“Humanescer” como ser humano para humano ser: conhecimentos vitais em tempos de transformação.


"(...) o amor é a disposição corporal sob a qual
uma pessoa realiza as ações que 
constituem o outro como um legitimo outro em coexistência". 

Humberto Maturana

Quem escreve e fala boas palavras deve ser reverenciado, amado e respeitado, pois quem assim se conduz e se porta é canal de Cura, Libertação, Saúde, Paz e Luz. Sempre gostei de brincar com as palavras para dar sentidos novos às ideias que me surgem, muitas vezes na madrugada, em meio aos meus sonhos e intuições, conexões com dimensões de uma esfera que nem sempre dou conta de racionalizar.
Mas aqui reside um interessante tema: será mesmo preciso racionalizar tanto assim? Ou apenas deixar fluir palavras numa escrita e fala menos densa, mas capaz de promover em cada um de nós reflexões de fato significativas? Esta curta tessitura, aqui intitulada de “Humanescer” como ser humano para humano ser: conhecimentos vitais em tempos de transformação é um exemplo do que escrevi no parágrafo anterior.
     O Florescer é um processo dos mais belos que encontramos na natureza e sempre admiro com encantamentos e alegrias as cores, as formas, as texturas, os perfumes e os sentimentos oriundos de sua magnificência. “Humanescer” como ser humano para humano ser é buscar fazer associações com este tipo de raciocínio para que nos seja possível o uso de metáforas facilitadoras de aproximações com saberes e conhecimentos vitais, em tempos como os nossos tão repletos de rápidas e incessantes mudanças e transformações.
     Se quem escreve e fala boas palavras deve ser reverenciado, amado e respeitado, pois ao assim se conduzir e portar torna-se canal de Cura, Libertação, Saúde, Paz e Luz, ao se deparar com tal tarefa como vivente imerso neste trabalho precisa seguir aprendendo e desaprendendo, atando novos nós, mas principalmente desatando outros tantos numa percepção clara de que o essencial é mudar modos antigos de lidar com as palavras, que geram pensamentos nutridores de tantas ações nossas.
     Para que nos seja possível criar, e criar expressando novos sons e melodias advindas de dimensões do divino em nossas existências, necessitamos de aprendizagens outras, referendadas em sentipensamentos mais repletos de amorosidade, de inspiradoras novas maneiras de ser e estar no mundo. Quem atua no campo da formação humana, em funções ligadas ao ato de educar pessoas, educa antes de qualquer outro movimento a si mesmo, florescendo a cada nova estação, mesmo que a primavera distante esteja.
     Somos desafiados a viver a primavera em cada uma das estações do ano para que nos seja possível caminhar na infinita estrada que nos leva do ser humano para humano ser: somos seres da incompletude e ao longo de nossos percursos de aprendências e ensinagens, nunca teremos todos os conhecimentos vitais para os enfrentamentos sempre presentes nos tempos, gestados e nascidos em perenes mudanças, transformações constantes.
     No entanto, necessitamos cuidar do nosso “Eu Sou”, do “Nós Somos”, reverenciando unicidades, singularidades, subjetividades e diversidades vislumbrando possibilidades de novas fontes inspiradoras que fiquem sempre abundantes em nossas vidas, pois precisamos cada vez mais de escritas e falas que sejam belas músicas em nossos cotidianos.
     Se já fomos taxados de utópicos por conta das nossas escolhas vocacionais ou por termos nos aproximados com mais intensidade da tarefa de humanizar a si mesmo e aos outros a partir da Educação, que sigamos em frente apesar dos desafios muitos impostos pelo cotidiano. Urge nos motivar cada dia mais para seguir adiante, importando-se menos com o “produto final” (afinal, humanescer é processo que finda algum dia?), mas colocando nossas energias vitais a favor do Belo, do Bem, dos Valores Humanos, da Ética e das Múltiplas Dimensões do Cuidado como essenciais em nossas rotinas, em nosso viver.
     A perene busca por novas elaborações vivenciais que dignifiquem nossas ações e intervenções psicossocioeducativas nos tempos e espaços institucionais que porventura estejamos atuando, a cada novo amanhecer precisam de ações nutridoras ao florescimento do humano no humano em cada um de nós, como nos ensina Edgar Morin em toda a sua obra.
     Palavras, pensamentos, ações e sentimentos criam o novo e recriam a vida no indo e vindo de nossas finitudes rumo ao infinito construir de nossa humanidade. Signos, significados, sons, letras, notas musicais, poesias, Arte, Literatura, Filosofia, entre outras tantas coisas, são criações do humano para florescer o humano em nós. Que uso fazemos de tudo que está presente em nossas múltiplas heranças culturais para sensibilizar a nos próprios e aos outros para a magia do viver, para novos olhares e escutas que sejam mais sensíveis e menos distantes do coração?
     Para “humanescer” como ser humano para humano ser, tenho apostado em reforçar alguns conhecimentos vitais nestes tempos e espaços tão repletos de mudanças e transformações: conhecer mais sobre o diálogo, sobre a escuta, sobre o acolher o diferente de mim, sobre o cuidar de si mesmo para bem cuidar o outro como legitimo outro. Com isso, buscar principalmente conhecer as emoções que se presentificam em nossas práticas vivenciais e, assim, sair da lógica competitiva que a nos foi imposta por uma cultura patriarcal que nos afastou da amorosidade vital, intensamente ausente no nosso co-emocionar e no nosso linguajear.
     Cabe nos propor, ainda, a construção de outros modos de interagirmos com nossas dificuldades, aceitando nossos “erros”, “fracassos” e compreendendo que, com as adversidades presentes em nosso viver, temos possibilidades de fazer escolhas entre desistir ou seguir em frente, pois toda crise pode ser enfrentada como oportunidade de crescimento e de ressignificação de caminhos percorridos ao longo de nossas vivências e experiências existenciais.
     Para religarmos saberes na grande teia da vida, que nasce e renasce a cada dia, é interessante nos vincularmos aos processos e movimentos que nos levem e elevem às viagens interiores que podem ser vivenciadas no coletivo, exteriorizadas e compartilhadas para fugir do egóico e nos aproximando do noético, onde conhecimentos, conceitos, crenças, habilidades e valores sejam revisitados na proposição de construção de tempos outros, com mais amorosidade e compaixão, vetores essenciais para que possamos fazer a travessia do ser humano para humano ser, rumo à sustentabilidade. Sigamos!
     Saúde e Paz para todas e todos.