A AUSÊNCIA PRESENÇA

"AUSÊNCIA"

"Num deserto sem água

numa noite sem lua

num país sem nome

ou numa terra nua

por maior que seja o desespero

nenhuma ausência é mais funda do que a tua."

Sophia de Mello Breyner Andersen

* * *

A AUSÊNCIA PRESENÇA

Concordo em absoluto com o conteúdo desta pequena, grande poesia de Sophia de Mello Breyner Andersen. Realmente, nada, nem o maior desespero, se pode comparar à ausência de quem desejamos a presença. Se aplicarmos este teorema à família, ele assenta quem nem uma luva.

Claro, que não é da "ausência física" que pretendo falar neste pequeno ensaio sobre a Família, porque essa pode, na verdade, causar o "desespero da saudade" mas, mesmo assim, ela é possível de definição e também de superação quando voltamos a encontrar esse alguém que tanto desejamos ver. Se essa ausência física for a da morte, mesmo assim, ela é possível de definir como a "saudade sem remédio" e, para tal, é o tempo o melhor lenitivo.

É da "ausência presença" que pretendo falar, ela é, na verdade, incomparável no desespero que provoca. É tal o seu nefasto poder sobre o nosso sentir que, quanto a mim, é o mais terrível "vírus" que se pode instalar nas famílias, tanto mais que é altamente contagioso, se propaga de pais para filhos e é bem difícil de combater.

De tal maneira a "ausência presença" tem invadido os nossos lares que quase a podemos considerar a causa dos maiores males psíquicos que presentemente assolam as famílias, podendo até, em muitos casos, principalmente nos jovens e em pessoas mais sensíveis e introvertidas, levar à saturação de tudo e de todos e, em consequência disso, ao vício das drogas ou do álcool e até ao suicídio.

Temos que lutar para que a indiferença e o silêncio não se instalem nos nossos lares. É preferível uma discussão, ou até uma pequena agressão física do que o silêncio, a indiferença, ou seja a "ausência presença".

Temos que estar sempre presentes em todos os cantos da nossa casa, isto é, na alma dos nossos entes queridos. Não podemos deixar que eles se fechem por dentro e fiquem lá sozinhos a pensar que o mundo acabou e não há mais sol no seu jardim. Temos que tentar espreitar, nem que seja só por uma nesga da janela que se está a fechar à nossa beira.

Por favor, famílias de todo o mundo, vamos todos juntos levar mais sol aos corações dos nossos filhos, dos nossos netos, de toda a nossa família.

Vamos abrir a nossa janela e tentar abrir as que se estão a fechar ao nosso lado, dizendo:

- Abre a janela, não estás

"Num deserto sem água"

Eu estou aqui:

- Sou a água do teu deserto

e quero estar presente para a levar aos teus lábios e dizer-te: - Bebe que assim não morrerás à sede de afecto. Não estás

"numa noite sem lua"

Eu estou aqui para te mostrar que:

- Sou o luar na tua noite

Por isso, não morrerás nas trevas. Eu quero repartir contigo a luz das minhas ideias e ver as tuas. Abre também a porta e vem para a rua, não estás

"num país sem nome"

Estás comigo,

num país chamado Amor

onde quero viver contigo. Vem, porque não estás num ermo

"ou numa terra nua"

Aqui há um jardim,

em que a terra é ternura

e as flores, carícias em teu rosto!

* * *

Há milhões de janelas que se estão a fechar em todas as famílias por culpa da ausência dos nossos corações e,

"por maior que seja o desespero

nenhuma ausência é mais funda do que a tua."

Gisela Sinfronio
Enviado por Gisela Sinfronio em 09/03/2007
Reeditado em 25/04/2007
Código do texto: T407372