Choveu dentro de mim
De repente choveu
Dentro de mim, como uma garoa paulistana
Coisa mansa, lenta e derradeira
Que vem chegando assim, como quem não quer nada
E quando a gente repara, já tomou conta de tudo
De repente minha alma inundou
Molhou por dentro, encharcou meus pensamentos
Minha vontade, minha luz,
De repente tudo ficou vazio
Me dei conta de que tantas palavras foram ditas
Sem medida, trazendo tristeza e mágoa para nós dois
E outras tantas, que deveriam ter sido,
Não foram, calaram, emudeceram...
Assim é, e está sendo,
este cálice que vai se derramando entre nós
e nos afastando, pouco a pouco, do que nos uniu no começo
Quando havia sol nos teus olhos
e quando teu riso era música para meus ouvidos
E eu me via em você
como um espelho refletindo a luz
éramos nós dois, amantes, felizes
Distantes do mundo real,
imersos no sonho azul do inatingível
Etéreo, efêmero sentir que nos fez caminhar juntos
de mãos dadas, por tantos caminhos,
e eu nem sei onde foi que isso começou,
ou onde vão dar esses caminhos loucos,
Só sei que agora me deu vontade de não mais falar.
Ficaram mudas as palavras, fez-se o silêncio,
nos meus olhos, até a chuva passar.