LULA, O BRAVO QUE IDOSOU.

Confesso que fiquei surpreso e triste ao ver o ex-presidente Lula hoje na TV. Aquele que outrora fora um incansável esbravejador, transformou-se num vovozinho como qualquer outro. Aquele cara que era um dos pilares da raça nordestina no que refere-se à capacidade de sobreviver nas mais adversas terras, o circo em que se traduziu o cenário político do nosso país, havia se curvado diante dos demandos do tempo e da doença. Admiro de montão o Lula. Vindo de onde veio, foi derrubando, uma a uma, cada peça do dominó que deparava pela frentre, até chegar aonde, suponho, sempre quis. Um país que sempre privilegiou os poderosos, os "estudados", os de "boa família", parir um espaço como esse que o Lula arrebatou de forma tão eterna, tão legítima, é de tirar o chapéu. Tantos percalços, tantos amargos hálitos da derrota, tantos abutres querendo roubar o teco de comida que sobrou do seu prato, tudo isso só deve ter servido para transformar o seu sangue no mais puro e belo concreto, para que fosse capaz de domar seus medos, de driblar suas dúvidas e de nocautear quaisquer ímpetos que teimassem em tirá-lo do seu caminho. O Lula talvez seja a mais gritante síntese do povo brasileiro, teimoso ser que não perde nem embriaga a sua ginga e é capaz de tudo, quando é isso o que quer. Sem entrar nas searas partidárias, o marido da dona Marisa é um bravo, com todas estrofes, varandas e peles que um bravo deve ter. Perceber que esse gigante está caído, que sua alma se mostra fraca e que o peso das cicatrizes do câncer não dá moleza e nem pergunta se pode entrar, encheu-me de tristeza e pesar. Talvez isso tenha ocorrido porque traduzi essa imagem da TV como um atalho para que ele jogue a toalha e deixe a vida seguir seu caminho. A vontade que tive vendo o nosso ex-presidente lendo o seu discurso sentado, ao invés de dar vazão às palavras que teimassem naturalmente em ir pra fora, com aquele semblante idoso que um dia será o nosso, foi de chorar. Se pudesse, daria um dia da minha vida para que o Lula tivesse um pouco mais de sumo, um pouco mais de fôlego, um pouco mais de chão.

Que o tempo tenha piedade dele.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 05/05/2012
Reeditado em 05/05/2012
Código do texto: T3650448
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