Ensaio Sobre Teses ou a Transinaptese

Este ensaio busca expor a chamada “hipótese” ou Hipo-Tese, conforme título por mim sugerido.

Pensar na Hipo-Tese, como uma prévia da tese ou tese menor, sendo que a diminuição se faz, pela ainda escassa metodologia em um início de pesquisa. Claro, que a escassez de recursos, também se refere ao próprio desenvolvimento que a logicidade da argumentação irá desencadear.

Pensar em uma lógica, apenas remete a uma estrutura, a qual aquilo que desejamos conhecer, se faz conhecido numa pré-disposição do logos, ao molde de Descartes. Definir em abstrato, um princípio hipo, apenas faz saltar aos olhos uma dissonância, que provavelmente levará a um hiper, como medida inversa de equilíbrio, ou forma de contrabalançar o objeto.

Mas a tese, não se faz Hipertese, nem mesmo Hipértese, demonstrando o seu não condicionamento a essa valorização pequena que a antecede, já que a hipótese, é uma pressuposição de tese. Claro, que podem surgir várias hipóteses antecedentes, como se fossem dialetos em relação a uma língua mais englobante.

Nesse ponto, temos algo singular, pois a Hipo-Tese, ainda tendo como referência à analogia aos dialetos, possui autonomia, podendo inclusive desenvolver uma variação própria, não necessariamente vinculada com a língua-tese. O que nos faz pensar que cada hipótese é uma tese em si.

Críticos dirão, que essa seria apenas uma maneira de fragmentar a tese, já que a mesma é composta de todas essas variabilidades primeiras que a compõe, ainda podendo gerar outras ao longo de seu desenvolvimento. Mas, pensar o fragmento, é mais uma forma de dizer, que é parte de um todo, sendo que, o argumento aqui apresentado, é justamente o de que cada fração dessa, é singular, podendo desvencilhar-se do suposto todo.

Um texto, quando construído, não deixa de ter sentido em sua desconstrução, levando em consideração os já construídos agregados. Quando pensamos em um prédio, apesar de cada elemento que compõe a obra, não ignoramos que um tijolo tem utilidade isolada, como tantos outros elementos que foram mesclados para um determinado Pro-Jeto.

Diria ainda mais, se é da Hipo-Tese que se parte na composição de uma tese, tanto que utilizam o termo, “pergunta de partida”, devemos estar atentos que é a segunda que é moldada pela primeira, o macro realizado a partir do micro. Se parássemos apenas nisso, estaríamos ainda agregando pouco a discussão. Surge uma convergência, sempre a tese precisa voltar até a hipótese para que não perca o sentido, caindo em uma expansão que fará com que se perca na imensidão lacunar que se abre em cada nova expansão.

Não apenas o macro tem o micro como partida, mas também depende dele em uma relação constante de sentido. Temos uma tese que não consegue se desvencilhar de seu hipo, talvez o empecilho para se fazer hiper.

Dentro dessa problemática, se pensarmos numa contextualização hegeliana, essas Hipo-Teses, poderiam ser similares aquela que antecede a antítese. As antíteses e sínteses também teriam suas Hipo-Teses? Evidente que sim, já que toda tese pressupõe uma hipótese, mesmo em negação ou contradição.

A dialética, ainda nos deixa com as teses dentro de um ritmo, direciona um sentido, o exercício de reflexão, o reflexo espelhar que se contenta com a imagem. Assim é a tese, sempre sombra de uma hipótese, só que seu sombreamento é vasto, como se fosse efeito de um pequeno fecho de luz que aumenta um corpo de forma desproporcional, ou proporcional ao espetáculo que tal efeito causa.

Acredito, que seja possível conceber uma hiper-tese, com proporcionalidades além das imaginadas. Nisso, presumimos um efeito dessa substância hipo, que na expansão sombria, acaba atingindo proporções acima das previstas pelo corpo projetado, fomentando embaraço ótico diante de tal desproporção. Cada vez que diminuímos, usamos a lógica científica de tornar microscópico, cada vez que aumentamos, damos um sentido mais generalista.

Eis que surge, a necessidade de uma Trans-Tese ou Transése, onde o que conta não é mais o objeto dito tesificado, mas justamente os inúmeros efeitos nem mesmo cogitados. Tendo em vista, que quando concebemos uma hipótese, esta já havia sido moldada por inúmeros fatores, voltando mais uma vez em micro-teses que moldam a Hipo-Tese. Mas nesse caso, ainda estaríamos no campo do diminutivo ou aumentativo.

