Édipo, sem complexos

É vaticínio bíblico esse boom tecnológico que vivemos; o mesmo foi revelado ao profeta Daniel, uns seis séculos antes de Cristo. Sendo um fenômeno contemporâneo, claro que não poderia ser conhecido noutras eras, salvo, mediante revelação Divina.

Entretanto, quatro séculos antes de Daniel, viveu Salomão, que segundo as Escrituras, foi o mais sábio de todos os homens. Como ele não criou nada parecido com o que temos, natural concluir que, sabedoria e conhecimento são faculdades diversas.

O conhecimento pode ser mera aquisição externa, um processo mecânico que se entende como funciona, e manda ver; como operar um computador, jogos eletrônicos e assemelhados, por exemplo.

Nessa área, crianças, normalmente mostram mais facilidade que os adultos, uma vez que não trazem em seus “discos de memória” nenhum “programa” obsoleto que precise ser descartado. Apenas aprendem o novo, facilmente assimilável.

A sabedoria, porém, não pode ser “tatuada”, afinal, é patrimônio interior reservado a quem já viveu bom tempo e aprendeu as lições da vida.

Os mais velhos estudaram a tabuada sem calculadora à base dos risquinhos, e seu trabalho valia à pena; não pelo resultado em si, que era o mesmo dos robóticos atuais, mas, pelo processo a que era submetido o cérebro; treinado a pensar, ao raciocínio lógico.

Como explicar, por exemplo, à luz desse mesmo raciocínio, que após ver os mortos-vivos que o oxi, crack e similares produzem, alguém ainda resolva entrar para o “time”? Vemos que o conhecimento das consequências não é fator persuasivo suficiente para uma escolha sábia.

Às vezes me pergunto se o fato de usarem canhões aqueles que ainda deveriam atirar com bodoques é uma escolha sábia de nossa parte...

– Como restringir a tecnologia às crianças? Isso é irreversível! Eu sei. A questão é: Onde irá nos levar?

A sociedade está dividida de forma bem desproporcional; uma minoria impotente que pensa, e outra maioria atuante, que faz. (não que os pensantes sejam ociosos) Claro que filosofar sobre o porquê das coisas é muito chato, e a galera está mesmo a fim de curtir.

Nesses átrios sem cercas onde é proibido proibir, antes que os sapientes digam como deve ser, os atuantes mostram como é. Ao invés de se ensinar cultura de qualidade ao povo, se “canoniza” toda sorte de baixaria e mau gosto sob o rótulo “santo” de “manifestação cultural”.

Esse “Darwinismo” reverso onde, via “seleção natural” parece que só os piores sobrevivem cria pratos indigestos aos paladares mais apurados.

Ai convivemos com certos funks, raps, com mensagens apologéticas da pornografia ou das drogas, os “se te pego”, as mulheres Melancia, Moranguinho, Abacaxi, sei lá, cujo “talento” é terem bundas e seios avantajados, e exibi-los sem pudor.

Não vai longe, teremos “shows” de cuspe à distância, do pum mais potente... aliás, nos States já tem campeonato de comer hot dogs e coisas piores, nada como o primeiro mundo. A geração vindoura promete.

Há um provérbio asiático que diz o seguinte: “Não herdamos a terra de nossos pais; tomamos emprestada de nossos filhos.” Isso entendido, significa que devemos zelar pelo que legaremos a eles. Mas, me pergunto, vale apenas quanto à terra, ou toda sorte de legado?

Tendemos a desfazer das coisas antigas como sendo de pouco, quando não, nenhum valor. Ora, os de ontem que fizeram coisas relevantes com menos recursos técnicos, além de mostrarem um engenho superior, ainda abriram caminho para os sucedâneos, e isso não pode ser desprezado.

“Muita gente está convencida que o mundo está cada vez mais sábio. Na verdade, não é o que acontece. As gerações precedentes eram mais sábias e descobriram o essencial da sabedoria. Mas, como elas estabeleceram os fundamentos da sabedoria, as gerações seguintes se encontram mais sábias, já que tudo lhes foi preparado. Mas aquele que prepara é sempre maior do que aquele para quem se preparou.” Nahman de Bratslav.

Outrora as figuras dos pais eram referenciais aos filhos, modelos a imitar, sinônimo de proteção. Em muitos ambientes “turmaliticamente corretos” seria “pagar mico”, estar com pai ou mãe em determinadas situações.

Lembro de uma canção gaúcha que expõe de forma mui linda essa admiração filial cada vez menos encontrável; ela diz: “Das roupas velhas do pai, queria que a mãe fizesse, uma mala de garupa, uma bombacha e me desse... (depois de alistar mais uns anseios, explica seus motivos) ...pra me digam quando eu passe, saiu igualzito ao pai”.

A salutar transmissão atávica se perde porque, de posse do conhecimento pré-fabricado, os filhos hodiernos desprezam aos pais, presumindo saber, quando apenas conhecem.

Assim, “matam” aos pais como fez Édipo com Laio, e como aquele, de certa forma ignoram o estrago que estão fazendo. Quiçá sentar e ouvir o que o coroa tem a dizer, ao invés de presumi-lo ultrapassado que não tá com nada...

“Não confunda jamais conhecimento com sabedoria. Um o ajuda a ganhar a vida; o outro a construir uma vida.” Sandra Carey