Santo Agostinho: da sua escritura à analise de nosso mundo - os desafios da fé cristã

Em Santo Agostinho e seu tempo, de A. Hamman, Editora Paulina, 1989, tradução de Álvaro Cunha, deparamo-nos com os costumes e tradições sociais e culturais da época agostiniana.

Durante a leitura, observei que nossa contemporaneidade ainda mantém costumes relativos à família e à sexualidade, semelhantes ao tempo do autor das Confissões.

Fiquei pensando que Agostinho, que se tornou o célebre bispo de Hipona, teve que se autodisciplinar mesmo diante das provocações eróticas e as facilidades que o padriarcalismo proporcionava aos homens. Sempre as mulheres mais cobradas naquele tempo e censuras, quando não obrigadas a sobreviver da prostituição.

Agostinho, realmente, vivia em um mundo marcado pelo hedonismo e ainda vigente de cultos neopagãos de fertilidade e as festas da prostituição sagrada ao lado dos cultos cristãos que se imponham vigorosamente apesar das críticas e endurecimento dos próprios cristãos convertidos, pois avaliavam que a ética cristã era muito rigorosa diante de tais contextos libertinos.

Assim, fico a meditar que hoje não é menos o desafio de ser cristão em uma sociedade marcada pelo culto ao corpo, ao sexo, ao dinheiro, ao poder, à corrupção - cada vez mais hedonismo se aperfeiçoa ao lado de novas tecnologias e comportamentos dos olimpianos e figuras célebres na internet e tevê.

"O pagão Máximo de Madura (...) ironizava as tradições africanas e zombava dos cristãos, disse o texto na página 43. "Naquele tempo, as refeições se degeneravam em bebedeiras e orgias" (p. 55) "Os jogadores gritavam, invocavam Baco e suas amantes." (p.59)

Mas é o capítulo IV, que reserva mais detalhes sobre a vida da família e as cidades do tempo de Agostinho, ambiente em que fora criado e educado, mais tarde, nesse contexto, exerceu sua função eclesiástica.

Há um texto de Agostinho que entende a misericórdia de Deus frente à miserabilidade de seus filhos: "Óh pecado original, que nos obrigou a ter um redentor, o Divino Senhor! óh, noite de alegria verdadeira, que une o céu à terra!" (Canto da Semana Santa)

Nesse capítulo IV, há descrição da juventude permissiva, o noivado, o casamento, a família,

"Como no Japão de hoje, muitas jovens cristãs escapavam da servidão conjugal através da vida religiosa." (p. 70)

Em Confissões, seu livro, Agostinho censura seus pais por não tê-lo casado ainda jovem, "para enfraquecer os espinhos das paixões." (p. 69).

"As mulheres se mantêm castas e os homens mostram-se incapazes disso. (...) Todas as amigas de Mônica viam as pancadas que ela recebiam do marido, estava lá em seu corpo de mulher." (p. 71)

"A infidelidade dos maridos era uma das misérias cotidianas de Hipona." (p. 72)

"Dentre os maridos levianos, alguns diziam, simplesmente: 'Deus não se preocupa com isso. E, os céticos, "Sera´verdadeiramente pecado?

(p. 73)

Para Agostinho, "a familia era um viveiro da cidade. (...) ao cair da noite, o marido voltava a seu lar, onde a sua mulher levava uma vida reclusa, ocupada com os afazeres domésticos e com a educação dos filhos, servada de servos. Frustrada, a mãe direcinadav toda a sua atençaõ para os filhos, a ponto de tornar-se exagerada. é o que explica o comportamento de Mônica, a mãe de agostinho." (p.75)

'Os filhos do pecado eram frequentemente abandonados. As virgens consagradas recolhiam muitos deles e dedicavam-se aos filhos dos outros. O Bispo de Hipona condenava o aborto , que era praticado generalizado na época." (p. 76)

Eis alguns textos: "As mães de leite sabem falar às crianças a única língua que entendiam (...), um elegante baubuciar infantil - o latim." (p. 76)

"O furto estava no coração dos nativos em uma região, onde a razzia, palavra africana, constituia um meio de subsistência. (...) Criança de 10 anos furtavam animais e cavalos..." (77)

Infelizmente para, Agostinho, a palmátória do primeiro professor destruiu o mito do paraíso infantil..." (p. 77)

Sobre os professores -Litterator e gramaaticus: "E o oficio continuava sendo uma profissão mal remunerada, sem grande prestígio, que , no dizer de Suetônio, concluía-se para muitos em um sótão solitário." (p.81)

"Normalmente, um escravaoacompanhava o aluno ou aluna, para protegê-lo contra os perigos da rua. Aquele que levava a criança e carregava sua pasta era chamado "Pedagogo" (p. 79)"

No capítulo V: Ricos e pobres: vejamos.

"Faço-me mendigo por causa dos mendigos, proclama o Bispo" Agostinho. (p. 109)

"Mas a fé te seria uma garantia mais segura se colocasses as tuas riquezas onde Cristo te aconselha que faças: nas mãos dos pobres." (Comentários de Agostinho dos Salmos 38,11.12; cap. V, dito acima, p.111)

Cap. VII _ A presença crista e sobrevivências pagãs:

PODE-SE SER CRISTÃO?: "Hoje a Igreja está mancando. (...) Vede os pagãos. Por vezes, eles têm o exemplo de bons cristãos, que servem a Deus. Admirando-os, eles convertem-se. Mas, por vezes, eles encontram maus cristãos e dizem: 'Eis os cristãos!' Pois estes são a Igreja que está mancando." (Agostinho - Sermão, 5, 8)