Na ditadura as coisas eram melhores ?

Setores da classe média, ora ou outra bravejam em alta voz que no tempo da Ditadura Militar tudo funcionava melhor. O diferencial era que o nível de corrupção dessa época não chega nem aos pés dos atuais escândalos que diariamente presenciamos nos meios de comunicação de todo o país. O Brasil estava em boas mãos.

Infelizmente (ou não), os fatos históricos apontam para outra direção, demonstrando um falso moralismo ou no minimo, falta de esclarecimento por parte desses nostálgicos de plantão.

A corrupção estava presente nas estruturas de poder na época da ditadura. Desde o inicio, havia privilégios, apropriação de recursos e muita impunidade. Os militares, em seus discursos, constantemente reduziam as questões políticas para o campo da moral individual. Prometiam combater a corrupção e acabar com a “ameaça comunista” que se instaurava no país, especialmente no governo de João Goulart. Conforme diziam os sorbonistas, o remédio para todos os males (panaceia) era fazer a ‘faxina’ contra os subversivos e depois o quanto antes, devolver o poder. Duas décadas depois o problema havia sido resolvido?

Na palavra de ordem contra os corruptos, era vigente o moralismo capenga. atrelado a concepção de desonestidade específica. Mas uma série de questões, eram simplesmente ignoradas. Para eles, a corrupção estava simplesmente relacionada aos vícios produzidos por uma vida política de baixa qualidade moral, vinculada diretamente ao regime nacional desenvolvimentista.

Estimulado por uma ‘lógica salvacionista’, o próprio Marechal Castela Branco (1964-1967) prometeu dar provas da corrupção no regime anterior e numa espécie de ‘caça as bruxas’ criou o livro branco da corrupção. Mas aquilo que havia prometido, nunca vingou.

O fato é que o regime militar, a todo o momento, conviveu com a face da corrupção e inúmeros escândalos. O próprio uso institucionalizado da tortura legitimou resultados que interessavam ao regime, desencadeando processos absurdos, confissões de presos negadas, na ocultação de provas, laudos falsos, e benefícios excessivos para aqueles que faziam o trabalho de torturador.

Outros inúmeros episódios, como a Operação Capemi que ganhou concorrência suspeita para a exploração de madeira no Pará, permitem constatar atividades ilícitas Além disso, podemos apontar o desvio de verbas para a construção das chamadas obras faraônicas: Ponte Rio-Niterói e da Rodovia Transamazônica.

Fica constatado que o problema principal do Brasil, passava longe de ser somente o combate aos “subversivos”. Embora muitos insistam em negar, a corrupção atrelada ao uso sistemático da tortura política – em especial entre 1969 e 1977 – fez parte de práticas do Estado e que muitas vezes ficavam ocultas nos próprios subterrâneos da ditadura.

Esse regime de exceção, garantiu a dissipação da vida pública e quebrou o elo de confiança que possibilite ao cidadão, o direito de associação que permita a interferência nos rumos país. Apesar de que atualmente inúmeros escândalos continuem a ser noticiados, o combate efetivo a corrupção na política deve ser realizado através de mecanismos que possibilitem maior prestação de contas e transparência entre os representantes e a sociedade civil, ou seja, o remédio está no processo continuo de democratização.

**************

Referências

Revista da História da Biblioteca nacional, ano 4, edição 42

Inã Cândido
Enviado por Inã Cândido em 09/06/2013
Reeditado em 07/12/2013
Código do texto: T4332863
Classificação de conteúdo: seguro