PENSAMENTO DIFUSO 1(com certo viés realista da Política)

Pensamento 1: Nada está acabado, até começar de novo. Essa premissa, imbatível na sua essência, impõe a aceitação inconteste de que o estar sempre “começando”, e não recomeçando, determina que houve um “fim”, um término para que, felizmente, a roda da vida (da política), dada sua dinâmica, não cesse. O recomeçar, ao contrário, nos parece que, o contingente “fim” nunca chega, como Sísifo, nos obrigando ao eterno reinício. Começar, para nós, é a força motriz, a vontade de potência; por isso, nos impulsiona sempre ao avanço (pra frente). Porém, o resultado, ou saldo, podem variar influenciando, inclusive, nos próximos passos. A essa dinâmica própria da política, cuja obrigação consiste em proporcionar meios para que o Homem co-exista em harmonia com a natureza, faz da política uma atividade essencialmente humana; o Homem é um animal político. E ainda, para que as dificuldades que a vida impõe, sejam superadas para o bem comum, reafirma-la, não nos parece possível noutro campo senão no da política; é o que a torna imprescindível para que a existência humana adquira sentido. É isso que faz da política ser tão fundamental para a vida. A vida sem a política, não seria vida na concepção do existir para e por algo, mas, tão somente, existir por existir.

Dentro dessa concepção a vida, o existir por existir, própria do desajustamento com a realidade circundante, não teria outra salvação; a não ser se relegada a outro plano, etéreo e abstrato, que satisfizesse, não mais os desejos e anseios terrenos - muitas vezes veículos de dores e lamentos sem fim - , mas, somente aqueles em que se projeta, não mais no plano material, concreto, da existência; mas a outra dimensão que não reivindica prova.

O que nos empurra para outra linha do argumento: sendo a existência pautada por aquilo que se entende concreto, mesmo que, a despeito de conjecturas existencialistas, não nos parecerá despropositada a assertiva de que o pautamento da vida por raciocínios etéreos, em oposição, ao material, nos obriga, por coerência filosófica, colocar em xeque toda “ideologia” da religião, como condição sine qua non, para que se chegue à termo os dilemas que a vida nos apresenta. Somente colocada sob a égide da política, é que a vida se rompe, é quando, desabitada do casulo da religião, a vida se habilita para o enfrentamento – para a batalha – pela sobrevivência. Delegar somente à religião todo o universo da vida, em contraste com a política, parecerá um retorno ao mito da caverna. Todavia, enfrentar a vida, não significa ignorar os obstáculos e, simplesmente, deixar que o “rearranjo” se dê de forma mágica.

Acreditar que a vida segue seu curso, como o leito do rio, sem que o enfrentamento se coloque como meio possível e necessário, nos parece dissociar a política como ferramenta fundamental para o embate. Disso resulta que o caminho estará livre para que a religião preencha o vazio deixado pela ausência da política. Religião aqui entendida não só aquela assentada sobre seres divinos, mas, toda forma de imposição de soluções sem se levar em conta o Homem, único detentor de saberes para resolver tudo o que lhe causa sofrimento.

Estabelecidas as diferenças, não resta outra alternativa senão fazer a opção. Porém, feita, é de fundamental importância a compreensão, de ambos os lados, da visão de mundo da cada qual. Afinal, se a religião pode significar “cegueira”, pode a política parecer pautada somente por interesses corporativistas; ambas opiniões, queira-se ou não, trazem em si a necessidade de se começar de novo, ou, dito de outra maneira: trata-se de se reinventar a vida todo dia.