Quem Fomos Nós no Século XX: as grandes interpretações do Brasil.

Departamento de Letras / Departamento de Geografia e História

Graduação Letras – Disciplina: Cultura Brasileira

Professora Dra.: Laura Nogueira Oliveira

Aluno: Luís Antônio Matias Soares

Texto:

Quem Fomos Nós no Século XX: as grandes interpretações do Brasil. Redija uma lauda sobre ele.

Logo nas primeiras linhas e parágrafos do texto, Alberto da Costa e Silva nos apresenta algumas das possíveis “interpretações” do Brasil e do povo brasileiro na visão do Europeu e do homem branco. Tal visão partia do conceito de eugenia, definido na Wikipédia (2012) como sendo:

Um termo cunhado em 1883 por Francis Galton.... Galton definiu eugenia como o estudo dos agentes sob o controle social que podem melhorar ou empobrecer as qualidades raciais das futuras gerações seja física ou mentalmente. O tema é controverso, particularmente após o surgimento da eugenia nazista, que veio a ser parte fundamental da ideologia de pureza racial, a qual culminou no Holocausto.

Dividido entre duas percepções distintas, uma que nos incita a amarmos e defendermos a terra onde nascemos e o sangue que corre em nossas veias e, outra, que nos leva quase ao desprezo de nós mesmos e da nossa origem (negros, índios e branco, em mestiçagem), o estudioso Nina Rodrigues, médico e antropólogo poderia se sentir psicologicamente perplexo e depressivo diante de tais teorias e de sua (auto) aplicação em si mesmo.

Outras “interpretações” surgem com a apresentação do livro Os Sertões, do escritor Euclides da Cunha e na obra de Silvio Romero. Ainda que intelectuais brasileiros de vanguarda, ambos os autores acabam por aceitar e assumir a idéia de sermos uma raça inferior diante dos superiores europeus brancos. Surge então a estranha (mas ainda hoje tão presente!) ideia do branqueamento e do melhoramento da raça. E tudo isso baseado em conceitos então vigentes na ciência. Já na obra de Oliveira Viana (Populações Meridionais do Brasil e Evolução do Povo Brasileiro), concluíra-se que o Brasil conseguira se fazer devido aos brancos e apesar da presença dos índios, negros e mestiços.

Capistrano de Abreu, no entanto, não considerou em nenhum ponto de sua obra qualquer inferioridade do povo brasileiro ou superioridade do europeu branco. Para Abreu o Brasil em verdade começara a ser construído pelo mameluco (ou o caboclo, miscigenação do branco com o índio), não dando maior importância nem para o branco e nem para o negro africano. Na mesma linha se achava o estudioso Manuel Bonfim que criticou em sua obra O Brasil na América as teorias supostamente científicas sobre a diferenciação racial, vendo nelas a ideologia da dominação européia e norte americana sobre o resto do mundo e justificando o imperialismo. Para este autor, os povos não eram distintos por serem de raças diferentes, mas por terem culturas diversas decorrentes de momentos históricos igualmente diferentes. Tanto Alberto Torres quanto Bonfim consideravam como origem dos problemas brasileiros os aspectos econômicos ou políticos (por exemplo, a ganância da metrópole e os desacertos das elites que a substituíram no controle do país) e não os raciais.

Outro autor da maior importância a enfatizar sua visão sobre o homem brasileiro foi Monteiro Lobato. A partir da percepção do caipira (jeca tatu), Lobato busca repassar aos leitores uma visão cômica sobre o imobilismo e a apatia do homem do campo como decorrentes não de aspectos raciais e marcados com a possibilidade de construção ou projeto de melhorias para o Brasil. Acredito que esteja aqui o início da ideia do Brasil enquanto (eterno) país do futuro.

Neste aspecto teremos no final da década de 20 a semana de arte moderna como busca da juventude (poetas, prosadores, historiadores, músicos) de “descobrir” o Brasil ou, ao menos, procurá-lo, construindo-se uma ruptura entre a cultura “brasileira” e a européia e portuguesa. Era uma espécie de “grito da independência” cultural e primeiro vagido do nosso nascimento enquanto povo, visão e cultura especificamente brasileiros. Isto nos lembra o Manifesto Antropofágico de Osvald de Andrade e a obra Macunaíma, de Mário de Andrade. No primeiro caso éramos (somos) como índios ou negros canibais que devoram a cultura externa, assimilam-na e (re) criam o nosso próprio jeito de olhar e perceber o mundo. No segundo exemplo, temos um Mário de Andrade descobridor da arte, dos festejos e das danças do povo.

Toda essa visão principiara a mudar a imagem do Brasil que os brasileiros passavam a ver e a ter, nos apresentando novas interpretações de nós mesmos. Foi assim que em 1933 surge o livro Casa Grande & Senzala. Nele, Gilberto Freire demonstra que não éramos um país de brancos, mas de negros, estando o negro em cada um de nós e que sem o negro não seria possível a existência do país. Todos nós somos mestiços na cultura. A partir daí, mesmo que o Brasil ainda não fosse de fato uma democracia racial, pelo menos surgia a ideia e a possibilidade de que poderia sê-lo.

Surge então um Brasil como junção complexa não meramente das três raças (brancos, negros e índios), mas de povos com as mais variadas culturas e provenientes dos mais distintos pontos da África (benins, nupês, songos, andongos, etc), da Europa (italianos e portugueses de várias localidades), Ásia e da própria América, fonte e alimento para a criação de um povo multicultural, o brasileiro.

Outro autor de grande importância foi Luís da Câmara Cascudo, que contabilizou em suas obras muito do que seria o brasileiro: suas artes, danças, hábitos, modos de convivência, etc. Era bom gostar de ser brasileiro e aceitar os acertos, os medos e os próprios defeitos. Devíamos ser nós mesmos e não uma mera repetição (simulacro) dos europeus. Isso nos faz lembrar as palavras do Presidente Lula quando questionado sobre o andamento “atrasado” das obras para a Copa do Mundo. Ele disse que faríamos as obras e a copa do nosso modo e não como já o tenham feito alguns dos demais países do mundo. Temos o nosso próprio jeito de fazer coisas, completou ele, e era bom que aprendessem a respeitassem os nossos modos.

Em seguida veio a obra Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda, buscando descobrir as razões do atraso e das injustiças brasileiras. Essas foram algumas das muitas visões e interpretações do Brasil e do povo brasileiro, principiando, como vimos, pela percepção dos europeus sobre nós e terminando com as nossas próprias visões e criações sobre nós mesmos.

Faz-se ainda referência a uma série de outros pesquisadores e artistas como, Caio Prado Júnior (Evolução Política do Brasil), Celso Furtado (Formação Econômica do Brasil) e Antônio Cândido (Formação da Literatura Brasileira), Villa Lobos e Portinari, Cecília Meireles, Guimarães Rosa, João Cabral de Melo Neto e Aleijadinho, etc., e, cada um, a sua maneira e do seu próprio ponto de vista, conclui que não éramos mais portugueses desterrados, mas um povo que fora adquirindo ao longo da história a sua própria fisionomia, ou melhor, todas as nossas muitas fisionomias, tradições e valores relativos a cada região ou localidade do Oiapoque ao Chui.

Referência:

- SILVA, Alberto da Costa e. Quem fomos nós no século XX: as grandes interpretações do Brasil. In: MOTA, Carlos Guilherme. Viagem incompleta: a experiência brasileira. 2ª. ed. São Paulo: Editora Senac, 2000. p. 17-41

- Eugênia. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Eugenia Acesso em 25 de abr 2012