Vivendo em um mundo aberto

Existem mundos abertos e mundos fechados.

Um personagem de vídeo-game, como o super Mario, vive em um mundo fechado; o número de possibilidades com que se defronta é limitado, por mais que faça, suas recompensas, por exemplo, são limitadas; consegue apenas moedas e cogumelos, não importa o que faça.

Nós, ao contrário, vivemos em um mundo aberto, podemos criar coisas novas. Por essa razão, somos francamente ilimitados. Apesar disso, a maioria de nós vive apenas repetindo os mesmos roteiros, copiando o que os outros fazem, como se fossem gnus. Os que assim procedem fecham seus mundos, passando a viver em um espaço de possibilidades absurdamente restrito; tornam-se cegos à infinitude de possibilidades que os rodeiam, percebendo apenas o mesmo que todos os outros cegos ao redor.

Em um mundo aberto podemos criar nossos caminhos, não precisamos andar, exclusivamente, por aqueles que já foram trilhados por outros; podemos desbravar nossas próprias trilhas, e construir nossas pontes sobre obstáculos eventuais.

Aos olhos dos homens-gnus, aqueles que se postam atrás de outros gnus para seguir seus passos cegamente, isso pode parecer um sonho incompreensível, talvez até torturante, embora miraculoso.

Mas não precisamos seguir os passos de ninguém, podemos criar nossos próprios caminhos, traçados em nossos sonhos. Esse é o significado de viver em um mundo aberto: nossos destinos são traçados por nós mesmos, em um mundo que, em certo sentido, se assemelha a uma tela em branco, na qual traçamos nossas vidas.

De fato, o mundo não nos chega vazio, em branco; ele nos chega repleto de paisagens, de fatos e pessoas. O mundo é um espaço imenso, ilimitado, variadíssimo, riquíssimo em diversidade. Mas toda essa riqueza maravilhosa só pode ser apreciada pelos que desgrudam da bunda dos outros. Os que permanecem com a cara colada ao rabo de outros gnus vêm apenas uma única e mesma paisagem. Vivem, portanto, em um mundo paupérrimo, monótono, seguindo o destino traçado pelo que lhe segue a frente, que por sua vez, copia aquele que caminha em frente a si, a exemplo do anterior e do outro, do outro, do outro...

Assim caminham os gnus, como se vivessem em um mundo fechado tendo como única possibilidades seguir os passos do que lhe vai à frente. Seus horizontes chegam apenas à bunda de seus vizinho, é só o que conseguem enxergar, alem do chão. Vivem vidas monótonas e tediosas, circunscritas à mesma paisagem restrita, ao mesmo pequenino mundo gnu.

É certo que a possibilidade de libertação aterrorizará os gnus. Tendo vivido a vida inteira a seguir os passos de outros, a liberdade, o horizonte livre, amedrontará os cativos. Incapazes de decidir qualquer outra coisa que não seguir os passos de outros, nunca optarão por se libertar.

Por essa razão dirijo-me aos jovens, aos que podem, ainda, vislumbrar os horizontes além do lombo de outros gnus.

O mundo é aberto, e isso é maravilhoso. O temor causado pela visão da liberdade pode compelir os covardes a se proteger no bando imenso; mas o bando se tornará uma prisão da qual nunca mais escaparão. Os que ali permanecem ficam impossibilitados de traçar seus destinos, de desvendar seus sonhos e realizá-los. Tornam-se escravos de uma mesma força invisível e obtusa que agrilhoa todo o rebanho, que o tange conforme desígnios alheios ao bando.

Erga a cabeça e observe, jovem! Observe o imenso rebanho de gnus obtusos e cegos a tudo o que não seja o lombo que lhe segue a frente. Confronte o desgastado caminho do rebanho com a imensidão aberta em todas as direções até ao horizonte. A decisão é sua.