ADOLESCENTES PROBLEMA MEU E SEU


Na Cidade de Cabedelo (cidade portuária onde há um alto índice de gravidez precoce e prostituição infanto juvenil) próximo a João Pessoa (PB),uma equipe multiprofissional da Secretaria Estadual da Saúde da Paraíba, realizou uma oficina em saúde preventiva com um grupo de adolescentes, na faixa etária de13 a 16 anos, os quais foram previamente selecionados pela direção de uma Escola Estadual.

Numa das oficinas, foi solicitado aos participantes que elaborassem uma cartilha, contando a história de uma adolescente grávida. A dinâmica aplicada seguiu o critério de subdivisão de grupos com supervisão da equipe profissional. A cartilha foi elaborada, usando recursos de linguagem escrita, desenhos e teatro.

A curiosidade maior revelada durante os exercícios aplicados é que as histórias, de gravidez na adolescência, tinham sempre finais felizes.Uma das equipes apresentou
(com ilustrações), a seguinte história: Dois adolescentes tomavam banho nas águas mornas e calmas da praia de Cabedelo, achando que transar dentro d’água não engravida. Seguindo a história, na cartilha, a adolescente da praia ficou grávida, e o final dessa história foi feliz.

Nessa linha de narrativa foram todas as outras histórias. Os trabalhos foram encerrados
dentro dos padrões normais.De posse do material recolhido para análise oportunamente seria dado continuidade as atividades naquela comunidade .

Passado algum tempo, uma das adolescentes ligou, altas horas da noite, solicitando ajuda. Nesse momento um final feliz começou a estilhaçar no chão da realidade adolescente. Uma das adolescentes daquele grupo de trabalho, falou que sua colega estava passando mal porque tinha levado uma grande surra do pai.

O objetivo explícito da surra era provocar um aborto na filha. O objetivo não foi alcançado. O pai anunciou e cumpriu o propósito de mandar fazer um aborto na menina em uma clínica clandestina. Apesar da adolescente não concordar teve que se submeter.

Vale salientar que a mãe da adolescente ouviu a confidência da filha sobre a futura vinda do bebê, que seria seu neto, e contou ao marido. Aí se instalou o ponto de conflito entre o sonho e a realidade adolescente.

No sonho, a grave revelação encontraria apoio e perdão. Também orientação para superar aquela situação difícil e o compartilhar da alegria pela chegada do seu primeiro filho. A realidade, porém foi devastadora...

O trauma oriundo daquele trágico episódio iria repercutir em todas as áreas da vida adulta daquela jovem. Desamparada nesse mar de conflitos poderia transitar nesse circuito neurótico do erro, perda, dor, culpa e medo sem conseguir por si mesma uma atenuante para tal sofrimento. Esta situação justificou aquele telefonema desesperado.

O profissional se sente parte dessa história... Sua ação oficializada não pode se restringir a acionar o Conselho Tutelar, que nem sempre tem uma estrutura adequada para solucionar o problema. Uma opção de ação relevante é tentar trabalhar junto as famílias com aconselhamento em grupo, utilizando dinâmicas de resultado em curto prazo. No entanto ainda existe mais uma barreira... Nem sempre os pais reconhecem que precisam de ajuda para ajudar seus filhos adolescentes...

Esta é uma luta pela consciência social. Profissionais, adolescentes e pais precisam se unir para fortalecer este grupo de jovens a se tornarem cidadãos aptos a uma vida pessoal e social plena, dentro de um contexto mais saudável. A adolescência passa e se passar mal, pode significar a exclusão social e marginalidade. Adolescência é, portanto problema de todos... Transcende a área familiar e profissional e atinge o cidadão comum, que pode ajudar com denúncias e ações de trabalho voluntário.

Texto Inédito!

PROJETO: O ADOLESCENTE QUER SABER (Área da Psicologia do Adolescente).
Marize Morais- Psicóloga Clínica. João Pessoa (PB), 30.03.2007.
Direitos autorais reservados/Lei n. 9.610 de 19.02.1998.



Marize
Enviado por Marize em 30/03/2007
Reeditado em 27/11/2008
Código do texto: T431870
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