“FAÇA COMO EU, SORRIA!”
 
 
 
   Mãos na terra. Mas na terra mesmo, na lama, debaixo da chuva, mexendo nas plantas que tenho de verdade plantadas no fundo do quintal. Voltar com o corpo suado, fedendo a suor, rosto escorrendo de suor, corpo cansado, um banho frio e a sensação de estar vivo.
   Mãos no teclado. Faço pouco uso das folhas de papel atualmente. Em meu estilo, forma de pensar e ver as situações em que vivo. Sem mentir para mim. Escrevo aquilo que penso, peso as consequências daquilo que penso e vejo que elas se equivalem às consequências que me causam as poesias melosas de amor e comentários vazios de quem só leu o título ou considerou parcamente aquilo que escrevi.
   Não acredito em muita coisa. Não acredito em gênios que não sejam doentes. Não acredito em textos corretos demais. Não acredito no ser humano em geral, nem em seus deuses, nem em suas divagações e muito menos em suas críticas. Desconfio de antemão em quem se mostra demasiadamente perplexo e indignado com a política, com a hipocrisia, com a superficialidade e com o ser humano. E eu sou um desses, digno de desconfiança.
   Não acredito em quem diz amar eternamente. Não acredito em quem ama mais ao outro que a si mesmo. Não acredito naquele que se diz (sem que ninguém o tivesse interrogado) sem algum tipo de preconceito que seja. Somos todos preconceituosos, ainda que o preconceito seja apenas em relação àqueles que são preconceituosos, não deixamos de ter pelo menos esse preconceito.
  Corro de bandeiras, manifestações populares, caçadores de O.V.I.N.s, guias espirituais, pessoas repetitivas e cansativas. Não acredito em pessoas sábias envolvidas em situações citadas ou similares. Admiro quem consegue se envolver nessas catequeses sem tentarem me salvar, entretanto admiro à distância, com mil reservas.
   Embora eu não o seja, admiro pessoas de caracteres originais, sejam esses caracteres adaptados ou não àquilo que estou acostumado. Me interesso por pessoas ousadas e que arriscam promover situações que lhe causem proveito a seu interesse próprio. Não vejo atributos naqueles que se doam “demais” a outras pessoas ou a causas.
   Tenho as reservas necessárias para não me abater tanto com as situações de desilusão com meu próximo. A isso se deve o fato de não criar ilusões em relação aos mesmos.
   Desconfio também em demasia daqueles que me sugerem coisas tipo: “envolva a sua vida de alegria, faça como eu, sorria!”. Não acredito em quem é feliz o tempo todo, nem em quem é infeliz o tempo todo.
    Não tenho métodos nem privações interiores.
   E para finalizar, faço das palavras de Raul Seixas, as minhas: “A verdade do universo é a prestação que vai vencer!”. E vou à luta. E vou de verdade, enquanto der para ir.
   Esse texto ainda está nebuloso, amorfo e aparentemente sem direção – e é assim que me sinto bem – ainda buscando algo. Quando me sentir plenamente satisfeito, me chamem de Tântalo!







Primeiro texto de "Contos do Septo Nasal"

 
Marcelo Braga
Enviado por Marcelo Braga em 22/11/2011
Reeditado em 28/07/2012
Código do texto: T3349536
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