UMA LEITURA SOBRE "AS RUÍNAS CIRCULARES"

Josuelene da Silva Souza

Este comentário resultou da leitura e da discussão feitas sobre o conto Ruínas Circulares, de Jorge Luís Borges. Sua narrativa é fantástica e onírica, permitindo aos leitores diversas interpretações. Por isso, destacamos alguns elementos que nos chamou atenção.

Por que ruínas circulares? As ruínas são o entre lugar e os vestígios deixados pelas chamas do fogo e do tempo. E são circulares por representarem, o tempo, que é cíclico e primordial, fazendo repetições dos tempos: passado, presente e futuro.

O templo incendiado, o qual o mago se encontra é um templo cosmológico. Esse cosmos se apresenta um templo cinza em ruínas que “antigos incêndios devoraram”. O fogo, neste ponto de vista, torna-se um elemento que se une ao tempo circular, e, o possível eterno-retorno.

È um porto seguro para a realidade, sendo o templo, uma representação do retorno do homem aos cosmos e aos mitos como respostas para o mundo real. Este mundo está sempre em plena destruição, devido ao caos em que se encontra a humanidade. Nas palavras do magno: “No começo, os sonhos eram caóticos; pouco depois”, foram se tornando “de natureza dialética”.

A construção do mundo mítico é percebida, através do sonho do velho mago. Ele assume a obrigação de sonhar. “Sonhar um homem”, “uma alma que merecesse participar no universo.” (BORGES, 1998). O ofício de sonhar acontece como forma de cumprir o dever da criação em sua plenitude. No entanto, improvável do que sonha, o mago descobre que é também fruto de um sonho, fruto do sonho do outro que acreditava ter criado.

Assim como um artista, o mago precisa do labor para criar. E com muito trabalho, parte por parte, suor por suor, o mago dentro de um mundo de tempo cíclico, sonha com sua criação. E cercado de ritos, desejos e misticismos, o mago cria um novo ser, sua obra perfeita. Diante disso, podemos dizer que a criação literária é representada no ato criador do mago. Este é o artista, que precisa sonhar e está acordado para finalizar sua obra literária.

Referência:

BORGES, Luis Jorge. Ruínas Circulares. In: Ficções. Obras Completas. Volume 1. Editora Globo, S.A, 1998.