Considerações sobre o Voto

Qual seria o motivo de haver a opção tecla branca para votar em branco e não ter uma tecla para voto nulo na urna eletrônica?

O interessante é que nesses mais de 25 democráticos anos, a pessoa-eleitor, seja ele mais ou menos esclarecido, não consegue se expressar através do voto o que quer, nem para si próprio, e não consegue entender o que se quer para a coletividade. Contrário do que muita gente pensa, votar nulo não é a mesma coisa de votar em branco. Por muito tempo, eles pareceram a mesma coisa porque, antes da urna eletrônica, muita gente votava nulo por não saber como preencher a cédula. Escreviam recadinhos para seus candidatos ou marcavam mais de um candidato. E o voto acabava sendo anulado, sem o eleitor querer.

O voto BRANCO e o NULO agora em urna eletrônica tem os seus respectivos papéis originais. O voto em branco é o voto da apatia. Quem vota em branco está dizendo: "eu não estou nem aí para estas eleições - não gosto de política, sou alienado, escolham por mim".

Já o voto nulo é uma forma de protesto. Com o voto nulo, ("EU") estou dizendo:

"...não gosto destes candidatos e não há nenhum que tenha reais convicções éticas e morais/ que não aprovo o atual sistema político-eleitoral brasileiro, que não permite uma atuação independente dos eleitos, tendo que se submeter a partidos políticos que apresentam conteúdo programático meramente para cumprir regras pois, na verdade, só se interessam pelo poder / não simpatizo com nenhum dos partidos políticos atualmente existentes e mesmo que meu voto não se preocupa com cores ou ideologias dos candidatos, mas sim com princípios e comportamentos morais, éticos e de cidadania que se assemelhem aos meus, dessa forma, não me sinto representado por nenhum deles e o meu voto é nulo / pois as nossas instituições estão todas corrompida, sendo que reina a impunidade e o Poder Público, através do Estado, é omisso e não cumpre com seu papel perante a sociedade / estatais, executivo, legislativo, judiciário e todos orgãos e repartições públicos, se institucionalizaram no corporativismo e gestão de conflitos de interesses diversos, todos tipos-espécies de interesses que não sejam em prol para o povo - beneficio do povo...".

Apesar da Constituição Federal, definir que votos nulos e brancos não são computados - contrapondo-se assim à determinação do Código Eleitoral, mas se em uma eleição chegar, brancos e nulos a mais de 50%, não haverá legitimidade e vai depender da decisão de um juiz se as eleições seriam válidas.

O problema, no entanto, é que as novas eleições seriam feitas com os mesmos candidatos, o que acaba não fazendo sentido. Além disso, as novas eleições acarretariam um rombo nos cofres públicos, uma vez que custaria ao país em torno de 20 bilhões de reais.

Mas...

Seja qual for a opção do eleitor na urna eletrônica, o seu voto já sai nulo.

Será que eleitor sabe como funciona uma eleição proporcional? Será que eleitor sabe para quem realmente vai o seu votinho vias quociente eleitoral e quociente partidário? Será que sabe o que são alianças partidárias, mandatos, suplentes, distribuição de tempo das propagandas e todas as coisas chatas e sem importância que os TRE não tem o espírito democrático de ensinar o eleitor?

O voto do eleitor já sai NULO da urna eletrônica via suplentes de senadores (quem assume recebe, além do mandato, todos os benefícios de um senador, inclusive plano de saúde vitalício se ficar mais de seis meses no cargo).

No regimento interno do Senado, do Congresso Nacional e das Câmaras Legislativa, diz que o Senador / Deputado presente no Plenário não poderá escusar-se de tomar parte na votação, salvo para registrar “abstenção”. Escolhemos um Senador / Deputado para votar (aprovar ou derrubar) projetos que são o não de interesse do povo. Tal abstenção não seria como um voto nulo?

Para o eleitor, considera-se abstenção quando o cidadão simplesmente não comparece na sessão eleitoral para votar e nem para justificar. Então, como chamaríamos quando um Senador / Deputado "simplesmente" não comparece nas votações do plenário? Se abstendo de uma votação ou não comparecendo ao plenário, não estão esses "nobres" anulando o voto de seu eleitor?

O processo democrático brasileiro está infestado de parasitas, de moléculas tóxicas que já invadiram e afetaram, há muito tempo, a saúde do sistema.

O sistema está necrosado e uma atividade da qual qualquer pessoa realiza todo tipo de malfeitorias é a política, especialmente de parlamentares. E, Proteger bandidos custa caro. O pior é concluir que quem está pagando a conta dessa imundice somos nós, os eleitores brasileiros idiotas, doces contribuintes dessa farra, para que os partidos políticos, os parlamentares corruptos, os governos indecentes e até os veículos de comunicação volúveis e sem linhas editoriais sérias e comprometidas com a ética, possam seguir alimentando a indústria das propinas, do dinheiro por fora, do caixa dois, da grana que verte dos cofres públicos direto para o bolso dos mamateiros. E isso só é possível porque o povo brasileiro é tão tolo e manipulável, quanto hipócrita. Até parece que gostam muito de sustentar essa bandalheira.

