Ribeira Grande: primórdios do futebol e primeiros futebolistas Breve historial III

Introdução do futebol moderno na Ribeira Grande: o primeiro exercício de 6 de Janeiro de 1899

Não podermos teimar em afirmar que o jogo de 6 de Janeiro de 1899 foi o primeiro exercício de futebol que a Ribeira Grande conheceu, podemos apenas garantir que foi o primeiro jogo disputado com intenção de ensinar regras e método a ser seguido pela imprensa. Isto porque, dêem-se as voltas que se derem, se em teoria, os eventos existem independentemente do registo que deles se faça, na prática, só são reconhecidos pela História quando são registados. Registo oral ou escrito, não interesse tanto a forma da mensagem como o seu conteúdo. Terá sido o caso deste exercício?

É a própria notícia do jornal que nos autoriza a admitir que se jogava futebol na Ribeira Grande já antes de 6 de Janeiro de 1899. Só que sem regras nem método. Sigamos o repórter destacado para o evento, ou que se ofereceu para o cobrir, que se identifica apenas como Um Ribeira Grandense, talvez Filomeno da Silva Moniz. Diz-nos que a partida ficou a dever-se ‘a pedido dos entusiastas footballers ribeira-grandenses (...)’. Portanto, partiu da vontade de gente que já jogava. Mais adiante, ainda no referido texto, convém ler bem a notícia, isso fica dito de modo tão cristalino como as nascentes de água das Lombadas:‘(…) como aqui não há rapazes que conheçam as regras do jogo, e ninguém também que saiba jogar com verdadeiro método (…)’ . Que conclusões podemos tirar destas declarações? Obviamente, e mais uma vez, que já havia gente na Ribeira Grande antes de 6 de Janeiro de 1899 a jogar futebol sem regras nem método. E que, doravante, queriam aprender regras e o verdadeiro método.

Para isso conseguiram a vinda do introdutor do futebol a sério na ilha: James Darlymple. Este primeiro exercício, tudo parece indicar, destinou-se igualmente a avaliar as capacidades futebolísticas dos voluntários que se apresentaram no campo das reses da Ribeira Grande. O cronista, não se sabe se por lisonja ou apenas para não desencorajar os candidatos, talvez por ambas as razões, confessa a sua admiração pela ‘certeza de pontapé de muitos dos novos jogadores’. Neste jogo, jogaram não vinte e dois jogadores, mas vinte, e destes, três vindos de Ponta Delgada. Os de Ponta Delgada, foram: José Carvalho, Aires Correia e James Darlymple. Muito provavelmente, jogaram dez para cada lado.

A data de 6 de Janeiro, não poderia ter calhado em melhor altura. Além de ser dia feriado de Reis, caíra num Domingo, mais ainda, coincidira com a altura em que, em Ponta Delgada, se estava a reformular a competição das medalhas . Previa-se o início dos jogos para o final do mês. Seria também um bom dia para atrair público ao campo.

Como se combinou a vinda dos de Ponta Delgada à Ribeira Grande? Vamos supor que, espera-se que de um modo verosímil, um dos entusiastas da Ribeira Grande, um dos Velho Cabral ou então o farmacêutico Jacinto da Silva Moniz, chegara à fala com o senhor James Darlymple, José Carvalho ou Aires Jácome Correia . Continuando a supor, diga-se que tendo estes aceite o convite, ficara combinado que trariam consigo uma bola de Ponta Delgada. José Carvalho trouxe a bola: ‘(...) o sr. José Carvalho trouxe uma bola dessa cidade [escrevia na Ribeira Grande uma notícia destinada a ser publicada no Diário dos Açores de Ponta Delgada]’. Como as bolas eram raras e caras, José Carvalho (pertenceu ao grupo inicial de Leite de Ataíde) pediu-a emprestada a Alfredo Pinto . O irmão de Alfredo, Ernesto, iria casar em Junho com uma senhora da Ribeira Seca, da Ribeira Grande . Na continuação do texto, acrescentaria: ‘e foi com ela que tiveram, ontem, o seu primeiro exercício (…)’.

Os peritos convidados de Ponta Delgada, terão perseguido dois objectivos: apresentar o novo desporto perante um público pouco ou nada conhecedor e apreciar o potencial futebolístico de candidatos da terra. Para consegui-lo, misturaram amadores voluntários da Ribeira Grande com os peritos de Ponta Delgada. No final, traçar-se-ia um plano de desenvolvimento para o futebol na Ribeira Grande.

E fez-se o balanço. Neste ponto, a opinião do cronista parece confundir-se com as pretensões dos futebolistas da Ribeira Grande, quando indica que estes, para evoluírem, precisariam de adoptar várias medidas: ‘(…) requisitar uma bola de Inglaterra, para jogarem todas as quintas-feiras e domingos de tarde’. Conseguir o apoio técnico de gente qualificada: ‘pedimos aos dois dignos capitães dos grupos azul e vermelho, senhores conde de Jácome Correia e James Darlymple, como o primeiro entusiasta neste género de jogo, aceda gostosamente ao nosso pedido’. Com afazeres que o retinham em Ponta Delgada, quem acabaria por ficar seria José Carvalho, mais livre, de vinte anos de idade, uma espécie de braço direito de Darlymple, de vinte e dois anos, e de Aires Jácome Correia, com apenas quinze. Se o plano fosse cumprido, o jornalista acreditava que: ‘(…) a breve tempo, a julgar pelo entusiasmo com que jogaram ontem, tornar-se-iam óptimos jogadores.’

Como não houvesse aparecido um número suficiente para perfazer o número certo de vinte e dois jogadores, sendo inicialmente dezassete voluntários, iriam precisar de cinco ou mais novos jogadores. Ou de substituir os que, entretanto, desistiram, como João Ponte e Diogo Velho Cabral. Da tarefa, ficou encarregado: ‘o Sr Humberto Borges V. de M. Cabral de falar a mais alguns cavalheiros’.

Mário Moura
Enviado por Mário Moura em 26/01/2012
Código do texto: T3462318
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