Vivemos em um mundo agitado e cheio de dúvidas. Por todo lado há dor, pobreza, ignorância, violência, incompreensão. Assim se traduz a vida nos dias atuais. As palavras de ordem são: stress, impunidade, medo, insegurança dentre outras que trazem sentimentos de fragilidade e impotência diante de tantas atribulações. Cada dia é uma conquista que deve ser celebrada frente a tantas adversidades. Porém, é preciso mudar o foco, alterar a forma de percepção e de integração com quem nos cerca e com o tempo de vida com que fomos brindados.

Uma das frases atribuídas a Leonardo da Vinci, diz que "a arte é vista pelos olhos do espírito de quem olha". Não se sabe ao certo se foi da Vinci quem a proferiu ou se é mera atribuição a ele, no entanto, tais palavras possuem em sua simplicidade, uma forma bastante sábia de compreensão da nossa própria existência. Assim como a arte pode ser vista com os olhos do espírito, vivemos nosso dia a dia através de diferentes graus de percepção. Podemos olhar o jardim da nossa casa e constatar apenas ervas daninhas e flores murchas, como também podemos olhar com os mesmos olhos e perceber nuances magníficas.

Não se trata aqui de viver alheio, fechar os olhos para as dificuldades atuais, mas sim, dar  atenção ao que realmente tem importância.

Nossa vida pode ser vivida como uma brilhante sinfonia ou como uma novela emocional mal-escrita. Tudo é questão de opção e esta opção é bem mais simples e fácil do que imaginamos.

Os "olhos do espírito" ou da "alma" são construídos e alimentados ao longo das nossas múltiplas experiências. Os grandes mestres da arte conseguiram captar e traduzir através de suas obras toda a beleza destas experiências, transformando-as em traduções literais de manifestação divina.

É possível despertar sentimentos inexplicáveis com a observação da Capela Sistina de Michelangelo, assim como em sua magnífica representação de Moisés na mais perfeita escultura em mármore.

É indiscutível que as sinfonias de Beethoven exaltam a alma e os corações. E, mesmo que não queiramos ou compreendamos, nos sentimos inebriados pela harmonia das composições dos grandes autores.

As obras de Shakeaspeare nos fazem questionar tantos aspectos da vida, as de Mozart nos elevam e nos enche de energia. As pinturas de Monet, Manet, Renoir são impregnados de cores que fazem com que nossos sentidos vibrem. Enfim, obras fantásticas que conseguiram captar e registrar o que há de mais belo e divino nesta breve passagem humana.

Porém, há ainda uma arte superior. Uma arte régia. Uma arte inspirada por Deus em toda sua magnitude. E esta é a arte da simplicidade.

A arte de olhar este mesmo mundo pintado em cores tão tétricas e perceber que há beleza em cada ser que o habita. A arte de olhar para as pessoas que nos cercam e enxergar carinho, compreensão e segurança mesmo quando as discussões são inevitáveis e os rompantes constantes. A arte de sentir que a vida vale a pena quando recebemos o abraço indescritível dos nossos filhos ao acordar pela manhã ou quem sabe, ao perceber as lágrimas de felicidade de nossos pais, amigos e irmãos diante de uma conquista. Esta é a arte que permite que vislumbremos que o mundo possui cores maravilhosas quando finalmente nos recuperamos de uma doença e percebemos que estávamos privados de tanta beleza. É a arte de participar de uma reunião com amigos e compreender que ali há união. A arte de olhar o mar, o pôr do sol, as frutas em uma feira e perceber em cada detalhe a manifestação divina. A arte de encontrar Deus em qualquer paisagem, em qualquer região e em qualquer coração. Esta é a arte que faz com que olhemos a chuva e sintamos o vento e que percebamos a magnitude desta integração maravilhosa entre a matéria e o espírito. Esta é a arte sublime, um verdadeiro presente do ser vivente e eterno que habita em cada um de nós e que faz com que nossa alma vibre a cada vez que conseguimos perdoar e compreender o significado deste perdão.

É através desta arte que sabiamente devíamos ver o mundo com os "olhos do espírito" ou da "alma". A arte de "ser humano" no sentido mais completo. Passível de erro, mas também passível de força para aceitar, compreender, melhorar e surgir mais forte. Esta é arte mais inefável e a de maior valor. A arte de viver na alegria e na simplicidade e agradecer todos os dias pelas dádivas que nos cercam, mas que muitas vezes deixamos de perceber, pois nossos "olhos espirituais" estão tão envolvidos em olhar e em viver as obras da intolerância e da incompreensão.

Sonhemos nas cores exuberantes das obras de Da Vinci, nos alegremos com as notas fantásticas de Mozart, transcendamos nossas mágoas com as palavras tão contagiantes de Shakeaspeare, mas acima de tudo, vivamos com o poder maravilhoso que possuímos dentro de nós mesmos: o da ressurreição. É apenas uma questão de opção. Que a vida seja um breve sopro de luz, mas que seja vivida com sabedoria e com amor.

 

Ilustração:
The Japanese Bridge - 1918
Claude Monet

 

Edeni Mendes da Rocha
Enviado por Edeni Mendes da Rocha em 13/01/2012
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