Relato de um moribundo

Quando a morte veio me buscar

(Relato de um moribundo)

Eu já estava no bico do corvo, contaminado, judiado, enfim pronto para embarcar, mas sem as moedas e o barqueiro que se danasse. A colheita seria feita a qualquer momento pela Dona Morte e seu inseparável ceifador. No entanto, havia um probleminha, um pequeno detalhe é que eu não queria ir para lugar nenhum e muito menos com uma companhia tão indesejável, na verdade eu precisava e queria mesmo era viver e continuar de mãos dadas com a vida. Oh vida, bela vida!Porque os compromissos eram tantos e nunca achei ninguém que pudesse me substituir , então nada mais justo que eu vivesse. Para minha alegria e desespero da morte, repentinamente comecei a reagir, meus batimentos cardíacos começaram a se estabilizarem, mas os médicos ainda estavam muito desanimados, cochichavam, entreolhavam-se, balançavam suas cabeças. Num primeiro momento entrei em pânico e concordava com a preocupação deles, porque um câncer é sempre um câncer e pelo que andei ouvindo eu tinha um senhor de um câncer no cérebro, mas também sempre fui assim demorava ter alguma coisa, mas quando conseguia eram as melhores e as maiores, mas sinceramente, este câncer eu dispensava ou pelo menos poderia ser menor. Pensamentos negativos de lado, me concentrei no que queria e fiquei animado,porque o que importava mesmo era a minha vontade de viver. Estava eu muito empolgado, mas meu estado não era nada bom e eu tinha certeza disso a todo momento,pois onde quer que eu olhasse, lá estava ela me olhando com diferentes fisionomias umas vezes sorria de felicidade e outras ficava zangada e fazia caretas e isso era bom porque indicava uma certa melhora no meu quadro clínico. Sabe pessoas vivas que leem, eu poderia encerrar esse texto agora mesmo dizendo que morri e pronto, mas me recuso e quero aproveitar ao máximo meu lento e triste fim, que não é de Policarpo Quaresma, mas de igual teor, tirando a dúvida presente no começo daquela obra, porque ao contrário de Policarpo tenho certeza de que o que importa é a morte e não o nascimento. Posto isso continuo meu relato, dizendo que num dos momentos críticos,os médicos pediram o ajuntamento dos familiares,precisavam de uma autorização para uma cirurgia ‘Eu não estava valendo mais nada,não podia sequer autorizar ou não um corte em mim’, e sabe quem se divertia com isso, sim, a morte, que comemorava com pulinhos de alegria como que disesse: Ah , agora você não me escapa. Eu já estava tão acostumado com a presença dela, que por intimidade dei-lhe um outro nome ,um mais bonito, passei a chamá-la de VIDA.Depois da cirurgia,a vida voltou a brilhar para mim,meu corpo se recuperava bem. Deitado na cama conversava com meus amigos e familiares, vislumbrei dias melhores para mim e foram exatos trinta,até que VIDA apareceu para ceifar minha vida,lutei bravamente,resisti o quanto pude,tentei provar minha melhoras e não havendo outra saída,já exauridas minhas últimas forças com vida parti.

Castilho Benício
Enviado por Castilho Benício em 15/10/2011
Reeditado em 14/06/2020
Código do texto: T3278604
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