Sobre a prática de exercícios físicos

Os exercícios de musculação podem ser efetuados de duas maneiras distintas: natural, ou geométrica. A maneira natural surge espontaneamente, sem técnica; a geométrica é aconselhada pelos instrutores.

O movimento geométrico é executado “de maneira controlada”, normalmente concentrando o esforço em um, ou poucos, músculos. O movimento natural tende a diluir a carga entre um maior conjunto de músculos, facilitando, assim, naturalmente, o exercício.

Alguns movimentos naturais são desaconselhados, podem causar lesões, devem ser evitados. Outros têm sido desaconselhados devido a uma suposta baixa “eficiência”. Acredito que essa alegação esteja, quase sempre, equivocada.

O equívoco decorre primeiramente do fato de se imaginar uma “eficiência” absoluta, um erro. A eficiência é sempre relativa a determinada grandeza; por exemplo: os exercícios feitos de maneira geométrica são mais eficientes que os naturais em relação ao número de repetições. Ou seja, caso O NÚMERO DE REPETIÇÕES seja mantido constante, o exercício geométrico propiciará mais ganho de massa muscular que o natural, razão pela qual é considerado mais eficiente.

Se um indivíduo passar a executar várias séries de exercícios de maneira geométrica ele ganhará certa quantidade de massa muscular. Caso, posteriormente, ele passe a fazer as mesmas séries de exercícios, em mesmo número, de maneira natural ele perderá um pouco dessa massa, constatação que faz com que os exercícios geométricos sejam, equivocadamente, considerados mais eficientes.

Caso, no entanto, o indivíduo passe a fazer as mesmas séries executando os movimentos de maneira natural E MANTENDO O MESMO ESFORÇO na execução do exercício, ele tenderá a ganhar uma massa muscular adicional. Isso ocorrerá porque o modo natural facilita a execução do movimento, propiciando uma redução do esforço. Dessa maneira, executando o movimento de modo natural, o atleta conseguirá fazer mais repetições, ou o mesmo número de repetições do exercício, mas com maior carga. Ou seja, caso os exercícios passem a ser feitos de forma natural, mantendo o mesmo esforço, o atleta conseguirá fazer mais exercícios, razão pela qual tenderá a ganhar mais massa muscular.

Essa conclusão, bastante óbvia, vem sendo omitida devido a uma consideração obtusa. A grandeza utilizada nas medidas relativas à qual a eficiência tem sido definida, o número de repetições, é bastante objetiva e de fácil medida. A grandeza aqui proposta, o esforço, é extremamente subjetiva, difícil de ser medida e, especialmente, de ser tratada de maneira “científica”.

Atletas de alta performance, assim como os atletas de academia que de fato desejam fazer os exercícios propostos, que não o fazem apenas por obrigação, tendem a regular seus exercícios pelo seu esforço. Estes executarão suas séries em seu limite de esforço, e só terão a ganhar executando os exercícios de maneira natural; conseguirão fazer “mais exercícios” mantendo o mesmo esforço.

O mesmo raciocínio vale para outros exercícios, como os aeróbios. Décadas atrás, alguns idealizaram dificuldades (normalmente absurdas) para a prática do esporte, como correr agasalhado em um dia quente, ou com pesos nos pés. O fundamento de práticas análogas consistia em aumentar a eficiência do exercício. O erro consistia em não observar a grandeza relativa a qual à eficiência era obtida. Dificultava-se o exercício com o intuito de torná-lo mais eficiente. Como resultado, perdia-se em atuação: mantendo o mesmo esforço, o atleta não conseguia manter suas marcas, acabando por correr uma distância menor do que o teria feito sob condições adequadas, no mesmo tempo.

Tal constatação, além de outras de ordem de saúde, acarretaram, espero, o fim de práticas estranhas e desagradáveis baseadas na otimização de uma eficiência mal definida. A simples definição da grandeza relativa à qual se deseja o ganho de eficiência teria evitado o erro. Também revelará a maior adequação dos exercícios praticados de maneira natural.