Mulher

Este mundo foi criado para o homem ser o cabeça, ledo engano, agradável mentira que certos homem querem acreditar, pois quem manda mesmo, quem determina a forma, as cores, dá o tom da alegria da festa é ela, a mulher. Ela é o centro do universo. No mundo do homem tudo é monocromático, monocórdio, monótono, monofásico. Eis que a mulher surgiu para dar-lhe vida, aroma, beleza, graça, frescor, suavidade. Feliz o homem porque a mulher existe.

O homem é um ser das cavernas, solitário, simples, rústico, força, desbravador, conquistador, caçador, mantenedor, procriador, previsível. Contenta-se com pouco, mas ao alcançar o que deseja, arrisca tudo em busca da próxima empreitada. Sua visão é limitada, contenta-se em viver o momento, gosta da competição, do perigo, da fantasia. Sonha e, parece que sempre estar a sonhar.

No mundo da mulher o acaso não determina suas ações, o improviso é um inimigo detestável, cada atitude é um acontecimento estudado, pensado, elaborado. Quando ela decide ir ao cebeleireiro, ao shopping, visitar uma amiga, reunião na escola dos filhos, ao supermercado, à feira, sempre é antecedido de um preparo especial, como se fosse a uma festa. Qual roupa usar, sapato ou sandália, preocupa-se com o marketing pessoal, a aparência, a rede de amigas, quem vai estar lá, quem vai vê-la, sem prescindir de um bom banho, dos cremes, dos cosméticos. Quando se trata de um encontro romântico, aí sim, o preparo extrapola todo o entendimento e paciência do homem. Quando resolve ir às compras, a glória de sua vida, o máximo de prazer alcançável, só a companhia de outra mulher, como a mãe, amiga íntima ou mesmo sozinha, é possível acompanhá-la.

Todo o preparo para o evento, leva tempo, leva mais tempo do que o próprio evento em si. Para a mulher o preparo, o processo antes do evento, é também uma festa, um acontecimento antes do acontecimento. Excita-se, fica eufórica. Na visão do homem, o fator tempo, para a mulher, parece não existir, não ter importância, é algo atemporal.

Mulher é um ser da sociedade, tem instinto grupal, sociável, de preservação da prole, está sempre com um pé no hoje e outro no amanhã. Sonha, mas seus sonhos são mais reais, alcançáveis, manipuláveis. Vai à luta para conquistar algo que possa dizer que é seu. Trabalha de forma insana, para construir seu espaço, mas não é um espaço qualquer, é elaborado com muito esmero, muita dedicação. Quando conquista seu espaço, parece que o mundo é inteiramente dela, toma posse literalmente, vociferalmente, de tudo que a rodeia, rotula tudo como “meu”, meu marido, meus filhos, minha nora, meus netos, minha casa, minhas coisas, minha amiga, meus vizinhos, meu bairro, minha cidade.

Tem a energia de uma hidroelétrica, inesgotável. Sob seus cuidados há uma infinidade, uma montanha de coisas e problemas a resolver, como os do trabalho em si, a casa, os filhos, o marido, sempre com um olho clínico sobre o que acontece ao redor de sua casa, de seus vizinhos, de seus familiares distantes.

Detalhista, transforma um simples e rotineiro momento de café da manhã, almoço, lanche, janta em motivo de cuidado. Olha para os filhos, o marido, a casa sempre procurando algo fora do normal, na roupa, no asseio, todos e tudo têm que estar impecável. Sente-se culpada quando algo não passa em seu controle de qualidade.

Solidariedade, pode se dizer que é sinônimo de mulher, sempre estar disposta a doar-se. Sem tempo, parece estar sempre a esticar o tempo, parece que é um ser fora do tempo, arrancando um naco de tempo, onde não existe, para realizar, no tempo ou fora dele, suas gigantescas obras.

Seu instinto materno voa na velocidade da luz. É seu norte, sua bússola, aponta a direção a seguir, é a chave que abre as portas, é a alavanca que move o mundo, o seu mundo e os dos outros. Como dizia uma amiga, tudo isto a mulher faz e, de salto alto, literalmente.

Mulher, ser imprevisível, impossível de ser desvendada, compreendida. Ao alcance da mão do homem, mas ao mesmo tempo tão distante que chamá-la de “minha” mulher é cometer um sacrilégio, é querer apossar-se de algo que não lhe pertence com exclusividade.

Mulher, não apenas um presente de Deus para o homem, mas o maior, o melhor e o mais grandioso acontecimento na vida do homem.

O homem que se dá conta deste evento, a mulher, em sua inteireza, em sua vida, realiza-se, encontra-se.

E Deus abençoou o homem, criando, da costela dele, a mulher, para que ela governasse o mundo do homem, sem que ele percebesse. E, assim, se fez. Então, viu o homem, que tudo que Deus fez, estava muito bom, maravilhoso demais da conta.


Para “minha” adorável mulher: Keila C. Leitzke de Albuquerque, um auto-retrato.