A MOTIVAÇÃO NAS AULAS DE LÍNGUA ESTRANGEIRA

A MOTIVAÇÃO NAS AULAS DE LÍNGUA ESTRANGEIRA

As Línguas Estrangeiras estão assumindo a condição de serem parte indissolúvel do conjunto de conhecimentos essenciais que permitem ao estudante aproximar-se de verias culturas e, conseqüentemente, propiciam sua integração no mundo globalizado, como atestam os Parâmetros Curriculares Nacionais.

O grande desafio enfrentado por grande parte dos professores de Língua Estrangeira poderia ser resumido nesta pergunta: “Como saber se o que estou ensinando será aproveitado no futuro?” A resposta depende, sobretudo da realidade vivida pelos alunos, suas expectativas e perspectivas. Mas pode ser resumida ao seguinte lema: o idioma precisa estar ao serviço do usuário. Nada pior do que, em poucas horas disponíveis para a disciplina, a turma achar que aprender outra língua é perda de tempo.

Este texto procura focar a administração e a organização do ensino da Língua Estrangeira e mostrar a importância da motivação para com os alunos na aprendizagem do segundo idioma como porta de acesso ao mundo

A hora de ensinar os alunos um segundo idioma, diferente da língua materna, geralmente na segunda metade do Ensino Fundamental, coincide com uma fase marcada por transformações físicas e emocionais do pré-adolescente. É fundamental que desde o início da aprendizagem da língua estrangeira o professor desenvolva a alto-confiança em seus alunos, para que eles acreditem na capacidade de aprender. A limitação de recursos disponíveis na escola para a prática de ensino e a reduzida carga horária da disciplina não devem ser motivo para abrir mão dos objetivos. Talvez o professor não consiga desenvolver, ao final dos Ensinos Fundamental e Médio, todas as habilidades em seus alunos, como leitura, compreensão e produção oral e escrita.

Mas, segundo os PCN’s de Língua Estrangeira, ele pode estabelecer três metas que sejam úteis para a turma:

1. Aumento do conhecimento da língua materna, no caso o português, por meio de comparações com o idioma estrangeiro em diversos níveis;

2. Ao construir significados em outro idioma, o aluno se habilita para usar uma língua estrangeira;

3. Conhecer valores de outras culturas desenvolve a percepção da própria, promovendo a aceitação das diferenças nos modos de expressão e de comportamento.

O uso da segunda língua entre os brasileiros está mais vinculado à leitura, seja de textos técnicos ou culturais. Por esse motivo, os alunos podem duvidar, a princípio, da utilidade prática de aprender outra língua. Mas deve ser ressaltado que, diferentemente de décadas anteriores, conhecer um novo idioma significa nos dias de hoje um passaporte para o ingresso na sociedade da informação.

Com a difusão da Internet, entre outras formas de comunicação, o contato com outras línguas se torna cada vez mais freqüente. O inglês, particularmente, dá acesso à ciência e à tecnologia moderna, à comunicação intercultural e ao mundo dos negócios.

Segundo reportagem de Márcio Ferrari, na Revista Nova Escola:

Foi-se o tempo em que o ensino de Língua Estrangeira se prendia à fórmulas prontas e repetidas mecanicamente, no velho esquema “the book is on the table”. Como afirmam os PCN’s, a busca por um método ideal acabou nos anos 80. Não porque ele tenha sido encontrado, mas porque o aprendizado passou a ser encarado como um processo dinâmico, mutável, permanente e sem receitas. Percebeu-se que tudo depende do contexto. (FERRARI, 2003, p. 22)

Interpretando, a prática que corresponde às expectativas com alguns alunos e turmas, não terá sucesso com outros. As aulas devem se sustentar com projetos e tarefas que despertem nos alunos um interesse em se comunicar sobre um determinado assunto.

Em observações prestadas à disciplina de Seminário de Pesquisa e Prática Pedagógica em Letras II, do curso de Letras do Centro Universitário Feevale, em Novo Hamburgo/RS, notou-se que alguns professores já entenderam o recado dos PCN’s.

O professor de inglês observado no Ensino Fundamental realizou o Projeto Apaixonado, em que os estudantes anotavam em português perguntas que gostariam de fazer aos colegas. Em seguida, foram selecionadas 10 questões que apareceram com maior freqüência e os alunos traduziram elas para o inglês. Cada um escreveu as perguntas no próprio caderno e repassou para os colegas responderem, fazendo assim, uma espécie de enquête.

Talvez tenha sido um pouco trabalhoso, mas nada que não se resolva com um bom conhecimento das especificidades da língua e da realidade dos alunos com o conteúdo que deve ser trabalhado.

José Carlos de Almeida Filho, em seu livro Dimensões Comunicativas no Ensino de Línguas, destaca que:

Pode ocorrer que uma cultura de aprender a que se prende um aluno para abordar uma língua estrangeira não seja compatível ou convergente com uma abordagem específica de ensinar de um professor, de uma escola ou de um livro didático. O desencontro seria assim fonte básica de problemas, resistências e dificuldades, fracasso e desânimo no ensino e na aprendizagem da língua alvo. (ALMEIDA FILHO, 1993, p. 13)

Um bom aprendizado para os alunos é aquele que permite o contato com outra cultura e outro código, pois além de enriquecer, esse conhecimento torna-se necessário, entre outros pontos, para incentivar a tolerância. Os próprios PCN’s de Língua Estrangeira atestam: “Ao entender o outro, o aluno aprende mais sobre si mesmo e sobre o mundo plural.”

