SOBRE O TEMPO E NÓS

ANOS E ANOS SE PASSAMM, E MAIS ANOS E MAIS ANOS E, TODOS CONTINUAM SEM REAÇÃO AO PASSAR DO TEMPO.

SÃO ESTRANHOS OS OCASOS DO TEMPO, ASSIM COMO OS PORMENORES DO AMOR.

ESTRANHOS QUANTO EU, ESTRANHOS QUANTO VOCÊ, ESTRANHOS QUANTO NÓS, VEZES E VEZES AUSENTES.

POR QUANTAS VEZES NÃO CHORAIS AS MÁGOAS DE OUTRO, AO OLHAR O TEMPO PASSANDO, TENTASTE AGARRÁ-LO COM AS MÃOS, VÃ TENTATIVA.

TÃO VAGO É O TEMOR DOS SEUS OLHOS, QUE NÃO ME CONVENCE.

SE PERCO MINHA RAZÃO, NÃO SERÁ PELO TEMPO, MAS POR ESSES SEUS OLHOS, VESGOS, TONTOS, MIRANDO O TEMPO, MESMO QUE ME ATRAVESSEM, COMO SE NADA EU FOSSE, MESMO QUE ESTRANHOS, MEIGOS E DELICIOSOS.

TANTOS ANOS QUANTOS SE NECESSÁRIO FOR, ESPERAREI, TANTOS ANOS, QUANTO ME PERMITIDO FOR, ESPERAREI.

NOSSO PASSADO ESTÁ PRESO EM ALGUM LUGAR, ALEM DAQUI, ALÉM DO MAR, NUM CASULO QUALQUER. NA SOLIDÃO DO TEMPO, NÃO HÁ CERTO OU INCERTO, NÃO HÁ VERDADE OU MENTIRA, SÓ HÁ O TEMPO.

O CADAFALSO QUE SE ABRE A NOSSOS PÉS, CADA DIA, UM POUCO, CADA INSTANTE, UM SEGUNDO.

VOSSOS BRAÇOS SE ESTENDEM NUM LOUCO ABRAÇO E, SE ARREMETEM CONTRA O VENTO, CEGOS OS OLHOS.

RAZÕES HÃO DE EXISTIR E, QUANDO DA NOITE QUIETA, OUVIR O SILÊNCIO INQUIETANTE FERIR SEUS OUVIDOS, NÃO OUVIRIA MEUS SUSPIROS, A NÃO SER QUANDO NUM OLHAR FURTIVO, SE PERMITIR CONTEMPLAR O RELOÓGIO QUE SOBRE A CÔMODA INSISTE EM LHE OBSERVAR, COM O SEU SOM CADENCIADO, ATRAVESSANDO AS NOITES E OS DIAS, MARCANDO O TEMPO.