Dia 7 - a iguana
um poema, apenas um poema

a palavra escrita
como a crista dum lagarto vivo
mas imóvel parado
hirto como uma iguana
igual às outras iguanas todas
iguais e paradas sobre um rochedo
húmido à beira mar num dia
de chuva à beira mar

um poema, um poema apenas

Não resisti e quis fazer o sete, a sentença da minha própria crença em crença nenhuma!
Para que me possam amar, deixo um fim-de-semana inteiro, pelo meio..., antes de publicar este belo poema a que vou chamar: a iguana
Num assombro descubro que o título é igual e superior ao poema, nele o vou pôr como um chapéu posto.
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Dia 8 - engenhosa invenção
Maravilho-me como a engenhosa invenção vocabular, abro-lhe um buraco e bati_z_o-o de ouvido. Olho-o e penso que aí sou ouvido por estas palavras que escrevo, enquanto penso (-) as que irei escrever, penso:

Se ficasse surdo, continuaria a ouvir com os olhos, se ficasse cego, veria com o paladar e, neste momento, cresce-me água na boca..., se ficasse sem paladar, tactearia a inspiração e procuraria o per_fume da escrita virtual, escrita teclando: − Se ficasse surdo, queria ser Bethoven!

Acordo e ainda estou aqui a sonhar, o que vai deixar de dar jeito. Está feita a engenhosa invenção, designação (palavra que adoro como oro em oração sem adornos, apenas feita de ouro, no oiro das palavras) suspensa...
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Dia 9 - Caverna do Ali Babá
O que vale o tempo? Tudo e nada.
Dentro de três segundos morrerei... o coração bate... e já morri.
Para que é que estamos vivos? Nada. Tudo começa a partir duma palavra, sou crente: «no principio era o Verbo».
A cadela da vizinha acordou-me, quase sempre é uma gata: hoje mordeu-me!
Neste diário faltam dias, todos os dias deste mês, até o primeiro ficou incompleto. A minha mãe preocupa-se, eu não me preocupo, preocupo-me com ela.
A minha avó, a minha filha... Não me preocupo, vou dormir com a vizinha.
Ficou a pensar... o coração bate... Consegue dar conta?

> ? <

Foque este símbolo, esforce-se: tente aumentar pelo menos duas vezes o seu tamanho. Quando começa a conseguir é fácil... Agora entre no ponto que fica por baixo, no ponto de interrogação.
Exclame! Ame sem escamas, a caverna do Ali Babá abre com qualquer sinal, nem precisa de se persignar...
Onde fico > nu > role/ler o... nu completamente! Fim (do lero lero...)
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Nu 10 - Dia 10
A nudez é tudo menos possível ou todo o possível, mas a sua impossibilidade/ possibilidade é o que a reveste de encanto. Se a despíssemos, a nudez, ficaria nua e sem graça? Não; seria para a desgraça.!. A paixão e o amor soltos, em catadupa, de forma violenta, emotiva, lo/u/ca (*)
* loca, s.f.
Cala a boca!... Ninguém queira dizer a nudez e sair incólume do lume da sua tentativa, se não se queimar não terá andado nem perto da chama que o chama para o interior da realidade, para o seu desvendamento.
Foi assim o mês passado...
...
Só vendo sei o que se passou, e, o que (se) passou? Estou dentro do que escrevo! Limito-me a produzir o desvendamento, a tirar a venda, a ir vendo. Vendo o que vejo: velo/revelo, cont®a dizendo...
a nudez é tudo que é possível.
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geografia interdita - Dia 11
Olho para as palavras e é como se elas procurassem um destino algures, dentro de mim. É este algures, um indecifrável local oco dentro do destino que escavo na consciência, a geografia interdita dos textos.
Quem sou eu?
Neste momento sou nuvem, ave a passar. Sou o crítico teatral, aquele que procura a origem dos textos na origem das palavras, no palco da vida. Tendo por cenário a folha de papel até à tela dum PC, qualquer margem de jornal ou as costas dum envelope aberto e espalmado sobre a mesa duma esplanada frente ao mar.
Logo sentar-me-ei à frente do teclado e escreverei: Ele, com E maiúsculo.!. (eIe) e o que escrever assinaRei.
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linha pura -  Dia 12
Escrita a palavra-passe, "eIe" dá acesso à escrita impressa com as virtudes do virtual! O Rei da macacada, o Tarzan do 5º Esq., a Soror Mariana de Cu Furado, o deserdado do Céu, a alegoria da alegria montada a cavalo, o fim da picada...
Passo a redundância para a mão esquerda, atiro-a ao ar dividida em três e faço um pouco de malabarismo para exercitar os dedos! A redundância vira-se no ar e mergulha como uma baleia azul que vai testar as suas capacidades de imersão, desaparece na profundidade.
Por Fim...
Antes de fazer da pausa uma rede suspensa entre palmeiras, penso que verso conserva a pureza da ideia com a qual converso a escrita?
A linha pura do teu perfil
Perfilo as palavras em verso e, com elas, me despeço.


{em FEVEREIRO 2007
http://www.recantodasletras.com.br/cronicas/366284}
Francisco Coimbra
Enviado por Francisco Coimbra em 12/02/2007
Reeditado em 12/02/2007
Código do texto: T378548