual, chamando a atenção para possíveis críticos que venham exibir a contraprova do sinônimo, que já escrevi um ensaio refutando tal artifício gramatical. Deixando claro, apenas a título de exemplificação, que se falar de presente, recente, atual, fosse uma redundância, não teríamos obras como as de Heidegger, “Ser e Tempo, e Sartre,“O Ser e o Nada”, onde insistentemente os intelectuais fazem distinções entre termos similares, servindo-se de variações em línguas diferenciadas, com a culminância de desenvolver termos próprios para atender a necessidade filosófica de criação.