Dentro da noite
Quando me olho
não me vejo
é um resto de mim que percebo às vezes
lá no fundo, como uma pequena réstia de luz por trás da porta
e que às vezes espio, como quem não quer nada,
só para ver se ainda estou ali.
Eu não sei onde me perdi,
e não sei explicar no que me tornei
sei que às vezes me visito
assim, despretensiosamente,
Tento despir-me de mim mesma,
de minha vaidade, dos meus cabelos desalinhados,
da minha alma às vezes triste,
e às vezes melancólica
tento enxergar-me como sou por dentro,
mas nem sempre me acho...
Acho que ando brincando de esconde-esconde
e no escuro da noite tento enxergar os meus traços
ouço vozes, risos, sussurros
quase posso sentir o cheiro da relva molhada
mas quase sempre me perco
e fico apenas olhando o céu, à noite,
na ânsia de me encontrar de novo
e recuperar de mim o melhor que sou
e que ainda tenho...
Dentro da noite.