BREVE ENSAIO SOBRE A MORTE

A morte é o emblema da vida. Para ela caminhamos nessa estrada sem o que não seríamos viventes. É desde que anunciamos nossa chegada, nossa estreia, nosso show neste grande palco da vida, nossa mais fiel plateia. Nunca nos abandona, porém, não se faz sempre tão presente; às vezes, principalmente quando estamos na tenra idade da infância, parece que ela, como se nos quisesse ser simpática, nos negligencia, de modo que, não nos damos conta da sua existência. Porém, ela está ali, na esquina, no último copo, no último encontro, no susto, na euforia... Ela advém do seu oposto, a vida, essa aventura a que nos atiramos tão logo damos nosso primeiro grito. Embarcamos sem bagagem numa viagem em que somos piloto e passageiro. Os obstáculos que nos fazem parar, ora, para um respiro, ora para somente por parar, ou, ainda, para que façamos uma revisão, até eles, nos impulsionam, queiramos ou não, não importa, nos impulsionam e nos obrigam a avançar.

É a vida. A vida metatransformada, metavivida; como um beija-flor que voa e para sobre a flor, mas que mantém suas asas em constantes movimentos. É a vida, frente reverso, transverso, sem crise. A vida em oposição à morte. A vida sempre de mãos dadas com a morte, como namoradas, como companheiras, irmãs siamesas. Ah! a vida. A vida como estrada onde nos colocamos em constante combate. A vida como ao barco em navegação sem fim, porém, sabe, que chegará o dia de atracar-se no porto.

Quem saberá? Quem poderá dizer quando chegará o grande encontro. Mas, até lá, que se viva a vida, que se viva cada segundo, cada minuto para que a vida tenha sentido, para que, quando a morte chegar, não causa medo, nem dor. Que seja um dia como tantos outros, porém, que seja especial, assim como foi quando à vida veio.

Então, até lá, que a poesia e a amizade floresçam. Que a chuva venha, que o sol venha, que venha a primavera, o outono e o verão, que quando for inverno, que nos aqueçamos nos corações dos amigos, que brindamos à vida e a tudo que ela nos oferece, para que a morte, quando nos visitar, seja recebida como um visitante ilustre e esperado, posto que, sendo a vida essa viagem a que nos aventuramos tão logo nascemos, a morte, a parada obrigatória.