A Coisa em Si

Quando definimos algo, como coisa, desejamos instalar nessa adjetivação, algo indefinido. Pois a coisa, apesar de apresentar-se como algo exposto, no sentido de objetivo indicado pela palavra que a qualifica, não é algo especificamente esclarecido, ficando aberta a interpretações do que seja. Quando pensamos em uma “cadeira”, por exemplo, por mais que tenhamos inúmeras variáveis, bem como diferenciações em estrangeirismos, onde o nome pode ter outro significado de acordo com cada cultura, ainda assim, iremos logo projetar a imagem ao qual somos remetidos.

O fenômeno da coisa, tão discutido por filósofos, com exposições maravilhosas desde os gregos pré, durante e pós socráticos, chegando até belíssimas argumentações como a heideggeriana. Não podemos deixar de nos impressionarmos com esse objeto dito coisa, definido a partir de sua indeifinição, expressando aquilo que é sem se mostrar ser. Coisificar também se refere a transformar em algo comum, a potno de misturar-se e perder a identidade que a difere dos outros, já que a coisa pode ser qualquer outro que assim concebermos, ela remete a uma não-identidade que se pasteuriza em meio ao significado de caráter múltiplo e pontual.

Nos faz ainda pensar, sobre a teoria nietzscheana, com seu eterno retorno e vontade de potência, tão elucidada por admiradores de sua obra, como Gilles Deleuze, onde observa o uno da diferença que se faz múltiplo na repetição. Repetidos dessemelhantes em uma unidade diferencial. Assim é coisificar, fazendo com algo seja prcebido, sem que possamos dizer o que seja, com caráter múltiplo de ser o que pudermos conceber ser, sem que consigamos qualificar a ponto de embracar tudo, restando apenas a qualificação daquilo que é imediato, como diferente de nós, o outro coisificado.

Dizer que algo é coisa, significa que o difrenciamos dos outros classificáveis subjetivamente, ao mesmo tempo não perdendo sua singularidade, que é multiplicada a tantas outras que se agregam a esse coisificismo. Sabemos dessa coisa, sem nos darmos conta do que se trata, é uma insinuação, conforme todas aquelas sutilezas tanto do “Ser e Tempo”, de Heidegger, quanto aqueles tantos perceptos e afectos não nomináveis, nas exposições deleuzeanas.

Mas ainda existe um outro fenômeno, o chamado “a coisa em si”. Como observou Nietzsche em sua teorização da obra “Vontade de Potência”, existe algo não conhecido por nós, mas que está aí, sem que possamos dizer o que é. Estamos vislumbrados por nosso aparato racional, que nos torna animal capenga, que enxerga o mundo sob uma ótica reduzida de racionalismo. Vemos deturpadamente, criando impressões falsas, enquanto o que seria palpável, passa por nós sem que possamos perceber, até o momento em que nós passamos e viramos passado.

A coisa em si é algo além, já que por ser em si, o de fora não teria acesso. Como bem expôs Deleuze, esse conceito é contraditório e acrescento, ineficaz. Como afirmamos uma coisa em si, se já dizemos que ela é por si. Não podemos jamais acessar o que é em si, criamos apenas uma representação, uma novafalsidade acerca de uma metafísica que tenta se sustentar em um arcabouço frágil. Se essa coisa em si, passar ser percebida, deixa de ser em si, passa a ser em ti, em mim e em outras tantas formas que a torna apenas uma coisa, tanto quanto outras, naquilo que acima expus como coisificação. Até mesmo na teologia, teremos um deus coisificado, ele é tudo, logo, é nada. Fez-se coisa por estar em tudo sem que possa ser definido como algo específico. Mas não podemos jamais chamar o deus teológico, de coisa em si, senão nós, chamados de criação do mesmo, não poderíamos ter acesso a ele.

Portanto, esse fenômeno da coisa em si, é algo efêmero, existe apenas quando não podemos acessá-lo, o que significa que se faz inexistente. Ao acessarmos, perder o caráter “em si”. O que faz pensar, que a coisa em si inexiste, sendo apenas uma condição de nós definirmos o desconhecido na busca por tudo conhecer. Tudo é coisa em si, até o dia qu conhecemos, e a partir do momento que conhecermos, deixará de ser. A coisa em si é a morte, que quando chega o momento de nos defrontarmos com ela, j´não existismos mais, deixa de ter sentido. Nossa natureza é coisificante, coisificada, mas jamais esse coisismo sairá dessa superfície ao qual pertencemos. Temos a coisa em ti, em mim, em nós, para nós, mas jamais em si.