DO PODER DA GRANA...QUE TUDO COMPRA!

Ele existe desde mil novecentos e noventa e cinco, e desde então, o freqüento assiduamente.

Considero-o um grande privilégio para os paulistanos, e para quem quiser nele desfrutar de alguns resquícios de mata atlântica.

Costumo defini-lo como uma ilha... “uma porção de mata, cercada de concreto por todos os lados”, e confesso que dele tenho tirado inspiração e histórias para os meus escritos.

Nesses doze anos de sua existência, o conheço como à palma de minha mão; cada árvore, cada trilha, cada pássaro, cada banco, cada canto, cada teia de aranha que se dependura pelos galhos.

Embora sendo uma área pública do município, sua gestão é de responsabilidade duma fundação, e à prefeitura cabe a co - participação gerencial e as demais fiscalizações que se fizerem oportunas. Muito bem.

Mas, o que me trás aqui, são fatos inusitados que têm ocorrido no desenrolar do tempo quanto à ocupação de seu espaço, e quanto às finalidades as quais o parque se destina.

Faço as seguintes considerações na qualidade de cidadã que cumpre regularmente com a obrigação dos impostos, e que não possui experiência política e tampouco de gestão ambiental.

Há não muito tempo, fui informada por uma amiga que , ao desejar lá realizar um pic-nic com “meia dúzia de crianças”, dirigiu-se à administração do parque para as devidas informações, mas lhe foi vedado tal evento com base nas normas que regem o funcionamento do parque; que não permite a entrada de alimentos no seu espaço, por se tratar de um espaço verde com finalidades COMTEMPLATIVAS tão somente.

Mais recentemente, foram construídos uns quiosques para a venda de água de coco e alguns energéticos e re-hidratantes, posto que há belas trilhas para caminhadas e corridas. Em nenhum momento percebi que tal atividade danificava a imagem ou o funcionamento da área.Ao contrário... os cocos eram a festa da criançada e dos adultos.

Certa manhã, deparei-me com os quiosques fechados e com a comunidade realizando um abaixo-assinado, para que fossem reabertos, pois a fiscalização da prefeitura vetou o seu funcionamento, novamente embasada nas normas que regem o espaço.Nunca mais se conseguiu trazer os cocos de volta.

Lá, a voz do povo não é a voz de Deus!

Mas há uma aberração que aos meus olhos é gritante.

Muito freqüentemente, o espaço do parque tem sido utilizado para comemorações e festas de casamento da elite, sempre aos sábados a noite, sob o sigilo de toda segurança e funcionários do parque, contrariando inclusive a lei do silêncio e incomodando a população vizinha, que muito reclama.

A área começa a ser isolada logo nas manhãs dos sábados de festa, impossibilitando os usuários do parque de circularem por ali.

A infra estrutura das festas é gigantesca, uma parafernália arquitetônica de ferros e tendas desmontáveis, que chama atenção até dum olhar menos atento.

Carros de altíssimo luxo entram e saem do estacionamento do parque nas vésperas dos acontecimentos.

Como cidadã, repito, resolvi me informar junto à administração do parque, qual era o objetivo e o critério para que estas festas fossem realizadas.

Recebi como justificativa, que o intuito era o de angariar recursos para a sua manutenção , posto que a folha de pagamento dos funcionários e as despesas gerais são muito altas!

Mas quem dele se utiliza percebe que cada vez menos as reposições do necessário estão sendo feitas!

Falta sinalizações e cascalhos nas trilhas, bancos quebrados, enfim aquelas minúcias que os atentos percebem ao longo do tempo.

Fui informada pela administração, que só o ALUGUEL DO ESPAÇO custa por volta de trinta mil reais, e que informações adicionais só poderiam ser fornecidas pela própria prefeitura.

Agora eu pergunto:

Pic nic não pode...mas buffets de festas milionárias ...pode?

Água de coco não pode...mas wiskys, espumantes franceses, vinhos e demais bebidas refinadas...pode?

O regulamento é para todos, ou apenas para o público que não gera lucro?

Por que não existe comunicado de esclarecimento das festas no mural do parque?

Quem faz os eventos?

Quem fornece a autorização?

Quem gerencia a logística e o faturamento?

Por que o parque não tem a manutenção proporcional ao “faturamento”?

O erário participa dos lucros...ou não?

Cidadãos “comuns”...podem fazer festas de aniversario dos seus filhos?

E a lei do silêncio?

E a vegetação...agüenta o cenário artificial que lá se monta com freqüência?

E a fauna do parque não sofre com as luzes e com os decibéis das orquestras em alto e bom som?

Não sou bióloga, mas...os grilos para se fazerem ouvir nas noites de gala...não ficariam roucos?

Não obtive respostas da gerência local.Apenas um pigarrear e uma falta de eloqüência às perguntas tão óbvias.

Deixo claro que aqui não faço acusações.

Apenas perguntas no intuito de me esclarecer e aquietar frente às atitudes de gestão incongruentes demais, e aos fatos que se mostram aos olhos nus de quem enxerga!

Estava certo o Caetano...deve ser a “força da grana que constrói e destrói”...mas também compra coisas belas.