O velho ano novo

Espetaculares queimas de fogos estão sendo preparadas, sobretudo, em lugares turísticos, para celebrar o réveillon, na noite entre segunda e terça-feira próximas. A palavra francesa réveillon, significa véspera; daí, diz-se da noite que antecede o ano novo.

Milhões de mensagens são trocadas entre parentes, colegas, amigos, amantes; todos se desejando mutuamente, um ditoso ano vindouro. Não vejo problema nisso, também o faço; mas, essas coisas que atinam mais a mero condicionamento cultural merecem um análise mais detida.

Via de regra, as coisas não acontecem num passe de mágica; as coisas que valem, ao menos, é necessário construí-las, laborar por elas.

Se acharmos que o ano novo trará em seus braços tudo novo, estaremos sendo ingênuos como meninos esperando o Noel. Que fantástico seria termos um ano sem crimes, violência, sem corruptos no poder, sem nulidades canonizadas, sem mercenários viçando sobre a boa fé, etc. isso até seria possível, mas, como vimos, os Maias estavam errados.

Como a coisa não implodiu, seguirá fervendo; a “virgem” mercadora na capa da Playboy, os famosos fazendo do casar e divorciar uma arte, os corruptos seguirão usando sua sempre útil máscara de palavras, enfim, lamento dizer, mas o ano novo será velho.

Muitos devem lembrar a ovelha Dolly, que foi clonada na Escócia em Julho de 1996, o feito se deu à partir de células de uma ovelha adulta, de seis anos, o que, acabou precipitando o envelhecimento do bicho, que teve de ser abatido em 2003, para não agonizar miseravelmente antes de morrer. A nova herdou a velhice de sua doadora, que somada à sua idade quando abatida era de treze anos. Assim, apesar de escocesa legítima, acabou com sabor de Scott paraguaio.

O que quero dizer com isso é que, se não ousarmos enfrentar nossas tendências ao erro, a humana inclinação ao vício, aos maus hábitos, a preguiçosa acomodação ao lugar comum, a única coisa que vai mudar, é a data.

Deus é bastante radical quanto a isso; chama sempre a uma ruptura com o velho; não como nós, que, eventualmente fazemos uma reforma; aos que aceitam Seu desafio, Ele transforma.

Falando com o príncipe Nicodemos, Jesus ensinou: “Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.” Jo 3; 3

A mudança preceituada na conversão é tão radical, que equivale a nascer de novo; o que, espiritualmente se verifica, a partir da habitação do Espírito Santo no convertido.

Paulo aconselha: “Alimpai-vos, pois, do fermento velho, para que sejais uma nova massa, assim como estais sem fermento. Porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós.” I Cor 5; 7 Ele evoca a figura do pão sem fermento usado na páscoa, então, para simbolizar o coração sem malícia.

Na segunda carta escrita à mesma comunidade, ele deixa em plano secundário o fato de ter conhecido a Jesus, pessoalmente, mas, prioriza a identificação espiritual, com plena ruptura com o passado. “Assim que daqui por diante a ninguém conhecemos segundo a carne, e, ainda que também tenhamos conhecido Cristo segundo a carne, contudo agora já não o conhecemos deste modo. Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.” II Cor 5; 16 e 17

Tudo se fazer novo; eis as consequências necessárias para atestarem o novo nascimento! Claro que, como a ovelha supra, trazemos as células velhas dos maus hábitos, más companhias; a transformação não se dá num passe de mágica; ainda que, a salvação seja imediata, para o que se arrepende e confessa.

Esse processo de abandono do antigo modo de vida é chamado de santificação, o que ele ensina noutra parte: “Que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe pelas concupiscências do engano; e vos renoveis no espírito da vossa mente; e vos revistais do novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade.” Ef 4; 22 a 24

Em suma, Deus gosta tanto do novo, que promete as salvos, novo céu e nova terra. Aliás, isso tem sido assunto mal compreendido por muitos, ao pensarem que o planeta vai se desintegrar, e voaremos para outro.

Falando sobre a transformação do planeta a Bíblia ensina: “...Ainda uma vez comoverei, não só a terra, senão também o céu. E esta palavra: Ainda uma vez, mostra a mudança das coisas móveis, como coisas feitas, para que as imóveis permaneçam.” Heb 12; 26 e 27

As coisas feitas pelo homem, sobretudo, serão removidas de sobre a terra, quando se cumprir o Apocalipse, e as transformações serão tais, que a mesma terra será nova, assim como o convertido, que, sendo, de certa forma o mesmo, é nova criatura.

Afinal, quando revela seu plano bendito, Deus não prometa fazer tudo de novo, ou seja, criar outro planeta, mas, renovar a esse mesmo: “...E o que estava assentado sobre o trono disse: Eis que faço novas todas as coisas.” Apoc 21; 5

Então, as coisas cíclicas vêm e vão, não há novidade nisso, aliás, Salomão achou enfadonho; “Uma geração vai, e outra geração vem; mas a terra para sempre permanece. Nasce o sol, e o sol se põe, e apressa-se e volta ao seu lugar de onde nasceu. O vento vai para o sul, e faz o seu giro para o norte; continuamente vai girando o vento, e volta fazendo os seus circuitos. Todos os rios vão para o mar, contudo o mar não se enche; ao lugar para onde os rios vão, para ali tornam eles a correr. Todas as coisas são trabalhosas; o homem não o pode exprimir; os olhos não se fartam de ver, nem os ouvidos se enchem de ouvir. O que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se fará; de modo que nada há de novo debaixo do sol.”

E não que eu seja pessimista, mas, continuará sendo assim, “debaixo do sol”; ou seja, a vida natural; afinal, quem recebe O Salvador, recebe junto cidadania celeste, e mesmo vivendo ainda aqui, seu valores são novos, de lá. “Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus.” Col 3; 1

Feliz nascimento novo!

“Só Deus e alguns gênios raros continuam a avançar pelo campo da novidade.” Denis Diderot