A apreensão do vocabulário, da gramática, da estrutura sintática, dos tipos de textos e dos gêneros do discurso é fundamental para permitir ao estudante tomar contato com alguns aspectos culturais que serão trazidos pelo conhecimento de um novo idioma, mas o professor precisa mostrar as características da nova língua, para que ela seja de fato um instrumento de interação entre as pessoas.

Há inúmeros discursos para se trabalhar com os alunos, afinal, a maior função social da linguagem é se comunicar. Porém, para isso, o professor tem de estar bem familiarizado com os tipos de textos e à quem eles se destinam, qual a intenção do autor e que tipo de discurso está sendo trabalhado com a turma. Essa noção se torna indispensável para que o aluno dê sentido ao que fala e escreve, isto é, para que saiba realmente utilizar da melhor maneira possível o novo recurso que está aprendendo a usar.

Deve-se lembrar que o ensino de um novo idioma deve ser, apesar das limitações, quase igual dao da língua materna. O professor tem que pensar como ele aprendeu o português, em casa e brincando, e tentar levar as experiências para a sala de aula.

Em seu livro O Ensino da Língua Inglesa, Susan Holden e Mickey Rogers suponham que:

Talvez uma abordagem mais adequada para o ensino interdisciplinar seria dizer que ele deve trazer um conteúdo “do mundo real”. (...) Em outras palavras, aquilo que seja relevante para os alunos em uma determinada época e que ofereça um contexto motivador para a prática do idioma. (SUSAN e ROGERS, 2001, p. 14)

Como o professor de inglês no Ensino Médio, em observações descritas anteriormente, afastava-se um pouco do livro didático, mesmo mantendo o conteúdo a ser dado. Uma prática interessante vista foi a de pedir que os alunos colecionassem material escrito ou falado no idioma e montassem cartazes para expor à turma. Todos se surpreenderam com o grande número de palavras já incorporadas no nosso vocabulário. O que também pode levantar outras discussões, como a influência dessa língua estrangeira nas músicas que ouvimos e em filmes que assistimos.

O professor de Língua Estrangeira deve saber que, para os alunos, comunicar-se em outro idioma não é uma habilidade fácil de adquirir. É preciso aprender novas palavras e a estrutura gramatical para desenvolver outra forma de raciocinar. Para dificultar ainda mais, muitas vezes os livros trazem situações pouco familiares e signos culturais que se transformam em barreira para o aprendizado.

Alguns esclarecimentos referentes à aprendizagem de uma segunda língua podem ajudar os alunos e motivá-los a um processo mais fácil de aquisição do idioma. Ao dominar outras línguas, a garotada tem a possibilidade de manter contato com outros povos e culturas diferentes, amplia o acesso a fontes de pesquisa – como livros e Internet - , faz amigos no exterior e melhora as chances de conseguir bons empregos no futuro.

É preciso ter em mente que o ensino da disciplina de inglês é imperfeito. Isso porque um dos objetivos do professor é levar o aluno a se acostumar a ler textos dos quais não conhecerá o significado de todas as palavras. Mesmo na nossa língua materna estamos em contínuo aprendizado, pois sempre há verbetes a procurar no dicionário e a compreensão é algo que se constrói ao longo do tempo. Perceber isso pode evitar um certo bloqueio que costuma existir em relação ao uso de um novo conjunto de palavras e expressões empregadas em outros países, causado pela frustração por não conseguir se comunicar.

Pelas diretrizes dos Parâmetros Curriculares Nacionais, ao longo de quatro anos do Ensino Fundamental, espera-se que o aluno seja capaz de:

1. Saber identificar línguas estrangeiras e perceber que vive num mundo de muitas línguas, no qual alguns idiomas desempenham papel essencial em determinado momento histórico;

2. Ter uma experiência de se expressar e de ver o mundo, ampliando a compreensão do próprio papel como cidadão de seu país e do mundo;

3. Reconhecer que a aquisição de uma ou mais línguas permite acessar bens culturais da humanidade;

4. Ler e valorizar a leitura como fonte de informações e prazer;

5. Utilizar outras habilidades comunicativas de modo a poder atuar em situações diversas.

Conforme Almeida Filho:

Unidades fragmentadas da gramática como o “presente simples”, a “forma da 3ª pessoa do singular dos verbos”, não são mais suficientes, da mesma forma como não o são as funções comunicativas fragmentadas como as “descrições”, as “expressões do que se gosta” e as “opiniões”. A interação de ambas em unidades do discurso maiores (como os eventos de fala) transcende as suas limitações ao nível comunicativo quando assim isoladas por meio de conversas telefônicas, entrevistas, trabalhos acadêmicos, descrições de processos etc. (ALMEIDA FILHO, 1993, p. 15)

Pois, segundo os PCN’s, a maioria das propostas educativas no ensino de línguas já oferecem uma abordagem comunicativa, mas as atividades, em geral, ainda exploram a estrutura gramatical fora de qualquer contexto. Ou seja, a gramática é vista como algo desvinculado das situações de contato interpessoal e dos textos disponíveis na vida real (livros, revistas, Internet, canções...). Se deve contextualizar os conteúdos gramaticais, sendo esse o melhor caminho para oferecer novas informações e idéias, revelar elementos de cultura e ampliar o vocabulário dos alunos.

