Uma Cartografia

Algo que nasce de um ponto, que é grafado, não passa dessa superfície epidérmica, somando outros pontos-poros em um escurecimento que produz efeitos de sombreamento. Surge a foice de Chronos que ajuda a cortar, escarificando com sua lâmina afiada, ao ponto do rasgo abissal invocar a figura da morte, que surge com seu corpo esquelético, portando o manto negro que mais uma vez cobre de trevas o espaço conquistado.

Uma gota que respinga de um corte evoca novas emergentes, que abrem plumas de anjo caído, asas mortais que da feminilidade de Thanatos faz surgir seios frondosos em um busto arredondado, um crucifixo invertido pende dentre eles, como a cabeleira que cai nos ombros feito alças, misturando-se ao efeito das asas que velam feito uma sombra protetora.

Antes de se firmar um dos sexos, eis que a ponta da agulha atinge a carne, profundo desejo de se fazer sentir, cravando um nome feito inscrições mesopotâmicas. Pela inspiração angelical, eis que ilumina em fonte obscura o epíteto Lúcifer, tornando-se pilar para o angélico antes nascido, sustentando esse ser outrora caído, solidez telúrica que equilibra.

Girando em um rodopio de Ícaro, o círculo mágico é aberto, com lâmina que se abre em ângulos diversos, compondo cinco extremidades, um pentáculo que se inverte em honra a Baphometh, com a face do bode escondida, os cornos em riste, até se firmar como selo no solo sagrado de Gaia.

Por esses caminhos terrenos, escoa o rastro que forma linhas, que juntam-se em novas escarificações, agora em comunhão vertical, paralelas. Um código de barras que são pilares fundos, poços rasos que derramam um número que escorre, seiscentos e sessenta e seis. Ganhando consistência e tornando-se o limite dos raios lançados em formas de linhas, um retorno em forma de seis que os devolve para o alto, resgate dos renegados das alturas.

Uma escapada de linha faz um emaranhado de nós que cria uma dobra fantástica. Monstruosidade que se multiplica, novelo que é emaranhado de retas curvadas, dando espessura de pelos, que cobre um corpanzil caprino. É o bode sagrado que levanta, com seus cornos viris, animal e homem misturados em uma zooantropomorfia, carregando na mão o anel com mesmo número do retorno.

Soltam-se pelos, com essa reprodutividade varonil, alcançando outro extremo corpóreo, nascendo do húmus caprino a trevosa beata em véus mortais que expõe formas de um feminina casto e desejando ser luxurioso. Do sangue vertido, a demoníaca forma surge, com volumosas oferendas carnais, bustos que afrontam os singelos seios da sua oponente, uma cauda com final triangular, pequena fração de foice que provoca novos rasgos, sustentando no colo sangrento o corpo beatificado que deseja um batismo de erotismo.

Respingos de secreções abrem novas fissuras. A primeira, ainda diminuta, chega ao campo astronômico, invadindo o espaço feito uma supernova, onde ligamentos zodíacos traçam um novo retorno, agora virginal. È a virgem que se desintegra, a ponto de tornar-se cabra sabática, em caracteres chineses salpicados, que caem no poço da vida, fazendo da terceira gota uma ankh egípicia, que liga os pontos e contorna em uma volta ao Eros primordial.

Do Eros o logos aflora, com mais escritas gregas, a ponto de em alto relevo, mostrar a união que entronizou Sophia. A Filosofia exaltada em marcas que dão novos ares a paisagem, subindo ao ponto de transbordar.

No alto, o cume é triangular, um novo túmulo egípcio nasce, aprisionando um cetro que é tridente, Poseidon prisioneiro, que é remetido ao enclausuramento pelas correntes titânicas que agarram seus pés. De um lado, o ego que busca desesperado o eu inexistente, fazendo da visão uma reta de único ponto, contida por viseiras fenomenais. Na outra extremidade, o superego, que tenta diluir na torrente da volubilidade, a ponto de crer no volume a ponto de se afogar no mar de areia desértica. No alto, o caminho de fuga, id pendurado, feito um trapezista insustentável, pedindo que suba em seu auxílio antes que desabe.

Desse cume vulcânico, Hefesto grita, a ponto de chegar ao topo corporificado. Feito Atlas, resolve suster todo o emaranhado riscado em uma existência que escapa a cada aguilhada, num devir intenso que nunca se resolve, causando o nascimento de outra escritura, agora moldada com uma linguagem de riqueza étnica, embora evocando um tradicionalismo germânico, o Dasein é fincado com pontos de estaca, empalando poros resistentes, provocando um retorno que jamais será o mesmo.