Os efeitos mencionados, seriam os processos de ruptura de composição de um argumento, ou seja, pensando de forma mais generalista, poderíamos utilizar o exemplo da Física, cada tese — independente do seu tamanho projetivo — seria uma matéria, que quando concebida, gera em uníssono uma anti-matéria. Mas não seria uma antítese, nem mesmo uma síntese, já que cada uma dessas variações, não passam de teses no final.

Pensar, que a questão estaria resolvida com esse elemento anti-tese, é deveras inocência de nossa parte, já que antes de imaginar a tese e a anti-tese, devemos ter em mente o processo relacional entre elas. Essa relação seria a Transése, já que gravitaria entre ambas sem estar inteiramente contida nelas.

Quando cogitamos algo — mais uma vez volto ao Descartes —, moldamos esse cogito em tese, mas para existir esse pensar que ocupa um campo hipotético, devemos antes abrir um espaço onde o mesmo possa se insinuar. Assim, como alguns chamados materialistas, aqui exponho ainda outro epíteto, marxistas, materialistas-marxistas, parecendo até certo ponto uma redundância, mas quando pensamos em teólogos marxistas, vale ressaltar o caráter material.

Retomando o ponto, certos materialistas-marxistas, comentavam sobre a necessidade de labuta constante, inclusive no campo intelectual. Quando nos recordarmos, ou seja, lemos textos de autores, também materialistas, só que mais dados ao campo denominado das ideias, ocorre a exaltação do ócio, que o diga Nietzsche, Camus, etc.

Creio que nesse confronto, entre pensar-ativo e não-pensamento, fica em aberto a interrogação desse movimento que faz ativo e passivo se unirem em uma criação, pois somente juntos, entrelaçados, podem dar vida a nossa famigerada tese.

Esse conflito entre fazer e não fazer, shakespereano, já que ser ou não ser estão relacionados, nossa Transése nessa passagem de Hamlet seria o “ou”, o intermediário. Veja que sem ele “ser não ser”, apenas aponta uma direção, mas com esse terceiro elemento, temos além dos três, em separado, o quarto sentido, que seria o estado Triplo-Relacional. Separados, são três singularidades, unidos, são três mais a relação, ou seja, quatro, pirâmide perfeita.

Tal discussão, nos remete a Heidegger e sua exposição sobre o Dasein, além do Ereisen. Convém, aqui expo,r que na multiplicidade tésica, estamos diante desse movimento que oscila entre um pensar, com todas as características que a neurologia abarca, e um não pensar, com todas as simbologias que muitas religiões já se serviram, que o digam os budistas e seus exercícios de esvaziamento mental. Chegar ao máximo, dentro do que a estatística de QI indica ou ao mínimo, que o ato brahmânico nos concede, são extremos hipos e hipers, não levando em consideração o objeto de ligação entre ambos. Buscamos esse meio tenso, conforme as palavras de Artur da Távola. Já que o equilíbrio é a tensão máxima entre dois extremos.

Diz o ditado, que “cabeça vazia é oficina do diabo”, o que por associação faz pensar, que a cabeça cheia é oficina de deus, se assim for, só unindo deus e o diabo para dar certo, um vive sem o outro, mas são funcionais apenas em parceria, sendo que existe um terceiro elemento que não é nem deus e nem diabo, mas que dita a conduta de ambos, o fator relacional.

Eis, que surge o elo ao qual me refiro, aqui chamado Transinaptese, são as teses em forma de sinapses, fazendo as ligações entre teses e não-teses, a palavra tese se mantém apenas por uma questão de campo lexical, de forma a facilitar a compreensão conceitual. Já que a própria palavra tese, tem como sentido etimológico o termo “posição”. Tal embate entre a tese, a não-tese e o intermediário, resume-se em um posicionamento de cada um para com os outros, além do Tripo-Relacional em relação a outros infinitos estados parecidos.

Como se dá tal movimento? Pois posição, tem como consequência o movimentar. Já que tratamos de embate, um processo de relações, temos que indagar sobre um campo expositório onde se dá, além da força que age sobre os envolvidos, ainda que despenda deles, o que as fez interagir? A princípio um e outro estão conforme sua natureza, mas e quanto à natureza desse objeto de ligação, que só tem sentido quando interage com os que intermedeiam?