ATÉ QUANDO A JUSTIÇA BRINCARÁ DE CABRA-CEGA?

Imagine esta cena.

Eu vou dirigindo o meu carro calmamente pela rua.

Você está andando de bicicleta no mesmo local.

Eu passo encima de você e estraçalho o seu corpo, matando você na hora.

Vem o resgate, em vão, vem a polícia, vem gente olhar.

O que deveria acontecer comigo?

Passaria por todos trâmites de praxe (bafômetro, BO, etc. etc.).

E depois?

Se eu for um cara comum, serei processado por homicídio, certamente culposo, já que não tinha motivos para premeditadamente acabar com a sua vida.

Se for um cara rico, ou filho de cara rico, azar o seu. Danou-se.

Contratarei um advogados 5 estrelas e vou alegar que você estava bêbado, trafegando cambaleante no local incorreto e cometeu a heresia de postrar-se no meu caminho.

O doutor vai afirmar, com toda veemência que seus polpudos honorários poderão suprir, que eu dirigia dentro de todos os conformes, estava sóbrio até a quinta geração e que, nessa história, não sou o bandido, sou o mocinho.

A imprensa vai cair de pau, mas como faço parte de um Grupo empresarial de notória e velada influência em todos os escalões da República, logo, logo, logo, os espaços que o tema dará na midia vai diminuir, diminuir, diminuir, até virar fato consumado e relegado ao esquecimento eterno.

Para aqueles Quixotes que resistirem em não deixar o assunto morrer de vez, aplicarei um "cala-boca" infalível, por bem ou por mal, até que deixem de encher o saco falando dessa pauta tão sem importância.

E assim a vida seguirá o seu curso.

A família enlutada será devidamente indenizada e poderá chorar a sua perda com um pouco mais de conforto.

Pensando bem, até que não foi ruim de todo...

É claro que essa história faz parte do arsenal das suposições, exemplifica uma situação hipotética, infitivamente distante do seu universo de abrangência.

Fique tranquilo, coisa assim nunca acontecerá com você

ou com alguém da sua família, que estão acima do bem e do mal.

Essa impunidade fétida dá nojo, esse gritante privilégio que o sistema tatua os poderosos, permitindo que, literalmente, cuspam nas leis, nos direitos de cada um e, sobretudo, na igualdade que deveria ser regra para todos os nascidos nessas plagas tupiniquins.

Pura e estonteante balela.

Enquanto aquela pobre mulher, que rouba uma margarina do mercadinho de bairro para colocar no pão duro do seu filho faminto, ficará apodrecendo na prisão por todos os anos da sua vida,

aquele endinheirado que destroça uma vida em segundos ficará gargalhando do alto do seu Olimpo inatingível, com a divina certeza de tudo ficará por isso mesmo.

Triste do país que tem algo assim pendurado na sua história.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 29/04/2012
Reeditado em 30/04/2012
Código do texto: T3639601
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