Toques e lambidas
Papel pra todo lado, palavras caídas e verbos partidos...e em cima da mesa, estilhaços da minha ventura...reluzindo como diamante no escuro...
A chama acesa tremulando e o perfume passeando pelo ar...denuncia que estivestes por aqui...olho nas paredes, e as sombras zombam do meu medo...nunca fiz segredo desse frio que o escuro me causa...
A taça derramada no tapete ao longo do meu corpo esguio...agita meus pensamentos...a luz fina e dançante atreve meus dedos...e uma vontade de jogar fora toda essa limalha agarrada na garganta, torna urgente
a mão sobre a pena...que sem muito pensar vai bordando palavras tantas...como se não deve temer...e eis que sem que eu perceba...nasce mais uma página...de nós...
Viro-me de costas...e mirando o teto...assisto a dança das chamas, reproduzidas aos pares no alto da minha doce prisão...
Meus pensamentos se desdobram...enquanto os arrepios andam na minha pele descalça...o medo pela angústia dos mesmos arrepios...
marejam e escorrem salgados...libertos depois de anos de privação de sentidos...duplamente registrados nos lagos da minha consciência ...na superfície plana ...onde teu nome brilha, como um astro de primeira grandeza...
Não quero apagar a magia dessas horas de silêncio e encontros...de toques e lambidas ...tão únicas...fecho os olhos e me abraço...que desça a noite...meu corpo já tem companhia...