De obras originais

O amigo Fernando Mendonça me ensinou a valorizar as obras originais. Custei a compreender o por quê.

Qual a diferença, afinal, entre olhar para o quadro original do Dali ou para aquela cópia na parede da minha sala? A imagem era a mesma, senão até melhorada! :c)

Que diferença fazia se o cara tinha tocado ou não naquela tela? Eu me perguntava.

Um dia comprei meu primeiro original. Foi do Geraldo Roberto da Silva. Aí me deu um orgulho de ter aquele quadro. Mas ainda assim eu não sabia bem o por quê.

Até que uma cunhada me apresentou o mesmo argumento que eu usava para mim mesmo, sobre olhar para o quadro original ou não. A discussão girava em torno da cultura estadunidense de trazer para os EUA a cultura estrangeira, de modo que o povo (e os dólares) não precisem sair do País. Nos museus dos EUA podemos encontrar salas inteiras de Versailles. Eles compraram e montaram lá. Para que ir para a França, não é mesmo? O que, aliás, o Umberto Eco critica em "Viagem na Irrealidade Cotidiana".

Foi aí que eu perguntei para ela se ela se importava que aquele vaso sobre a mesa se quebrasse. Ela disse que sim, porque havia pertencido à vovó dela. E eu disse que ela talvez pudesse encontrar outro igualzinho, num brique. Ela disse que não seria o vaso da vovó. E eu disse que ela, então, compreendia que os objetos são formados também de contexto, de "alma". O Coliseu em Roma pode ser só um lugar cheio de pedras e fedorento, se não for revestido de História.

Foi então que eu me convenci do valor dos originais.