Já mais na área do Ensino Médio, as competências a serem desenvolvidas nos alunos em Língua Estrangeira Moderna consistem em três pontos:

1. Representação e Comunicação

a) Escolher o registro adequado à situação na qual se processa a comunicação e o vocabulário que melhor reflita a idéia que pretende comunicar;

b) Utilizar os mecanismos de coerências e coesão na produção oral e/ou escrita;

c) Utilizar as estratégias verbais e não-verbais para compensar as falhas, favorecer a efetiva comunicação e alcançar o efeito pretendido em situações de produção e leitura;

d) Conhecer e usar as línguas estrangeiras modernas como instrumento de acesso a informações e a outras culturas e grupos sociais.

2. Investigação e Compreensão

a) Compreender de que forma determinada expressão pode ser interpretada em razão de aspectos sociais e/ou culturais;

b) Analisar os recursos expressivos da linguagem verbal, relacionando textos/conteúdos mediante a natureza, função, organização, estrutura, de acordo com as condições de produção/recepção (intenção, época, local, interlocutores participantes da criação e da propagação de idéias e escolhas, tecnologias disponíveis).

3. Contextualização Social

a) Saber distinguir as variantes lingüísticas;

b) Compreender em que medida os enunciados refletem a forma de ser, pensar, agir e sentir de quem os produz.

Uma língua é o veículo de comunicação de um povo por excelência e é através de sua forma de expressar-se que esse povo transmite sua cultura, suas tradições e seus conhecimentos. Por isso, é necessário pensar-se no ensino e na aprendizagem das Línguas Estrangeiras em termos de competências abrangentes e não estáticas, ou seja, em pequenas partes que sozinhas não trazem o sentido amplo preciso.

Como dito anteriormente, a aprendizagem do inglês pode ser considerada como uma fonte de ampliação dos horizontes culturais dos alunos, pois ao conhecer uma nova cultura, se passa a refletir sobre a sua própria, além de aumentar a capacidade de analisar o meio social onde vive com mais intensidade, enriquecendo sua formação como cidadão, uma vez que a linguagem é considerada a capacidade humana de articular significados coletivos e compartilhá-los em sistemas arbitrários de representação, que variam de acordo com as necessidades e experiências da vida em sociedade.

Para os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio:

A linguagem permeia o conhecimento e as formas de conhecer, o pensamento e as formas de pensar, a comunicação e os modos de comunicar, a ação e os modos de agir. Ela é a roda inventada, que movimenta o homem e é movimentada pelo homem. Produto e produção cultural, nascida por forças das práticas sociais, a linguagem é humana e, tal como o homem, destaca-se pelo seu caráter criativo, contraditório, pluridimensional, múltiplo e singular, a um só tempo. (PCN do ENSINO MÉDIO, 2002)

Portanto, não he linguagem no nada, no vazio. O grande objetivo dela é a interação, a comunicação com um outro, dentro de um espaço social. O homem cria a linguagem e, com ela, reproduz e transforma espaços produtivos. Entender-se a comunicação como ferramenta imprescindível, no mundo moderno, com vistas à formação pessoal, acadêmica ou profissional, deve ser uma grande meta na aprendizagem de Língua Estrangeira.

O objetivo do ensino da Língua Estrangeira é permitir que o aluno leia, escreva, fale e compreenda textos de vários tipos em outro idioma. Para alcançar esse objetivo, o professor da disciplina deve criar situações reais de comunicação em que o jovem possa fazer uso do que aprende: ter contato com publicações comerciais, canções e filmes, trocar correspondências, elaborar diálogos. Enfim, garantir o máximo de interação com as mais variadas expressões lingüísticas. Infelizmente, essa não é a realidade da maioria das escolas brasileiras. O inglês é apresentado de forma segmentada, e falta material adequado e cursos que permitam melhorar a formação do corpo docente. Assim, prender a atenção da turma, geralmente adolescente, se torna tarefa difícil.

Referências Bibliográficas

ALMEIDA FILHO, José Carlos. Dimensões Comunicativas no Ensino de Línguas. Campinas: Pontes, 1993.

HOLDEN, Susan; ROGERS, Mickey. O Ensino da Língua Inglesa. São Paulo: Special Book Services, 2002.

Revista NOVA ESCOLA. São Paulo: Abril, novembro 2003.

BRASIL.MEC.SEF. Parâmetros Curriculares Nacionais: Línguas Estrangeiras. Brasília, 1998

Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio / Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica e Tecnológica – Brasília: MEC; SEMTEC, 2002.