Uma das origens dessas "tretas" é a campanha eleitoral e o poder Executivo e Legislativo estão amarrados a uma estrutura corrupta (lícita e ilícita) que envolve financiamento de campanha e círculos viciosos em que os agentes trabalham apenas para se conservarem e reproduzirem, que emana de uma estrutura visivelmente invencível, seja pela estabilidade com que essas máfias se apropriaram do espaço público, seja pela ausência de alternativas por dentro capazes de reverter significamente o quadro geral. E os políticos em cargos eletivos são fantoches de grandes corporações, segmentos da sociedade que os financiam para que governem, legislem e etc., sob os seus interesses, transformando órgãos públicos em fábricas de licitações forjadas e outras tantas mais serventia falcatruas (chega-se a ser tragicamente hilário, num país reconhecidamente corrupto pelos seu povo (já teve o circo das obras dos jogos do pan e haverá as obras da copa de futebol e dos jogos olímpicos, para o delírio do povo).

Decorre aí a mazela principal do atrelamento dos parlamentares eleitos aos interesses das empresas financiadoras, ficando seu comportamento e seus votos no Congresso amarrados a esses interesses, tantas vezes distintos do interesse da Nação, isto é, do povo nacional. Ainda uma segunda e funesta mazela: Os grandes grupos econômicos, bancos e grandes empresas, só financiam as lideranças, os políticos que comandam e influenciam mais as votações no Congresso. Os parlamentares menos destacados, do chamado baixo clero, têm que recorrer a grupos menores, empreiteiros locais, empresas ou ONGs que captam recursos públicos alocados por eles, deputados financiados, em operações ilegais, ilícitas e corruptas. A maior fonte de corrupção dos políticos de hoje está na formação da caixa para a reeleição, que é uma necessidade criada pelo crescimento dos gastos de campanha e pelo sistema de financiamento.

A matemática é muito simples, por exemplo: um candidato a vereador precisa investir na sua campanha em média 100 mil reais. Há dois caminhos possíveis de onde decorre este montante: primeiro, do próprio bolso do candidato; segundo, de empresas e amigos interessados na sua eleição. Caso decorra do primeiro caminho, fica a pergunta: por que o candidato gastaria 100 mil reais para, caso se eleja, ganhar de salário uns 5 mil reais por mês? E se por acaso sua campanha for financiada por uma empresa, ou amigos, também resta uma pergunta: os financiadores farão essa doação gratuita, sem esperar nada em troca?

O recente caso envolvendo o senador Demóstenes Torres, e um pouco mais antigo, quando Fernando Gabeira foi pego na farra das milhas oficiais para parentes e amigos, são bons exemplos que confirmam que NÃO há ninguém e nada realmente limpo nesses lucrativos negócios. Esses que investem de arautos da moralidade e vestem a roupagem de paladino da justiça e da ética, são os piores.

Mas o fato é que também perpetuam-se essas tretas graças aos currais eleitoras, ao custo de dentaduras, pares de botinas e dinheiro vivo, além de todo tipo de favores bolsas-voto, bolsas disso ou aquilo e toda uma claque paga com dinheiro público. Tudo isso sob as vistas grossas e complacentes do TSE, que não enxerga a dinheirama usada nas gastanças de campanhas.

Mas num país paraíso da impunidade, a Têmis está vendada a vista grossa que nada cega, e, vendida, pendendo a balança para o vendável com a espada como um martelo na pancada de um leilão no "quem dá mais".

Democracia, o sistema de governo menos imperfeito do mundo, para funcionar bem exige que a população do país onde ela se instala tenha um certo nível de instrução e cultura que possibilite à maioria escolher bem os seus dirigentes. Isto porque a alma da democracia é o voto popular.

Presidente, governadores, prefeitos, senadores, deputados e vereadores, a cada eleição estamos nos enganando mais uma vez, que se tornará outra e mais outras, outras... O que a vida do cidadão e da coletividade mudou para melhor em saúde, educação, transporte público digno, segurança, trabalho e emprego, com tais atores que se revezam na troca de cadeiras?

Mesmo sendo a eleição como a expressão máxima do regime democrático, se o voto mudasse alguma coisa no Brasil, o povo seria proibido de votar. E, cada vez mais eu me convenço no realismo daquela frase que diz: "O povo tem o governo que merece".

O que dizer do povo brasileiro que de dois em dois anos comparece alegremente às urnas eletrônicas para eleger seus algozes?

As vezes penso que o eleitor brasileiro devia colocar o dedo numa tomada 220V para tomar um choque de realidade e atentar para as tantas modalidades, jogos de cenas, barganhas de peças que vem fortalecendo ainda mais o reinado corporativista do eterno império do oportunista continuísmo.

Diante desse estado deteriorado, decadência e ruína dos verdadeiros valores, na minha opinião, a melhor opção do eleitor no dia das eleições, seria:

EM PRAÇA PÚBLICA, QUEIMAR O TÍTULO DE ELEITOR EM UMA FOGUEIRA CÍVICA.