O Eu Lírico e suas prostitutas

O Eu lírico é o mentiroso de plantão, ao menos nesse caso. Ele camufla e maquia as histórias que tenho para contar, amenizando todos os fatos e desafetos que já não agradam. O Eu lírico protege tudo o que não deve, em rimas indiretas, palavras incorretas, versos mal rimados e assim por diante. Ele que toma a prostituta por rainha por mais de uma vez, se faz de cego... enxerga o belo no torto, o certo no errado. Mas afinal... quem aqui não tem um Eu lírico mentiroso?

Seja em uma virtude ou em outra, tem aqueles que seu Eu lírico exalta a fé em escritos e orações mas na verdade não tem domínio sobre si, apenas é dominado e prega o ódio. As vezes se juntam, formam coletivos de ode ou ódio, para mascarar as próprias feridas com risadas... ah pobres almas vendidas que somos quando estamos com a pena na mão. Poupamos os retalhos de gente com versos pomposos, escondemos nossas críticas em falsas análises e questionamos a nós mesmos na trova tudo aquilo que não ousamos questionar de frente ao espelho.

Ah essa figura desalmada, essa mentira em forma de rimas e versos, esse Eu lírico deformado, talvez esse lado poeta não tenha ainda acordado e viva em sua imaginação ainda ao lado da meretriz que mais tenha lhe agradado, seja qual for, pois a prática já não difere mais uma da outra, ficando apenas as diferenças nas rimas para separá-las.

Então por aqui paro de mentir, já disfarcei em verso e prosa tudo que meu coração desaprova, apesar do trabalho paralelo, que andam por ai apontando o dedo querendo rachar minha alma na ponta do cutelo... um dia eu faço um upload e mando esse meu Eu Lírico pro espaço... ou quem sabe me vingo dele também na ponta da pena... com palavra... com traço.

Tiago Silveira
Enviado por Tiago Silveira em 03/06/2013
Reeditado em 24/10/2019
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