Serafina
Serafina, gente fina.
Era tão magra e esguia quanto, como olhar de lado uma água de rapina.
Serafina, a patroa.
As vezes gente boa, e noutras senhora dos escravos da terra da garoa.
Serafina, alienada.
Televisão ligada, com o celular na mão, internauta, sem paradeiro ou religião.
Serafina, contadora.
Juntava moedas pro pão e leite e ninava crianças tão bem, como as fadas contam nos contos.
Serafina, fofoqueira.
Sabia mais que muitos, sobre as próprias vidas e prisões sentimentais secretas.
Serafina, atordoada.
Chorava escondido, sentada na privada.
Serafina, colorida.
Usava uma meia de cada, uma calça laranja desbotada, um blusão largado granada e touca de retalhos remendada.
Serafina, barulhenta.
Batia os pratos pra guardar, as panelas pra cozinhar e as portas pra passar.
Serafina, sozinha.
Inventava problemas, sonhava com verdades e amigos pra contar.