Um dia
6h32. Gosto do céu. É tão monótono e forte, como quem espera o amor que nunca chega. Sem se deixar abalar, ele está sempre lá, brilhando.
13h14. Invejo o céu. Tão necessário, grandioso, autossuficiente. Duvido que ele tenha medos, insegurança, já que muda quando quer e como o quer. Uma eterna metamorfose cheia de si.
21h34. Pobre céu. Tão lindo, tão só. Pra sempre condenado a sustentar os astros e assistir à vida como um todo sem poder dela participar num papel principal, pra sempre no segundo plano. Toda sua beleza ironiza a tristeza que há em ser atado à si próprio pelos séculos dos séculos.
Ainda que todos os mundos se acabem, que os laços desatem e os relacionamentos se findem, ele estará lá, sempre o mesmo, apesar de diferente; e talvez seja isso o que o mantém: a esperança de um dia ser a única e irretocável lembrança de tudo que se foi.