CANALHAS NÃO MORREM JAMAIS.

Observando os anúncios fúnebres publicados em jornal, tem-se a nítida impressão de que somente os queridos, inesquecíveis, saudosos e pessoas exemplares partem desta pra melhor.

E pra onde vão os safados, escroques, aqueles péssimos pais, horrendos maridos e execráveis filhos?

Imagine que uma família se junta pra discutir o teor do anúncio fúnebre e, apesar da dor recente da perda, não consegue encontrar um adjetivo que enaltecesse a memória do falecido, porque todas lembranças desenterram literalmente suas pisadas de bola, suas aprontações mil.

Foi um cara da pior espécie desde seus tempos de mamante no peito da mãe.

O rastro que deixou nestas plagas terrenas não consegue resgatar nenhum fato, intenção ou seja lá o que for que não tivesse enxarcado de má intenção, de dissimulação incontida, de desenfreado descaso pelo próximo, e pelo distante também.

A sua história vivida não passou de um calhamaço de sacanagens, verdadeiro rosário de falcatruas em tudo o que pôde colocar a mão, em tudo que tivesse envolvido, direta ou indiretamente.

Tentaram rastrear mais a fundo sua biografia e só sobraram a escória, a canalhice, um lodo fétido e encardido que dava vontade de vomitar.

Decidiram, talvez enebriados pelo momento, falar a verdade.

E colocaram no jornal um anúncio que realçava o caráter nebuloso do morto, sua personalidade encardida e bandida, a profunda falta de saudade que sentiam dele de fato.

Só assim os familiares puderam descansar em paz.

E o morto também.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 08/06/2012
Reeditado em 09/06/2012
Código do texto: T3712027
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