Caro Adalberto.

Na história da literatura, conteúdo e forma foram desenvolvidos, deixando pouco espaço a novas criações. Fazemos variações em torno dos mesmos temas. Que bom!  Dos pré-socráticos até hoje, belos livros, de todos os gêneros esperam a nossa leitura, que nossa vida efêmera não nos permitirá encantar-se. “Tudo que tinha para ser dito, foi dito, inclusive isso (grifo meu). Fica-se a impressão de que chegamos tarde”. Foi La Bruyère (século XVII) quem assim se expressou, em seu livro Caracteres. Não estou sugerindo passividade. Quem gosta de escrever, continuará. Por outro lado, dispomos de novas ferramentas a facilitar a vida do escritor. Escrever o quê? Depois de três séculos da afirmação de  La Buyère, novos e belos livros foram escritos. Em torno dos mesmos temas: amor, ódio, vingança, altruísmo, guerra e paz, costumes, comportamento, etc. Como lhe disse antes, “sou alheio a qualquer intenção crítica, que somente levam a mal-entendidos mais ou menos felizes”. (Rilke).  Mesmo assim, você quis considerar a opinião deste “rabiscador”. Faço com prazer.

Você consegue se expressar com simplicidade, seus textos são ágeis, sintéticos e adequados à realidade de um tempo corrido. Essa pressa maluca, que não sei para que serve, ou a quem serve. A roda já foi inventada, nada de marolas. E é difícil escrever fácil (sem querer fazer clichê). Para que um maior número de pessoas entendam. Acho que o hermetismo é elitista. Personagens como A Véia do Fogo, A Véia Rota, Zé Sem Rumo, Zé Marca Hora, Ana de Pífano, Miguel Véi, Os Velosos e os Limas, entre outros são antológicos. Na sabedoria popular encontra-se o nosso conteúdo. Cada um escolhe a forma. Gostei do que li.
Porém, sempre tem um porém, acho que você provocou uma ruptura no encadeamento com os textos Tribunal Paralelo, Oprimido e Opressores e Livre-Arbitrio, que são subjetivos. É a sua visão, tudo bem, mas no meu entendimento quebrou o ritmo.
Às vezes sua narrativa é pragmática, talvez pela formação jornalística. Acho que faltou uma pitada de poesia em personagens, per si poéticos. É isso. Penso que, ao escrevermos, não podemos ser prisioneiros de gêneros, religiões (com tantos livros de auto-ajuda), ideologias. É soltar a imaginação. E você tem.
Um forte abraço do amigo de sempre.
J. Estanislau Filho